Topo

Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O simbólico 'BBB' onde só restou uma mulher na casa. E dormindo ao relento

Jessi é a única mulher entre os 7 finalistas do "BBB 22" - Reprodução/TV Globo
Jessi é a única mulher entre os 7 finalistas do "BBB 22" Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista de Universa

13/04/2022 09h00

O "BBB 22" poderia ter sido a edição da diversidade. Desde a edição 21 do programa, a Globo tem se preocupado (finalmente) em colocar um elenco mais diverso na casa. No "BBB 22", oito participantes eram negros, Tiago Abravanel, um homem gay gordo e uma delas, a cantora Linn da Quebrada, uma mulher trans, uma das camadas da população mais discriminadas no Brasil.

A promessa ficou para trás rápido. Na reta final do programa, todas as mulheres estão sendo eliminadas uma a uma. Domingo (10) foi a vez de Lina, eliminada com alta rejeição. Ontem foi Natália, mulher negra, com vitiligo e que viveu momentos dramáticos na casa.

Resultado: só restou uma mulher na casa do BBB, a professora Jessilane, a Jessi, que viu suas amigas sendo eliminadas uma a uma e sobrou em um ambiente dominado por homens, que formam alianças e tudo o que pensam é em eliminá-la.

"Só vai sobrar eu", ela disse ontem, chorando, ao se despedir da amiga Natália.

Para deixar a situação mais absurda e dramática, Jessi recebeu um castigo no "Jogo da Discórdia" e, por tempo indeterminado, dorme do lado de fora da casa, no relento, em um colchão.

O "BBB 22" tem investido em jogos e dinâmicas onde participantes são penalizados com humilhações, em uma espécie de versão 2.0 do programa "Topa Tudo por Dinheiro", de Silvio Santos. Os "castigos" só pioram e pouco acrescentam ao programa. Ou o legal é ver uma mulher negra chorando e dormindo no chão?

Quem nunca sobrou?

É impossível não se comover com a solidão e a sensação de não pertencimento de Jessie, deixada sozinha em uma festa onde os outros convidados não se importam muito com ela. E, ao mesmo tempo, sendo colocada literalmente para fora da casa.

A maioria de nós já passou pela sensação de "sobrar" algumas vezes na vida. No caso de Jessi, mulher negra, fica ainda mais simbólico. Feministas negras falam há anos da "solidão da mulher negra". E o que temos no "BBB 22"? Uma mulher negra dormindo do lado de fora da casa, no chão. Emblemático e triste.

A sorte é que Jessie é uma mulher forte (e qual não é?) e está encarando tudo isso com bom humor e já disse que apesar de ter chorado muito ao ficar sem as amigas, iria ficar bem. E ainda fez piada com a sua situação. "Não tinha nenhum homem fora da casa, agora tenho seis, brincou".

Sim, uma coisa que mulheres inteligentes como Jessi logo aprendem é rir de si mesmas.

Homens que se levam super a sério, como Arthur Aguiar, aquele que tem tudo para ser o vencedor, têm muito o que aprender com Jessi. Pena que provavelmente eles só terão alguns dias com ela e, como bons homens, não deverão ouvir o que ela fala.

Seria legal que uma reviravolta acontecesse e Jessi ganhasse o programa. Pelo menos algo improvável aconteceria.

Mas será que Jessi mereceria passar mais algumas semanas sozinha no meio de homens que não são seus amigos? Será difícil. Mas que uma mudança dessas poderia dar uma "salvada" nesse "BBB" tão sem graça, poderia.