O mapa das gigantes de tec

EUA concentram as maiores empresas de tec, mas ranking mostra que Ásia já ganha mais dinheiro que América

Márcio Padrão De Tilt, em São Paulo kurmyshov/istock

As 70 grandes empresas de tecnologia e telecomunicações do planeta, que impulsionam o mercado tanto em dinheiro quanto na inovação, residem principalmente nos EUA, no leste da Ásia (em países como China, Japão, Taiwan) e em parte da Europa.

É o que nos dizem os dados da revista norte-americana Fortune, que anualmente publica a lista das 500 maiores empresas do mundo em todos os setores, com base em suas receitas financeiras anuais.

Leste da Ásia já tem receita maior do que América

Em cinco anos, dobrou o número de empresas chinesas de tecnologia e telecomunicações no top 500 da Fortune (de 7 em 2014 para 14 em 2019).

Segunda maior economia desde 2011, a China apostou na tecnologia como um dos pilares de seu crescimento. Alguns dos caminhos traçados foram:

Então, não é por acaso que Donald Trump começou uma guerra fria comercial e tecnológica com a China.

Como país isolado, os EUA ainda são a terra da tecnologia — as receitas das 20 empresas norte-americanas que estão no ranking somam mais de US$ 1,91 trilhões (ou R$ 7,4 trilhões), contra US$ 750 bilhões (R$ 2,9 tri) das chinesas.

Mas as empresas da Ásia, espalhadas por China, Japão, Taiwan, Singapura e Coreia do Sul, já acumulam US$ 2,12 trilhões (R$ 8,3 tri), enquanto as da América do Norte (EUA e México) valem US$ 1,97 trilhões (R$ 7,7 tri). Isso mostra como o domínio americano já foi superado; pelo menos em receita anual.

  • Empresas de celulares chinesas

    Em 2014, a Huawei já era líder em infraestrutura de comunicações, mas uma semi-desconhecida em smartphones. Em 2019, segundo a IDC, chegou ao posto de número 2 mundial em vendas, juntando qualidade e bom custo-benefício em seus modelos. A também chinesa Xiaomi, que debutou na Fortune 500 este ano (468º), está no quarto lugar neste mercado.

  • E grandes da internet

    A Tencent, empresa chinesa de internet, subiu incríveis 263 posições na lista da Fortune em cinco anos. Seu principal case é o WeChat, multiplataforma para troca de mensagens e outros tantos serviços. Já a Alibaba é a Amazon chinesa: tem o ecommerce como grande negócio, mas desponta nos campos da inteligência artificial e robótica.

  • E os EUA? Ainda em alta

    Não foram só as chinesas que subiram. A veterana Google (representada pela empresa-mãe Alphabet) ganhou muita grana com publicidade online. A Amazon faturou alto com serviços em nuvem. E o Facebook, que nem estava na Fortune em 2014, usando e abusando de nossos dados pessoais, já está aí entre as 200 maiores.

  • Apple

    Ganhou muito dinheiro com Mac, iPhone, iPad e outros iTrecos, mas esse mercado está estagnando e registrando queda nas vendas nos últimos anos. Por isso, a empresa já mira em oferecer serviços como revistas, games e vídeos.

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  • Amazon

    A empresa de Jeff Bezos não é "só" ecommerce, mas um grande laboratório futurista, com inteligência artificial e streaming de vídeo (Amazon Prime). É líder em serviços de computação em nuvem para empresas (Amazon Web Services).

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  • Samsung

    Praticamente uma "faz-tudo", a sul-coreana produz celulares, tablets, gadgets e eletrodomésticos. Ela ganha a maior parte do dinheiro fabricando peças como telas, memórias e processadores para outras empresas, inclusive a Apple.

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  • Foxconn

    O nome não é tão popular, mas a empresa de Taiwan é uma das maiores fábricas de produtos do planeta. O iPhone é feito ali. Atende numa boa o Ocidente (Apple, Nokia, Amazon, Microsoft) e Oriente (Sony, Nintendo, Xiaomi).

  • AT&T

    A maior empresa de telecomunicações do mundo fornece telefonia móvel, fixa e TV a cabo. Desde 2018, é a empresa-mãe do conglomerado de mídia Warner. Detém ainda a rede de TV Turner e o canal HBO.

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  • Alphabet (Google)

    Na última década, o Google nos deu o sistema Android e o navegador Chrome, entre outros bons serviços. Em 2015, nasceu a Alphabet, megaempresa que abriga startups de pesquisa em áreas diversas, como saúde e transporte.

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  • Verizon

    A segunda maior operadora dos EUA também tem um superportfólio: é dona da Oath (Yahoo e AOL), voltada para mídia digital. A Verizon abrange ainda telefonia fixa e empresarial, e produtos e serviços para empresas e governos.

  • General Electric

    Apesar de os eletrodomésticos e equipamentos de energia serem seu forte, a companhia americana oferece software em nuvem, segurança cibernética e aprendizado de máquina, internet das coisas e tecnologia médica.

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  • China Mobile Communications

    Essa grande estatal de telecomunicações da China é a maior operadora de telefonia móvel do mundo por número total de assinantes, com mais de 935 milhões de inscritos. Atua também em Hong Kong, Paquistão e Reino Unido.

  • Microsoft

    A casa do Windows está se diversificando nos últimos anos. Passou a fazer seus próprios computadores (linha Surface); pesquisa inteligência artificial e é a número 2 no serviço de computação de nuvem, atrás da Amazon.

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No top 70, aparecem 19 empresas de telecomunicações e 17 de infraestrutura, tecnologia da informação e outras áreas de inovação. Isso nos diz duas coisas importantes sobre o presente e o futuro da tecnologia: estaremos cada vez mais conectados, mas de formas que vão muito além do celular.

Computação em nuvem, inteligência artificial, casa conectada, robótica, automação, software para empresas, 5G. Essas áreas ainda são misteriosas para muita gente, mas as empresas já suam a camisa para que tudo isso se torne popular (e traga mais dinheiro, claro).

Temos ainda seis empresas com berço na internet: as americanas Google (Alphabet), Amazon e Facebook; e as chinesas Alibaba, JD.com e Tencent. É basicamente um oligopólio das que surgiram das cinzas da bolha da internet, no fim dos anos 90, e dominaram o mercado nos dois extremos do mundo.

Já os setores ligados a gadgets estão marcando terreno, apesar de terem desacelerado em vendas. Há 14 empresas de eletrônicos diversos, e aqui temos um vasto universo: PCs, celulares, relógios, TVs e novos eletrônicos que surgirão com a internet das coisas. As fabricantes de componentes figuraram com seis empresas cada, e voltadas mais a computadores, apenas cinco.

Cadê Uber, Netflix e afins?

Como a lista da Fortune é baseada nas receitas anuais de 2018, apesar do barulho que fazem, essas empresas caíram neste ponto de corte.

As receitas foram:

  • Netflix - US$ 15,7 bilhões (R$ 61,8 bi)
  • Uber - US$ 11,3 bilhões (R$ 44,5 bi)
  • Twitter - US$ 3 bilhões (R$ 11,8 bi)
  • Spotify - US$ 1,7 bilhões (R$ 6,69 bi)

O mercado de serviços web, como vimos, é acirrado e dominado por Google e Facebook, nos EUA, e Tencent e Alibaba na China. Essas empresas oferecem muitos serviços mundialmente. Só o Facebook é dono de Instagram, WhatsApp e Messenger; o Google, do Gmail, YouTube, Maps/Waze e outros. Empresas com focos mais específicos tendem a ser economicamente menores, ou "menos grandes".

O Twitter de fato "apanhou" muito do Facebook nos últimos anos e só deu lucro em 2018, após melhorar a plataforma, permitir mensagens maiores e implementar algumas políticas contra extremismo.

Uber, Netflix e Spotify foram pioneiros em seus modelos de negócios, mas sofreram com concorrência pesada logo em seguida. Uber enfrenta Didi e Lyft; Netflix pega Amazon, HBO e afins; e Spotify tem o Deezer e Apple no encalço. Uber e Lyft fizeram algum barulho neste ano ao entrarem na Bolsa, mas suas ações iniciais ficaram abaixo do esperado.

É possível que esta "turma dos apps" descrita acima entre na lista a partir de 2020, ou que companhias inéditas despontem —especialmente na Ásia, já que Alibaba e Tencent cresceram rápido olhando para a frente. Como o mercado de tecnologia é muito dinâmico, espera-se que temas emergentes como inteligência artificial, 5G, carros autônomos e casa conectada se popularizem rapidamente, e, se isso ocorrer, todo este mercado será bastante alterado nos próximos anos. A geopolítica da tecnologia será interessante de acompanhar.

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