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Petição quer novas cores de sapatilha para contemplar bailarinas negras

"Dançarinas negras em todos os lugares têm que gastar dinheiro para comprar uma base", diz bailarina - Reprodução/Twitter
"Dançarinas negras em todos os lugares têm que gastar dinheiro para comprar uma base", diz bailarina Imagem: Reprodução/Twitter

De Universa, em São Paulo

12/06/2020 17h40Atualizada em 12/06/2020 18h20

Uma bailarina do Texas, nos Estados Unidos, usou as redes sociais para dar voz a uma importante causa do mundo da dança: a oferta de cores de sapatilha que também contemplem bailarinas negras. Em seu Twitter, Briana Bell compartilhou uma petição que exige das empresas especializadas a fabricação do sapato em cores que combinem com os mais variados tons de pele.

Na publicação, Briana relata que bailarinas negras são obrigadas a "tingir" suas próprias sapatilhas usando base para o rosto para fazer com que a cor do sapato fique parecida com seu tom de pele. As bailarinas brancas, em contrapartida, não precisam fazê-lo, uma vez que as sapatilhas hoje são fabricadas majoritariamente em tons de rosa.

"Dançarinas negras em todos os lugares têm que gastar dinheiro para comprar uma base barata, "tingir" suas sapatilhas e fazê-las combinar com seu tom de pele, o oposto do que fazem as brancas, para quem os sapatos de balé de cetim rosa são feitos. Assine essa petição para ajudar!", escreveu a bailarina em seu perfil no Twitter.

Em outro tuíte, Briana explica que a questão vai além das sapatilhas. "Bailarinas negras são constantemente excluídas do mundo do balé tradicional porque nosso corpo não é como o delas [brancas], e isso é apenas mais uma maneira de nos fazer sentir indesejadas. Isso vai além dos sapatos. Pela minha experiência, preconceito e racismo no mundo da dança são passivos, mas estão lá. Não é pedir muito que tenhamos sapatilhas que combinem com nossos tons de pele", acrescentou.

A petição compartilhada por Briana foi criada há dois anos por Megan Watson, de Penn Hills, Pensilvânia, e é voltada especificamente a uma empresa: Capezio — uma das maiores e mais conhecidas fornecedoras de sapatilhas de ponta. O abaixo-assinado pede que a companhia "comece a produzir sapatos para quem não tem um tom de pele branco ou bronzeado".

"Poucos fabricantes produzem sapatilhas marrons", diz a petição. "Não apenas há pouquíssima diversidade no balé em si, mas o que agrava a questão é que muitas vezes não há diversidade nas tonalidades das sapatilhas. Se você não se encaixa no mesmo tom da cor dos sapatos, automaticamente sente que não pertence [àquele mundo]".

Algumas empresas até fabricam sapatilhas de tons mais variados, como é o caso da Gaynor Minden e a Freed of London. Mesmo assim, as opções ainda são muito limitadas e nem sempre contemplam bailarinas pretas, pardas e indígenas.

No ano passado, em entrevista ao "Today", da NBC, a bailarina brasileira Ingrid Silva disse que tingir as sapatilhas era um processo caro e que consumia tempo e, por isso, ela desejava que as marcas prestassem mais atenção nisso. "Eu poderia acordar e ter apenas que colocar minhas sapatilhas de balé e dançar, sabe?", lamentou.

A petição compartilhada por Briana tem mais de 319 mil assinaturas. Graças a ela e a todas as bailarinas que ressaltaram a urgência do assunto, o CEO da Capezio, Michael Terlizzi, divulgou uma nota em que se compromete a fabricar sapatilhas de tons mais variados para a próxima estação.

"Nossos valores são tolerância, inclusão e amor para todos. Nós estamos comprometidos com um mundo da dança livre de vieses e preconceitos. [...] Nós ouvimos a mensagem de nossa comunidade, que quer sapatos que reflitam seu tom de pele, e vamos oferecer nossas duas sapatilhas mais populares em tons mais escuros para todo o mundo no próximo outono [primavera brasileira]", prometeu.