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Após doença da mãe, ela prometeu ir a todas as Copas: 'Qatar é a terceira'

A humorista Hela Cerqut, de Salvador, na Copa da Rússia - Arquivo pessoal
A humorista Hela Cerqut, de Salvador, na Copa da Rússia Imagem: Arquivo pessoal

Fernando Barros

Colaboração para Universa, em Salvador

20/11/2022 12h54

A Copa do Mundo começa neste domingo (20) no Qatar e, se depender da torcida e empolgação da humorista Hela Cerqut, 34 anos, de Salvador, o torneio será marcado dessa vez pelo hexa brasileiro. A baiana embarcou rumo ao país árabe na quinta-feira (17) para assistir de pertinho aos jogos da seleção, dando continuidade a uma promessa feita no Mundial de 2014.

Naquele ano, em que a Copa foi sediada no Brasil, Hela viveu um dos períodos mais difíceis da sua vida. Sua mãe foi diagnosticada com um câncer em estágio avançado. "Ela ficou acamada, passei a lhe dar assistência e cuidar de tudo em casa", lembra. Com a doença evoluindo rapidamente, Hela, então com 26 anos, prometeu que, se os sintomas da mãe amenizassem, ela iria para todas as Copas in loco até completar 50 anos.

O quadro de saúde da mãe melhorou e os jogos do Mundial passaram, assim, a ser um momento de refúgio. "Tenho uma família muito parceira: quando chegava algum parente em casa para visitar minha mãe, eu aproveitava para ir ver a Copa na rua. Instalaram um telão oficial da FIFA na região em que eu morava na época em Salvador e ali eu entrava em um mundo paralelo. Saía um pouco daquela atmosfera de dor e tristeza que eu estava vivendo e me recarregava para voltar mais forte e inteira", diz Hela.

Com o apoio da família e da própria mãe, que sabia que a filha era apaixonada por Copas do Mundo, Hela chegou a ir para o Rio de Janeiro para assistir na cidade a final entre Alemanha e Argentina em 2014. "Foi um momento único. A cidade estava tomada por argentinos e eu fui ver a partida em Copacabana fantasiada de alemã", recorda.

"Perdi minha mãe na Copa da Rússia, mas segui com a promessa"

Em 2018, após se planejar financeiramente e organizar sua vida em casa e no trabalho, Hela começou os preparativos para viajar para a Rússia. "Sou advogada de formação e na época eu tinha um escritório de advocacia, então tive que treinar equipe e deixar tudo programado para a minha ausência. Lembro que no dia da minha viagem, eu fui de 'mala e cuia' para o escritório e trabalhei até a hora de ir para o aeroporto para deixar tudo encaminhado", relata.

O sonho, no entanto, teve que ser interrompido, pois, durante a sua estadia em solo russo, o quadro da mãe piorou aqui no Brasil e ela voltou imediatamente para Salvador.

"Minha mãe foi internada na UTI e pouco depois faleceu. Foi muito triste, mas uma tia e uma amiga me disseram depois do enterro que não tinha mais nada para eu fazer aqui e que o sonho de minha mãe era me ver feliz, realizando meus sonhos. Com essa mensagem em mente, voltei para a Rússia", conta.

"Dividi tela com Galvão Bueno na TV, vestida de paquita"

De volta ao país sede da Copa em 2018, Hela, com sua irreverência característica, chamou a atenção. Tanto que foi parar numa transmissão ao vivo da TV Globo ao lado de Galvão Bueno. "Eu estava com uma fantasia de paquita que havia preparado especialmente para essa Copa e um cartaz na mão onde se lia os nomes de algumas seleções que já tinham sido eliminadas formando a palavra hexa. De repente, um repórter me parou e perguntou se podia me gravar explicando aquilo", recorda.

Hela aceitou e, logo depois começou a receber um turbilhão de mensagens no celular. "Era o povo enlouquecido dizendo que eu estava na TV dividindo tela com o Galvão Bueno. Todo mundo estava me assistindo. Meu irmão que estava em casa com meu pai não sabia se me via falando na transmissão ou se acudia meu pai que estava eufórico, parecendo que ia infartar, pulando e gritando por todo canto ao me ver na Globo", diverte-se.

Vários looks especiais para o Catar: "Já gastei cerca de R$ 30 mil"

Quatro anos depois, Hela segue firme na sua promessa e vai ao Qatar. Não sem antes ponderar muito. "Como é um país árabe com costumes próprios, primeiro fui pesquisar e entender um pouco a cultura e as normas de lá, principalmente em relação à mulher. Na Rússia, comprei minha passagem com dez meses de antecedência. Para o Qatar, comprei há cinco meses apenas, porque estava decidindo se iria mesmo, por conta das restrições", conta.

Hela vestida de paquita na Copa de 2018 - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Hela vestida de paquita na Copa de 2018
Imagem: Acervo pessoal

Uma das coisas que ela precisou adaptar para o mundial no Catar foram as suas roupas. Hela, que diz gostar de usar tops e shortinhos, está levando peças que cubram mais o corpo, como capas e coletes. No país sede da Copa deste ano, as mulheres não podem andar com os ombros à mostra, por exemplo. Pernas só do joelho para baixo.

"Para compensar, estou apostando em tecidos mais leves, rodei de cabo a rabo a Avenida Sete [tradicional comércio de rua em Salvador] para encontrá-los e conversei com a costureira que faz minhas fantasias, para ficar tudo dentro dos conformes", diz.

Hela preparou três figurinos especiais para os jogos do Brasil na primeira fase. Um é o já conhecido traje azul de paquita que apareceu na TV na Copa de 2018, só que agora adaptado sem cortes sinuosos nem pernas de fora. Outro é um conjunto em estampa de onça colorida e o terceiro uma fantasia verde e amarela com uma espécie de cocar azul em homenagem ao mascote da seleção brasileira, o Canarinho Pistola. "A galera já batizou esse último look de 'Periquita Pistola'. Agora eu que lute com os memes que surgirão", diz a humorista.

Há ainda um quarto figurino reservado exclusivamente para a final do mundial, mas sobre esse a baiana faz segredo. "É uma surpresa!". Com ingressos comprados para os três primeiros jogos da Seleção e também para a disputa da final, e considerando os custos com hospedagem, figurinos, entre outros, Hela afirma que gastou até agora cerca de R$ 30 mil para o Qatar.

O valor já é mais do que o dobro do que ela gastou em 2018. Na Rússia, os gastos da baiana ficaram em torno de R$ 13 mil, sendo cerca de R$ 2 mil só com bebidas alcoólicas, segundo Hela. "A vodca russa estava com o preço da nossa 'Caninha da Roça'. Não resisti", brinca.

Copa deste ano marca início da carreira artística

A paixão de Hela pelos mundiais começou ainda na infância, torcendo em casa junto com a família. "A primeira lembrança que tenho da Copa é a de 1994, quando meu pai colocou um telão no condomínio em que morávamos, chamou todo mundo e foi aquela farra."

De lá para cá, a a baiana não conseguiu mais se desvencilhar da atmosfera que envolve a Copa do Mundo. "É uma sensação tão boa de união, de ver as pessoas torcendo, vibrando, com leveza. Quando um time perde, o outro respeita a sua dor. É lindo", diz.

Com histórias marcantes atravessando sua relação com o torneio, para essa torcedora, cada Copa representa um marco em sua vida: desde a que ela soube que a mãe estava doente até a que se despediu e seguiu em frente. Agora, a do Catar representa o início de um novo ciclo. Tendo seguido a carreira de advogada durante dez anos, em maio deste ano, Hela largou o escritório para se dedicar à carreira artística.

Mas não foi só de profissão que ela mudou, seu nome acompanhou a mudança. Batizada Luana Cerqueira, a baiana adotou "Hela" como seu nome artístico. "É pequeno, único, simples e marcante. O significado tem a ver com luz, iluminar, e isso é perfeito já que quero trabalhar com entretenimento e alegrar as pessoas", destaca. O "Cerqut" foi uma adaptação do sobrenome original.

Para acompanhar esse momento, ela criou um novo perfil no Instagram e já avisa que quer todo mundo acompanhando suas aventuras no Qatar. Com alegria e bom humor de sobra, Hela garante que este ano o hexa vem. "É a minha terceira copa in loco e a primeira que vou oficialmente como artista. Agora, a seleção tem que ganhar. Vai dar certo. Trago essa taça para o Brasil nem que eu tenha que pegar e sair correndo", diverte-se.