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OPINIÃO

As lições que nossas filhas não deveriam aprender na escola

sala de aula vazia - MChe Lee/Unsplash
sala de aula vazia Imagem: MChe Lee/Unsplash

De Universa, em São Paulo

01/04/2022 07h00

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No último dia 21 de março, Eloah, 13 anos, prendeu o cabelo em um coque para ir à escola. Mas naquele dia não pôde nem passar do portão - culpa do cabelo. Ela ainda tentou prender de outro jeito, mas o bedel lhe disse que não adiantava, porque estava "inchado". A menina, que é negra e tem cabelos crespos, chegou em casa aos prantos. Sua mãe, Jaciara, procurou a direção da escola. E ouviu que "regras são regras". O colégio municipal em que estuda, o Dr. João Paim, em São Sebastião do Passé (BA), faz parte do Sistema de Ensino dos Colégios da Polícia Militar, que exige que garotas usem cabelos presos.

Já no dia 8 de março - sim, querida leitora, o Dia Internacional da Mulher - Carolina*, 17 anos, do Colégio Anglo Morumbi, instituição de ensino particular da cidade de São Paulo, não teve problemas para entrar na escola. Mas, ao passar pelo portão, recebeu de "presente" dos funcionários um bombom e um voucher para duas sessões gratuitas para uma lipo sem cortes numa clínica de estética do bairro. (No site do estabelecimento, ficamos sabendo que esse procedimento modela o corpo, diminui gordura localizada e medidas.) A estudante ficou p... da vida. Ela diz que tem várias amigas com algum grau de transtorno alimentar ou que não se sentem bem com o próprio corpo.

Embora sejam histórias muito diferentes em diversos aspectos, são equivalentes em carga simbólica. Para além do grave racismo sofrido por Eloah, levam às meninas adolescentes a mensagem da inadequação. De que mulheres devem ser moldadas para se encaixarem em padrões aceitáveis. O do cabelo "murcho", o dos contornos sem depósitos de gordura, algo tão natural quanto o corpo humano. "A adolescência é um momento de mudanças, em que muitas meninas sofrem com a pressão estética", disse a psicóloga especialista em gênero e sexualidade Elânia Francisca à repórter Rute Pina, de Universa.

Nos dois casos, as escolas parecem não ter compreendido a gravidade de seus atos. O Anglo Morumbi disse que a ação foi "uma forma de demonstrar carinho"; a prefeitura da cidade de São Sebastião do Passé, em nota, afirmou que "a aluna e seu responsável já são conhecedores de todas as normas vigentes na escola".

Imagino que o fato de os casos terem vindo a público tenha provocado reflexão em educadores, professores, pais e alunos. Escola deve incluir; lembrar as garotas das conquistas que as mulheres tiveram ao longo das décadas. Que histórias como as de Eloah e Carolina não se repitam. Ou, ao menos, sirvam de lição.


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