Topo

'Hacker do bem': ela criou maior maratona de programação da América Latina

A carioca Lindalia Junqueira, 57 anos, é a criadora do Hacking Rio, maior evento de programação da América Latina - Divulgação
A carioca Lindalia Junqueira, 57 anos, é a criadora do Hacking Rio, maior evento de programação da América Latina Imagem: Divulgação

Caroline Marino

Colaboração para Universa, de São Paulo

29/08/2022 04h00

Filha de pais portugueses, a carioca Lindalia Junqueira, 57, teve uma infância com poucos recursos, mas determinação nunca faltou. Correu atrás de bolsas de estudos e se dedicou para se formar em engenharia e fazer especializações nos Estados Unidos e, assim, buscar oportunidades no universo da tecnologia. Chegou a trabalhar em grandes empresas, como a Globo, onde criou a primeira área de inovação aberta do Brasil. Mas ela queria ir além.

Seu objetivo era ajudar na formação de uma geração interessada em tecnologia da informação ao mesmo tempo em que auxiliava outras mulheres a ganhar espaço na área, ainda muito restrita aos homens. Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, apenas 20% dos profissionais de TI são do sexo feminino.

Ao lado de outros empreendedores, ela fundou, em 2017, o movimento social Juntos pelo Rio para unir o ecossistema de inovação, tecnologia e empreendedorismo. Para isso, criou um coletivo de hackathons, maratona de programação na qual hackers se reúnem por horas para desenvolver soluções de base digital para desafios reais do mercado e da sociedade.

"Aquele bichinho que já estava dentro de mim, de sempre ajudar, se tornou muito maior", diz. E foi como uma alavanca para a criação, um ano depois, do Hacking Rio, maior maratona de programação da América Latina que caminha para a quinta edição.

Lindalia também é fundadora da Ions Innovation, que atua com consultoria e capacitação de inovação, tecnologia e empreendedorismo, e embaixadora oficial no Brasil do Global Women in Tech, organização internacional sem fins lucrativos com a missão de diminuir a diferença de gênero na área tecnológica. "Atuo para ajudar mais mulheres a empreenderem com as novas tecnologias. Ainda somos minoria e precisamos mudar essa realidade."

Maratona de hackers do bem

O Hacking Rio reúne equipes multidisciplinares de três a cinco pessoas para a criação de um MVP (Mínimo Produto Viável) funcional, ou seja, um aplicativo, uma API (Interface de Programação de Aplicações), um marketplace ou um algoritmo que funcione de verdade e seja validado pelos usuários. As soluções devem ser pensadas para um contexto específico em um desafio lançado naquele ano.

Lindalia - Divulgação - Divulgação
Lindalia: 'Nossa missão é longa. Além dos hackathons, também vamos promover conversas e cursos gratuitos'
Imagem: Divulgação

"Em um hackathon tudo acontece muito rápido. Ao longo dessas edições já tivemos a criação de soluções para melhorar a mobilidade da comunidade da Rocinha, a reciclagem de lixo, e até para mapear hospitais durante a pandemia. São soluções que continuaram sendo desenvolvidas e ganharam prêmios fora do país", conta Lindalia.

Segundo ela, o Hacking Rio é só o início de uma jornada de aprendizado, estudo e empreendedorismo desses jovens. "Nossa quinta edição é a confirmação de que ele é mais do que um evento, mas uma forma de ajudar o ecossistema", conta a empreendedora.

Quebrando padrões

Com o Hacking Rio, Lindalia quer impactar ainda mais pessoas. "Nossa missão é longa. Além dos hackathons, também vamos promover conversas e cursos gratuitos. Queremos fortalecer cada vez mais o ecossistema, criando uma base educacional. Planejamos criar dentro do evento uma área de match dos profissionais com as vagas do mercado. E, sem dúvida, quero continuar expandindo esse movimento do Women in Tech por todo o Brasil", ressalta.

Hackaton - Divulgação - Divulgação
O Hacking Rio reúne equipes multidisciplinares de três a cinco pessoas para a criação de um MVP (Mínimo Produto Viável)
Imagem: Divulgação

O caminho até aqui, claro, não foi fácil. "Não existe empreendedor que não tenha encontrado desafios e dificuldades. Eu sempre fui a única mulher em um ambiente masculino. Muitas vezes, tive de lutar para ser ouvida. Mas, com o tempo, aprendi a me colocar, sem precisar brigar. Eu transformei essa dificuldade de ser mulher no ambiente de tecnologia em uma vantagem competitiva. Agora as pessoas querem e sentem a importância de ter diversidade", conta Lindalia.

A empreendedora destaca algumas características fundamentais nesse processo. "O mais importante foi ter coragem e ousadia para dar os primeiros passos", diz. Outro ponto essencial foi saber trabalhar em colaboração. "Não existe inovação sem compartilhamento e troca de ideias", diz. Além disso, Lindalia destaca uma dose extra de confiança para continuar a caminhada, certa de que esse é o caminho para promover mais diversidade. "Quando uma mulher cresce, todo o ecossistema cresce com ela."