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Fabi Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como gozam as minas?

Colunista do UOL

28/09/2021 04h00

Eu tava sumida, né? Pois é, mas tô de volta! Pro meu retorno, achei por bem voltar com um tema que pudesse... Comment te dire? Que pudesse chacoalhar, provocar, fazer pensar. "Ah, lá vem ela encher o saco. Vai começar o mimimi?", disseram os boys. Talvez...

Engraçado, esses dias fiquei pensando nessa expressão "mimimi". Fui lá no Seu Google mesmo, digitei "definição de mimimi" e me veio isto:

"Mimimi é uma expressão usada na comunicação informal, usada para descrever ou imitar uma pessoa que reclama.

O mimimi tem uma conotação pejorativa, sendo muitas vezes utilizado para satirizar alguém que passa a vida reclamando. Ex: Pare de mimimi e vá arrumar o seu quarto!

Esta expressão funciona como uma onomatopeia, uma reprodução de sons que imitam um choro, ladainha ou lamúria".

Eu sei, eu deveria ter me preparado melhor pra essa conversa. Vir com conceito de Internet, assim... "Nada a ver, irmã". Honestamente, achei que bastava. Essa definição relaciona a onomatopeia ao choro. Pensei que, sonoramente, a gente poderia até dar uma explorada no que poderia estar relacionado em inglês (nem vem, a gente usa inglês o tempo todo, se feche): "Me, me, me".

E o sexo que tava no título, Fabi? Quando a gente entra no sexo em si? O tempo todo. Agora mesmo já estamos, se é que você não reparou. Se a gente pensar em esticar um pouco o conceito de sexualidade, se descolar um tanto das genitais e pensar em prazer de modo mais amplo, o sexo tá no rolê o tempo todo. É só prestar atenção.

Mas vamos voltar ali rapinho no "me, me, me". E, olha que coisa louca, em tradução livre e literal: "mim, mim, mim". Ou seja, uma maneira de autorreferir-se. Por que é tão difícil escutar o outro falando de si? Por que pode parecer tão chato deixar o outro entrar um pouco, saber do outro? E você não vai botar uma fé, mas essa dificuldade tem um peso ainda maior em relação às minas. Por que é tão difícil escutar as minas e se haver com elas?

Putz, tá demorando pra chegar no sexo mais direto, mais explícito, né? Pois é, acabei de me dar conta sobre a frequência dessa queixa nos relacionamentos heteroafetivos: "Ele não me escuta". Que treta. Quanto recorte e quanta chance pra mergulhos profundos.

Tá, mas vamos voltar lá pro título: como gozam as minas? Nosso lance com o gozo aqui vai ser naquela associaçãozinha básica e simples com o orgasmo, taokei? Não vamos invocar o Seu Lacan, não. Ou vamos?

Por muito tempo, "o grande momento" da relação sexual (desculpa, Lacan) esteve associado ao ápice do orgasmo masculino. Urrul! Fizemos sexo, o lindo gozou e todos já podem acender seus cigarros e dar aquela relaxadinha gostosa... Ah é, é? E a linda? Gozou também? Quem sabe?

Esse é o momento que o indignado vira pra mim e diz: "Mas elas não falam, não conversam, não dizem como devo fazer". Opa, neném, pera aí. Muita questão. Podemos começar com: você quer mesmo saber? Tá interessado? Se importa? Se sim, vai se informar. Tem muito vídeo aí no YouTube — os jovens que o digam... Aliás, dudes, muitos deles dão baile nos tios no quesito conhecimento do corpo feminino. Reflitam.

Em seguida, se o diálogo franco e verdadeiramente interessado se estabelecer, provavelmente ela vai se sentir à vontade pra falar de algo tão íntimo sobre o qual, não por acaso, ela foi POR ANOS ensinada a calar, esconder.

A pornografia, grande Mobral dos boyzão, só te conta mentiras. Primeiro em relação aos corpos — não, a genitália feminina não é como a das atrizes pornôs. E vocês não vão acreditar: tem muitos tipos diferentes! Sabe os carros? Então, xoxotas também têm diversos modelos. Dá uma olhadinha aqui.

E, como no pornozão, você acha mesmo que todas as minas gozam com penetração? Dando aqueles gritinhos ritmados e mantendo a pose sexy perfeita? Hmm.... Se sim, tô pra te dizer que você, provavelmente, nunca viu uma mina gozar memo.

Notou que eu disse "viu"? Então, ver um orgasmo de verdade já seria lindo e informativo. Agora, daí a fazer gozar, vish.... Tem um caminho longo.

E, talvez você fique contente agora: mano, não é responsabilidade tua. Não é você sozinho que produz essa mágica. A linda sozinha pode gozar repetidas vezes. Mas pode com você também. Vocês só precisam trocar ideia, relaxar e se explorar. Quando uma queixa sobre prazer feminino surge, não é sobre "mi mi mi", é sobre "nós nós nós". Porque, se estiver bom pra um, está ótimo pra dois.

Aliás, pra encerrar, queria lembrar que nós mulheres temos um órgão todinho feito só para o prazer. Um pedacinho de carne com mais de oito mil terminações nervosas. Já foi apresentado ao clitóris? Nem só de bate-estaca vive o prazer sexual. Na real, bem pouco. Nossa, a gente tem tanto pra falar! Tanto "nós nós nós" pra discutir. Porque até a penetração pode ter ritmos diferentes. Tá na hora de olhar por cima dos muros das raves e escutar outros sons...

Ah... E eu também tava morrendo de saudades de vocês por aqui!