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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Imbrochável': frase de Michelle só aumenta aversão de mulheres a Bolsonaro

Michelle Bolsonaro no programa de Sikêra Jr - Reprodução/YouTube
Michelle Bolsonaro no programa de Sikêra Jr Imagem: Reprodução/YouTube

Colunista de Universa

02/06/2022 04h00

Michelle Bolsonaro é uma mulher discreta. Ela pouco dá entrevistas, pouco se posiciona. Em geral, a primeira-dama se porta no melhor estilo "bela, recatada e do lar", o que combina perfeitamente com um governo de pauta ultra conservadora como o do seu marido.

Mas essa semana Michelle abriu uma exceção no personagem recatado. Ela acompanhou o marido no programa "Alerta Nacional" de Sikêra Junior. Ali, surpreendeu ao deixar o estilo bem comportado de lado e afirmar que o presidente era: "imbrochável".

Essa expressão, típica dos machos mais toscos, é bastante usada por Jair Bolsonaro. Agora, ela saiu da boca de Michelle, que reproduziu o machismo do marido entre risadas relaxadas.

Não é só essa frase que é bizarra, mas todo o contexto que a acompanha. Michelle estava na plateia enquanto o marido conversava com o apresentador. Até que Sikêra resolveu "aproveitar" a sua presença. Quer dizer, "aproveitar" numas.

Michelle é uma figura rara em talk shows. Qualquer apresentador ou jornalista teria várias perguntas para fazer a ela. Mas Sikêra resolveu ignorar que ela é uma pessoa e falou o seguinte:

"Michelle, posso fazer uma pergunta meio 'Sonia Abrão'? Michelle, o presidente tem uma missão muito difícil que é cuidar do nosso país, aí eu pergunto, ele está dando conta em casa?"

No que Michelle respondeu: "ele tem uma moeda no bolso que diz que ele é imbrochável, imorrível e incomível". Bolsonaro faz, então, questão de repetir a frase e dizer que ela "é a mulher mais feliz do mundo''.

E sim, gente, o presidente do Brasil deixou claro ali que anda com uma moeda no bolso com essas inscrições. Parece mais uma piada de mau gosto, mas é verdade.

Depois desse momento absurdo, o apresentador avisou que iria falar de "conjuntura política" e aí deixou a primeira-dama de lado. O recado: ela só serve para isso mesmo, para dizer se o presidente "dá conta" (que baixaria), para reafirmar a sua masculinidade.

Aversão e nojo

Michelle não estava no programa à toa. As mulheres, que são maioria das eleitoras do país, são fundamentais nas eleições. E, entre elas, segundo pesquisa do Datafolha publicada terça-feira, a rejeição a Bolsonaro é imensa. A pesquisa concluiu que a aversão a Jair Bolsonaro é dominante entre mulheres de todas as classes sociais.

Entre as mulheres, a pesquisa mostra que Lula tem 49% dos votos e Bolsonaro 23%.

Ou seja, Bolsonaro precisa mesmo tentar conquistar mais votos das mulheres. Para isso, colocar Michelle em cena parecia ser uma boa estratégia. Mas se for para a primeira-dama reproduzir o machismo tosco do marido, provavelmente a entrada dela em cena não vai funcionar.

Um dos motivos que fazem com que a maioria das mulheres tenha aversão ao presidente é exatamente essa masculinidade tóxica. Ouvir que um homem é "imbrochável" e "incomível" (atenção para a homofobia) pode agradar os eleitores machões de Bolsonaro que já pretendem votar nele. No caso das mulheres, isso causa o mesmo sentimento que faz com que a maioria delas não vote nele: aversão. E um certo nojo também.