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Ativistas negras reagem a fala de Regina Duarte sobre "consciência branca"

A colunista de Universa Cris Guterres: “Não falar de racismo não fará com que ele deixe de existir”. - NathalieBohm/TV Cultura
A colunista de Universa Cris Guterres: “Não falar de racismo não fará com que ele deixe de existir”. Imagem: NathalieBohm/TV Cultura

De Universa

22/11/2021 16h08

No último domingo (21), durante o final de semana marcado pelo feriado do Dia da Consciência Negra, Regina Duarte usou as redes sociais para postar um conteúdo considerado racista. A atriz e ex-secretária especial da Cultura do governo Jair Bolsonaro (sem partido), de 74 anos, escreveu: "Quando teremos o dia da consciência branca, amarela, parda?". Em seguida, minimizou as causas antirracistas: "Quanto tempo vamos ainda nos vitimizar ao peso de anos, de séculos de dor por culpas antepassadas?".

Para ilustrar o post, Regina usou um vídeo antigo do ator norte-americano Morgan Freeman no qual ele diz, em entrevista, que para "combater o racismo é melhor não falar do tema". A atriz não citou, em seu post, que Morgan reviu seu posicionamento e aderiu ao movimento Black Lives Matter, pedindo a seguidores que contassem sobre histórias de racismo que já sofreram.

Em razão da fala, o nome da atriz ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter. A seguir, ativistas negras entrevistadas por Universa reagem à declaração de Regina.

"Silenciar é o mesmo que insistir na lógica de subalternidade da população negra"

Cris Guterres é colunista de Universa - Mariana Pekin/UOL - Mariana Pekin/UOL
Cris Guterres é colunista de Universa
Imagem: Mariana Pekin/UOL

"A Regina Duarte cometeu um ingrato equívoco ao se pronunciar nas redes sociais em favor do que chamou de 'dia da consciência branca', utilizando um vídeo do Morgan Freeman como justificativa — sendo que o próprio ator já se arrependeu da resposta que deu durante a entrevista em questão.

Assim como ela, a branquitude brasileira adora usar citações de Freeman na tentativa de desqualificar a luta antirracista. Não falar de racismo não fará com que ele deixe de existir. Se silenciarmos, iremos insistir na lógica de subalternidade do povo negro que gera o aniquilamento desta população.

Nos últimos anos, em razão dos seus atos e posicionamentos, Regina Duarte conseguiu transformar sua carreira de 'eterna namoradinha do Brasil' em eterna boçal do Brasil".

Cris Guterres, 40 anos, jornalista e colunista de Universa, de São Paulo

"O problema não é só o passado, é também o presente"

Elisângela é psicóloga e alerta para os danos psíquicos do racismo - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Elisângela é psicóloga e alerta para os danos psíquicos do racismo
Imagem: Acervo pessoal

"Diante de palavras fortes e cheias de preconceito, vindas de uma figura pública que já representou o ministério da Cultura, só posso dizer que falta conhecimento sobre a questão. O problema não é o passado, como disse Regina, mas, sim, o presente. Classificar a dor do outro como vitimização é uma falta de empatia.

Infelizmente o racismo existe e está presente nas escolas, nos ambientes de trabalho e de lazer, nos supermercados e nas grandes lojas, com olhares 'acusadores' vindo dos outros, algo que traz danos psíquicos às vítimas.

Apesar da prática do racismo ser um crime, ele ainda é encoberto e mascarado. É preciso permanecer e resistir diante de uma fala como esta."

Elisangela Pereira de Lacerda, 40 anos, psicóloga, de São Paulo

"É uma figura que não nos afeta faz tempo"

Ana Caroline é influencer e criadora de conteúdo - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Ana Caroline é influencer e criadora de conteúdo
Imagem: Acervo pessoal

"O que vem de Regina Duarte não nos afeta faz tempo. Ela é um retrocesso pela trajetória que escolheu traçar, de uns tempos para cá, em termos políticos. O Dia da Consciência Negra vem para reafirmar que estamos vivos, estamos potentes e preparados para embates diários. Essa data simboliza uma resistência para nós.

Agora, alguém vir perguntar por que brancos não têm um dia só para eles? Quantos dias mais essas pessoas querem? Já não chega de inúmeros privilégios e domínio sobre nossos corpos?

Ler esse tipo de coisa só me faz pensar que estamos incomodando a branquitude. E, se estamos incomodando, é porque está dando certo. Uma fala desse tipo só demonstra que a pessoa é racista."

Ana Caroline Inácio, 26 anos, criadora de conteúdo, de Colatina (ES)