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Quanto dinheiro você precisa juntar para pedir demissão?

andresr/Getty Images
Imagem: andresr/Getty Images

Beatriz Pacheco

Colaboração para Universa, em São Paulo

15/09/2022 04h00

O pedido de demissão não precisa ser a gota d'água. Se bem planejado, pode ser um movimento estratégico para dar uma guinada na vida. Mas, para garantir o equilíbrio mental e financeiro durante esse período —um sabático, quem sabe?—, a decisão deve ser tomada com antecedência. Tempo suficiente para fazer uma reserva de três a seis vezes o valor dos gastos mensais, de acordo com Lai Santiago, educadora financeira da fintech Open Co.

Esse montante deve trazer algum conforto para esse tempo, mas não é a único fator a ser considerado. O planejamento financeiro e familiar é imprescindível para mapear alternativas nesse cenário, o que ajuda a acalmar os ânimos e a curtir o descanso. Pensando nisso, Universa traz um passo a passo para ajudar você a começar a tirar os planos do papel e fugir das armadilhas de uma demissão mal arquitetada.

Como começar a juntar dinheiro?

Nada de cortar o cafezinho. Nessa hora, é preciso pensar em economias maiores e mais duradouras, como trocar o carro por um modelo mais barato ou vender um bem para quitar um financiamento.

Além disso, os pequenos gastos com lazer, como a ida a uma festa ou a assinatura de um streaming, são respiros na nossa rotina. Cortar esses momentos gera uma sobrecarga de estresse, o que pode desencadear decisões financeiras impulsivas e, consequentemente, piores, garante a educadora financeira.

"Faz mais sentido olhar para gastos significativos, como mudar de casa para sair de um aluguel muito caro, por exemplo." Os movimentos estratégicos nas despesas exigem um esforço inicial maior e, portanto, devem ser feitos enquanto ainda se está no emprego. "É a partir desse orçamento remodelado que calculamos a reserva necessária para o momento da demissão", diz Lai.

Um planejamento de todos

Quando o pedido de demissão impacta mais gente, a decisão precisa ser conversada. A dificuldade de ser transparente sobre os próprios sentimentos pode prejudicar até os relacionamentos nesse momento.

"É importante que, no caso de famílias com filhos, até as crianças saibam o que está acontecendo, assim elas têm mais noção de equilibrar os pedidos", avalia Lai. A transferência para escolas com mensalidades mais em conta pode fazer parte da nova realidade da família, mesmo que temporariamente. Nesses casos, priorizar os gastos depende de avaliações subjetivas, e cada um precisa entender o que é negociável ou não.

"Com diálogo e o engajamento da família, a chance de sucesso é mais alta e a tendência é de se recuperar mais rapidamente, porque a reserva financeira dura mais tempo", explica.

Afinal, quanto devo guardar?

No cenário básico, a reserva financeira para a demissão deve equivaler à soma de três a seis vezes os gastos mensais. Trocando em miúdos: uma pessoa que tenha despesas de R$ 7 mil por mês, por exemplo, deve juntar entre R$ 21 mil e R$ 42 mil antes de se demitir.

Neste cálculo, deve entrar tudo, das contas fixas aos gastos supérfluos. "A definição do que é necessário —uma reserva de três ou seis vezes os gastos— depende da realidade pós-demissão. Se a pessoa tem direito ao auxílio desemprego, por exemplo, ela pode juntar o mínimo, já que o benefício complementa o orçamento nesse período", afirma a especialista.

Se houver planos de viagens e outros projetos, essas despesas extras devem ser somadas ao cálculo básico. Por outro lado, ter uma reserva anterior ou reduzir as despesas fixas ajuda nesse processo.

Cabe fonte de renda extra?

Pode parecer uma resposta óbvia, mas não é: a renda extra não compensa quando leva a pessoa ao desgaste. "O adoecimento mental relacionado ao trabalho está cada vez mais comum, então é preciso olhar para essa rotina com mais sensibilidade e criticidade", pondera Lai.

Quase 6,5 milhões de brasileiros pediram demissão entre julho do ano passado e julho deste ano, segundo o levantamento da LCA Consultores com os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O contexto de pandemia e a retomada ao trabalho presencial contribuíram para levar muitos desses profissionais à exaustão. Então quando a atividade da renda extra rouba os momentos que a pessoa tem para descanso, não vale a pena.

Há ainda um segundo critério para avaliar essa questão: o balanço financeiro. É preciso separar as contas da casa e a do empreendimento. "A partir daí, veremos com clareza as finanças e conseguiremos avaliar se a atividade está sendo vantajosa. Em especial, se não estamos pagando para trabalhar."