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Nina Lemos

Lista de monitoramentos de jornalistas pelo governo não é lista VIP

Colunista do UOL

03/12/2020 04h00

Na segunda-feira, o UOL revelou com exclusividade na coluna de Rubens Valente que o governo paga 2,7 milhões para uma agência monitorar perfis de jornalistas e influenciadores de política nas redes sociais.

É normal que empresas e governos monitorem as redes. O que causou mais surpresa foi o fato dos influenciadores estarem listados em categorias: detratores, neutro informativo e amigos do governo. Isso acende um farol de alerta, afinal, trata-se de um governo com tendências autoritárias. E muitas pessoas críticas ao governo passaram a sofrer ataques e ameaças online, caso da jornalista da Folha Patrícia Campos Mello, que revelou o esquema de disparo de notícias por WhatsApp favorecendo o presidente Jair Bolsonaro.

Por isso, quando vi a tal lista, depois do choque com a notícia, tive duas reações: uma de alívio por meu nome não estar lá, já que sou usuária do Twitter e crítica do governo. A segunda foi de preocupação com os amigos que estão na tal lista como detratores.

A divulgação da lista é um bom momento para a gente falar sobre liberdade de imprensa e perseguição a ativistas. Mas o que se seguiu foi alguns influenciadores e amigos reclamaram de... não estar na lista!

Entre elas, a advogada e apresentadora de TV Gabriela Prioli, que fez um vídeo de humor relatando a sua frustração por ter sido "ignorada". "Estou indignada que não estou na lista dos detratores...Eu merecia esse espaço? Acho que sim". Em seguida, ela fez uma enquete no stories, para que seus seguidores decidirem se ela merecia ou não "esse espaço".

Gabriela Priolitratou a lista de monitorados pelo governo como uma lista VIP. Ou uma lista dos melhores do ano. "Eu não merecia ser convidada para a festa? Respondam aí o que vocês acham", disse. Só que trata-se de uma lista de monitorados por um governo que despreza jornalistas e ativistas. Não é a lista das mais bonitas da classe na quinta série.

Ativistas são perseguidos. Pessoas são ameaçadas de morte (vale lembrar que alguns oponentes do governo, caso de Márcia Tiburi e Jean Wyllys tiveram que deixar o país depois de seguidas ameaças de morte). Jornalistas como Glenn Greenwald, um dos responsáveis pela série de reportagens "Vaza a Jato", tem que andar com seguranças.

E, claro, existem ativistas que são mortos. Segundo relatório da ONG "Global Witness", 24 ativistas de meio ambiente foram mortos no país em 2019, o que coloca o Brasil no terceiro lugar no ranking mundial. Relatórios da Anistia Internacional colocam o Brasil como um dos mais perigosos para ativistas de direitos humanos.

No caso de nós, jornalistas, a situação também não está boa. Segundo a ONU, o presidente Jair Bolsonaro e aliados realizaram 449 ataques a imprensa desde o início do seu mandato.

Ou seja, o assunto é seríssimo. A vida real não é uma festa VIP em Trancoso.