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Jornalista critica 'excesso de espaço' de Janja e é acusada de machismo

De Universa, em São Paulo

12/11/2022 16h03

A jornalista Eliane Cantanhede, comentarista da Globo News, criticou a presença constante de Janja, mulher de Lula (PT), nos compromissos que envolvem a transição do governo para que o petista assuma a Presidência em 2023. Durante o jornal "Em Pauta", ela afirmou que existe um "incômodo com o excesso de espaço" que a próxima primeira-dama vem ocupando.

"Quando o Lula fez aquele discurso em que ele chorou, quando falou da fome, quando ele derrapou ao criticar a estabilidade fiscal, o teto de gastos e etc, ela estava ali sentada. Mas ela não é presidente do PT, ela não é líder política, não é presidente de partido, enfim, por que ela estava ali? Qual é o papel da primeira-dama?", questionou a jornalista na sexta-feira (11).

Além disso, Eliane também afirmou que a forma como Janja tem se posicionado ao lado do presidente eleito pode "dar confusão". "Ela já começou a participar de reunião, já vai dar palpite e daqui a pouco ela vai dizer quem pode ser ministro. Isso dá confusão. Se é assim na transição, imagina quando virar primeira-dama."

A comentarista ainda comparou a atuação de Janja com a de outras mulheres que já ocuparam o posto de primeira-dama do Brasil. Ao citar Ruth Cardoso [1930-2008], mulher de Fernando Henrique Cardoso, a jornalista disse que ela "não tinha protagonismo, não tinha voz nas decisões políticas e, se tinha, era a quatro chaves dentro do quarto do casal".

janja - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Rosângela da Silva, a Janja, esposa de Lula e próxima primeira-dama
Imagem: Reprodução/Instagram

"Eu acho que o bom exemplo de primeira-dama foi a Ruth Cardoso, que, como a Janja, tinha o brilho próprio. Era professora universitária, uma mulher respeitada na área dela, mas não tinha protagonismo", afirmou.

"A gente tem vários exemplos [de primeira-dama], desde a ditadura militar, dona Yolanda Costa e Silva, supermaquiada e artificial. Tinha a mulher do Geisel, que era muito discreta, dona de casa, depois, com a redemocratização, tem a Rosane Collor jogando a aliança fora, fazendo confusão, e aí todo dia tinha briga, ou seja, isso não é bom", afirmou Eliane.

A presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann usou o Twitter para se posicionar contra o comentário da jornalista. "Me apavora o machismo incrustado na cabeça de mulheres ditas esclarecidas", afirmou ela, que chamou de "desprezível" a fala de Eliane.

"Ter opinião e participação política é direito de TODAS nós mulheres! Sem essa de primeira-dama", afirmou Gleisi Hoffmann.

O comentário também não foi bem recebido nas redes e a frase "respeita a Janja" acabou entre os assuntos mais comentados do Twitter, em postagens que destacavam a fala de Eliane como machista, misógina e reacionária. Outros posts destacaram a qualidade da futura primeira-dama, como o youtuber Felipe Neto, que lembrou que Janja é socióloga e que "é um orgulho para o Brasil tê-la como primeira-dama".

Feminismo na vida inteira

Em entrevista a Universa, Eliane rebateu o comentário da deputada e afirmou que é "injusto" e "ridículo" atribuir machismo à fala. "Alguém falar de 'machismo incrustado' comigo não é só injusto, é ridículo. Meu feminismo está no DNA e na vida inteira. Elogiei Janja, apenas distingui relação pessoal de função pública", disse.

A jornalista também destacou que Janja "tem méritos, tem opinião e tem força junto a Lula", mas que foi o petista quem venceu a eleição. Eliane também reafirmou que o envolvimento da futura primeira-dama nas funções públicas "costuma dar confusão".

"A Janja é uma socióloga, uma mulher de posições, com sólido vínculo com o PT, e conheceu Lula na dolorosa situação da cadeia. Maridos, mulheres e filhos podem sempre opinar, influenciar, obviamente, mas não ocupar funções públicas que não lhes competem. E continuo achando que a professora Ruth Cardoso é uma boa referência de como manter posições, independência e participação sem invadir espaços de quem foi eleito", afirmou Eliane.

Quem é Janja

Nascida dia 27 de agosto de 1966, em União da Vitória, Paraná e formada em ciências sociais pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), Janja também se especializou em história e gestão social e desenvolvimento sustentável. Há 19 anos, trabalha na Itaipu Binacional, onde desenvolveu o projeto de Desenvolvimento Sustentável no oeste do Paraná e também foi assessora de comunicação e relações institucionais na Eletrobrás por quase quatro anos.

Janja é filiada ao PT desde 1983 e fez parte da vigília que acompanhou os 580 dias em que Lula ficou preso em Curitiba. Apesar de estarem juntos desde 2018, ano da condenação do agora presidente eleito, a primeira aparição pública do casal só aconteceu em 2019, quando o petista foi colocado em liberdade. Os dois se casaram em maio deste ano, em uma cerimônia reservada.

Nos comícios de que participou com Lula, Janja falou mais de uma vez sobre querer voltar seus esforços para combater a fome no país. Ela usa um termo específico: "segurança alimentar", que diz respeito a um trabalho governamental visando garantir a alimentação do povo de maneira contínua, com programas e políticas públicas específicas.

"Se eu puder contribuir em alguma coisa nessa campanha, nesse governo, vai ser justamente na questão da segurança alimentar voltada para as mulheres", declarou ela em abril, durante um encontro com eleitores no bairro da Brasilândia, em São Paulo.