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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

"Imbrochável": coro machista de Bolsonaro seria vergonhoso até em vestiário

Colunista do UOL

07/09/2022 13h35

"Eu tenho falado para os homens solteiros que estão cansados de serem infelizes. Procurem uma mulher, procurem uma princesa e casem com ela para ser mais feliz." A frase foi dita pelo presidente Jair Bolsonaro, em discurso da parada de 7 de Setembro, em Brasília. A declaração, por si só, seguida por um beijo na primeira-dama Michelle, poderia ser até ok em se tratando de Bolsonaro. Não seria nada diferente daquilo a que já estamos acostumadas. Mas ele não se conteve e, pateticamente, puxou um coro para si mesmo gritando: "Imbrochável!".

O coro puxado pelo presidente não seria apropriado nem em trote de faculdade ou num vestiário depois de um jogo de futebol. Mais grave ainda durante um evento que comemora os 200 anos da independência de um país. Essa fala, que para ele talvez signifique que ele é uma espécie de "supermacho", infelizmente não é inédita e se soma à lista de vexames e absurdos sexistas cometidos pelo presidente.

Vale lembrar que Bolsonaro precisa desesperadamente do apoio das mulheres nesta eleição. A presença cada vez mais frequente da primeira-dama em seus eventos de campanha tem sido usada para isso. Michelle se comunica bem com os seguidores de Bolsonaro, é articulada. Suas falas sempre remetem a Deus —embora o Brasil seja um país laico— e ela soa como uma pastora. Ainda assim, tem o mérito de se comunicar com clareza. Coisa que parece impossível para Bolsonaro.

Mas é difícil que a estratégia de continuar dividindo o mundo entre "mulheres" e "princesas" e o jeito infantilizado e machista do presidente possa funcionar em 2022. Que mulher vai olhar para esse show e pensar: "Nossa, vou mudar meu voto e escolher Bolsonaro"? Difícil imaginar. O presidente, se muito, fala para a sua base de seguidores mais fanáticos e se comunica com os tais "tiozões do churrasco", que causam constrangimento nas famílias ao fazer esse tipo de "piada" machista em festas.

Mas até parte deles talvez fique com vergonha ao ver um chefe de estado falando algo assim sobre si mesmo em um evento de comemoração de um dia histórico, às vésperas de uma eleição e com o país com mais de 33 milhões de pessoas passando fome (e a maior parte desse número são mulheres).

Vergonhoso.