Latino fala de Anitta, mas quem não representa 'brasileiros dignos' é ele

"Ela não representa as mulheres dignas do país." A frase, acreditem se quiser, foi dita pelo cantor Latino durante o fim de semana. O cantor não tem o cargo de decidir quem é uma mulher digna e muito menos quem nos representa, mas teve a audácia de ocupar o papel de "rei da moral e dos bons costumes".

Ele se referia ao fato de Anitta (sempre ela) ter dito em um uma entrevista que transava por transar, com quem quisesse. A entrevista foi dada para o canal do YouTube "Molusco TV", e Latino não tinha nada a ver com isso. Mas ele se achou no direito comentar, como se fosse ele que decidisse o que faz uma mulher digna:

"É o fim dos tempos! Não representa as mulheres dignas do Brasil", escreveu.

Se qualquer homem do Brasil tivesse feito esse comentário, já seria um absurdo. Afinal, sim, mulheres podem transar com quem elas quiserem. E não é isso o que as faz dignas ou não.

Mas fica mais absurdo ainda vindo de Latino, o cantor que é conhecido por já ter sido processado várias vezes por não passar pensão para seus filhos ao mesmo tempo em que ostenta uma vida luxuosa. Que tal?

Quem não representa os homens dignos do Brasil são homens como você, Latino.

Os caras legais e dignos (e eles existem e são muitos) são antes de tudo aqueles que são bons pais. Não aqueles que vivem devendo pensão e sendo processados pelas mães de seus filhos e pelos próprios.

Latino já teve prisão decretada por dever pensão para um de seus filhos em 2017 e 2018 por esse motivo. Em 2020, foi a vez de sua filha Dayanna Maia processar o pai por dever 400 mil reais de pensão para ela. E esses não são os únicos casos.

Ser intimado por não pagar pensão é quase rotina da vida do cantor. E sim, ele ainda se acha com poder para julgar quem é uma mulher digna e quem não é.

Uma mulher transar com quem ela quer não é crime no Brasil (e nunca vai ser, por mais que os ultraconservadores tentem). Agora, não pagar pensão é, sim, crime inafiançável. E um famoso viver cometendo esse crime é um péssimo exemplo, um desserviço para as mulheres e as crianças (que são quem pagam por esses crimes) e também para os caras legais, que não querem ser confundidos com esse tipo de gente.

Os falsos moralistas não são um fenômeno novo. Eles sempre existiram. Mas é sempre chocante ver um homem sem moral alguma achar que pode ditar o que é certo e errado e pregar os bons costumes.

Mas Latino, o falso moralista, parece de fato ter encontrado espaço no ultraconservadorismo. No fim de maio, ele foi filmado celebrando com o presidente Jair Bolsonaro e comemorando: "para cima e avante, capitão, você já está reeleito".

Bolsonaro, ultraconservador, vive dizendo por aí que é defensor da família. Mas, pelo jeito, para eles, isso não inclui pagar pensão.

"É o fim dos tempos!"