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Realizei o sonho do pixie e estou aprendendo a lidar com minha feminilidade

"Há tempos queria cortar o cabelo bem curtinho, mas tinha receio do julgamento dos outros" - Arquivo pessoal
"Há tempos queria cortar o cabelo bem curtinho, mas tinha receio do julgamento dos outros" Imagem: Arquivo pessoal

Amanda Bittencourt

em depoimento a Fernanda Morelli

16/11/2020 04h00

Quem me conhece sabe o quanto o cabelo sempre foi um lugar de questionamento forte pra mim. Talvez por isso eu tenha mudado o look tantas vezes. Se não estou feliz com o corte, tento um novo xampu ou um finalizador diferente. Se percebo que não era isso que eu queria, vou e experimento uma nova cor — vivo em um estado constante de inquietação e não tenho medo nenhum de mudar. Às vezes sofro, às vezes amo.

Olhando para a trajetória do meu cabelo, posso dizer que sempre fui uma adepta do curto e do médio. Poucas vezes usei ele longo. Na verdade, teve uma única fase da minha vida que deixei com que os fios passassem da altura do meu peito — na pré-adolescência. Mas durou pouco, pois logo em seguida cortei chanel.

De um tempo para cá a inquietação com o meu cabelo se intensificou e a vontade de cortar bem curtinho foi crescendo muito. Minha mãe tem o cabelo pixie e, com essa inspiração dentro de casa, comecei a considerar adotar o estilo também.

Vinha pensando há anos, mas faltava coragem para abraçar a ideia. O que mais me impedia era um sentimento de 'não fazer parte do feminino'. O julgamento das pessoas era outra questão que me tirava a coragem, não posso negar. Sair desse padrão que, de certa forma, nos é imposto não é um processo fácil.

O primeiro passo

Apesar de ser uma pessoa a favor de mudanças, também tinha, no fundo, muito medo de me arrepender. Então tracei uma estratégia: depois de cerca de dois anos com o cabelo na altura do ombro, cortei um pixie alongado, com volume e outros traços mais "femininos" para ver como eu me sentia antes do estilo radical.

Amanda - curto 1 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Amanda - curto 2 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Foi importante não ter cortado de uma vez: e em menos de um mês eu já estava certa de que teria que cortar bem curto pra viver de verdade a experiência que eu queria.

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Imagem: Arquivo pessoal
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Imagem: Arquivo pessoal

Coragem para o passo final

Então, me sentindo pronta (de verdade), marquei o corte final. Sentei na cadeira do salão ainda bem nervosa, embora totalmente decidida. "Nessas horas gosto de passar um bom tempo conversando com a pessoa, para entender o que ela quer e dar dicas de como estilizar no dia a dia. Percebo que não saber cuidar do novo corte quando sair do salão é uma questão que deixa as pessoas tensas", diz a cabeleireira Simone Nole, do WM Vintage Club, em Sorocaba (SP). Tudo precisa ser pensado e ponderado. Eu vou conseguir "segurar o look"? Vou ser carinhosa comigo mesma para continuar me aceitando e me amando? Estou disposta a testar outros jeitos/descobrir novas maneiras de me arrumar?

De repente, lá estava eu, olhando para mim mesma no espelho pela primeira vez e conhecendo essa minha nova versão. Amor à primeira vista? Acho que não. Eu amei o corte em si, porque ficou exatamente como eu queria, mas era um misto de sensações tão grande que fica até difícil decifrar minha reação. É difícil separar o que era gosto pessoal, do medo do julgamento e do desconhecido.

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Imagem: Arquivo pessoal
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Imagem: Arquivo pessoal

A vida pós-pixie

Por incrível que pareça, a reação das pessoas foi melhor do que eu esperava. Não apenas no sentido de aprovação, mas senti as pessoas felizes por mim. Justamente quem me viu primeiro, foram as que sempre me ouviram falar sobre essa vontade de ter o cabelo bem curtinho. Essa reação me ajudou muito no processo de amar minha nova versão, me lembrando que o mais importante foi eu ter ouvido a minha vontade. Isso foi muito mais forte do que o fato de ter ficado bonito ou não. E rapidamente eu já me sentia mais segura.

Então comecei a sentir a praticidade no dia a dia. É um cabelo muito mais fácil e rápido de cuidar. Hoje meu único trabalho é lavar o cabelo todos os dias (porque ele fica mais armado do que eu gostaria quando acordo), mas depois eu nem preciso pentear. Só ajeito com os dedos, porque gosto dele mais natural. Fora o que ele está mais saudável! 'É um corte muito versátil e cheio de possibilidades. Indico sempre usar um protetor térmico antes do secador, para manter a saúde dos fios, e produtos de styling, como mousse, spray ou pomadas, para deixar uma textura mais firme e um resultado bem desconectado', ensina Simone.

Nem tudo são flores

A questão do cabelo curto versus o universo feminino ainda representa um desafio diário de me olhar no espelho e me entender como mulher. É um vaivém de me sentir corajosa e linda, mas também de estranhamento e reconhecimento. Eu senti uma liberdade enorme — física e psicológica —, mas também ainda lido com a autossabotagem de não me vangloriar por ter feito algo que eu queria tanto. Eu sonhava com isso há anos e, quando eu me olhei no espelho, em vez de me amar e admirar o quanto eu estava bonita, ficava me questionando: ´será que eu devia ter feito?´ `Será que ficou bom mesmo?´. O corte curto me gerou duas experiências simultâneas: de amar muito e ao mesmo tempo também estranhar muito.

Ainda estou descobrindo esse terreno de ser uma mulher de cabelo curto e é impressionante tudo o que um corte é capaz de despertar na gente. Como eu me olho, como eu espero que os outros me olhem, como eu reajo ao meu próprio olhar e o julgamento dos outros também. Essa experiência tem me feito muito bem.

Se eu pudesse dizer algo às mulheres que querem cortar assim, seria para escutarem o seu desejo, mas sem deixar de respeitar o tempo certo disso acontecer. A segurança e confiança do cabelo curto é um processo, que vai se construindo até depois do corte, quando você se olha no espelho pela primeira vez. É um misto de sensações (alívio, liberdade e felicidade, com medo e insegurança) que cada uma aprende a equilibrar dentro de si. Pelo menos pra mim, foi assim.

A reação das pessoas foi melhor do que eu esperava: senti que elas estavam felizes por mim

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