Afronta!: série chega à Netflix para combater 'lacunas' na história negra

"A branquitude precisa arcar com o ônus de ter uma herança escravagista", diz a deputada estadual Érica Malunguinho (PSOL-SP) em um dos 26 episódios (cada um com um entrevistado diferente) da série documental Afronta!, recém-lançada na Netflix.
Além dela, estão lá nomes como o rapper Rincon Sapiência, a atriz Dani Ornellas e as cantoras Anelis Assumpção, Liniker e Karol Conka, que provoca: "Tem gente que fala: 'Você é exagerada. Os negros sempre estiveram aí e você fica com esse assunto.' Sempre estiveram aí, mas como estiveram?".
Na produção dirigida pela cineasta Juliana Vicente, eles são protagonistas, donos da voz, do discurso e do lado, até agora, pouco contado da história. "Hoje, representar personagens negras, narrativas negras, é uma certa responsabilidade de renovação do olhar que a gente tem", diz o diretor de cinema e um dos entrevistados Gabriel Martins.
Quem assina a direção de "Afronta!" é a cineasta Juliana Vicente, da Preta Portê Filmes. Em entrevista a Universa, ela celebrou a conquista de levar seu projeto para o streaming. Para ela, a série será capaz de "furar a bolha", mudar a imagem do Brasil no exterior e conectar pessoas negras pelos cinco continentes.
"Falta conteúdo brasileiro falando sobre isso. Há uma barreira de língua [no Brasil] e estar num streaming desse tamanho, que vai indicar a série para pessoas que têm interesse, vai fazer essas histórias chegarem aonde a gente nem imagina", diz Juliana.
"Watch Afronta!"
A série está disponível para assinantes no Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, Portugal, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, além de todos os países da América Latina e da África onde a Netflix está presente.
Chegou a tantos cantos graças a um empurrão de peso. Durante uma live, Ava DuVernay, diretora de "Olhos Que Condenam" (2019), série sobre quatro adolescentes americanos presos injustamente, disse: "Watch Afronta!" (assista Afronta!, em português). Juliana deu print na cena e usou a cartada quando ofereceu sua produção à gigante do streaming.
"Quando Ava assistiu ao documentário, ela disse 'pô, a gente nem sabe que essa galera existe no Brasil'. O imaginário lá fora é tão diferente. Poucas pessoas sabem, por exemplo, que somos o país mais preto fora do continente africano. 'Afronta!' é um instrumento pra gente avançar no processo de conectar a diáspora africana", afirma Juliana.
Acabou a desculpa
"Agora acabou a desculpa, não dá mais para falar que não sabe se comportar [com relação ao racismo]. Assistindo a 'Afronta!', com certeza você erra menos", avisa a cineasta que já anuncia novos planos para a série.
Está na fila uma segunda temporada, que deve contar com nomes como a ativista Monique Evelle e a cantora Luedji Luna. Outra ideia é criar uma temporada dedicada às crianças, "Afrontinha".
"Vai ser maneiro porque, durante esse movimento desencadeado pelo assassinato de George Floyd, todo mundo virou antirracista. E as mães estão malucas, perguntando onde achar material para mostrar aos filhos. Então nada melhor do que uma criança falando com outra. Ela verá a Elis MC [cantora carioca de 6 anos] e terá outra perspectiva do que é uma criança preta, que não é só aquela que toma tiro na favela. 'Afrontinha' é meu sonho de criança", brinca.
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