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Por que foguete não é lançado nem com garoa e avião voa até com chuva?

27.abr.2023: Raio atinge torre da plataforma de lançamento do foguete Falcon Heavy, da SpaceX - Reprodução/@SERobinsonJr
27.abr.2023: Raio atinge torre da plataforma de lançamento do foguete Falcon Heavy, da SpaceX Imagem: Reprodução/@SERobinsonJr

Marcella Duarte

De Tilt, na Flórida (EUA)*

28/04/2023 09h37Atualizada em 28/04/2023 18h02

Estava tudo pronto no icônico complexo 39A do Centro Espacial Kennedy, da Nasa, na Flórida (EUA). Sol, céu azul, poucas nuvens e um calor de rachar tomavam o horizonte do Cabo Canaveral.

Os ânimos eram altos: eu estava no mesmo lugar de onde decolaram algumas das principais missões da Nasa, como as do programa Apollo, da Skylab e do Ônibus Espacial. Durante a tarde, os jornalistas convidados seguiram até a plataforma de lançamento — o mais perto possível que se podia chegar.

Lá estava ele, Falcon Heavy, o foguete mais poderoso do mundo em operação comercial, fabricado pela SpaceX. Seria o sexto voo dele desde 2018, e o segundo deste ano — o foguete SLS, da Nasa, o superou no ano passado, mas só teve um lançamento até o momento: a missão Artemis 1.

Este seria um de seus voos mais agressivos: consumiria todo o combustível dos três propulsores — não sobraria para as manobras de retorno, por isso nenhum seria recuperado, já que cairiam no mar logo após cumprirem seu trabalho.

Todos estavam prontos para ver o voo do falcão levando ao espaço o satélite ViaSat-3 Américas, criado com a missão de disponibilizar internet de banda larga para todas as Américas (sim, o Brasil está na lista).

Por volta das 16h, porém, tudo começou a mudar. Nuvens mais escuras se aproximavam, seguidas por uma leve garoa. Foi o sinal de alerta de que o lançamento poderia ser adiado pela segunda vez nesta semana.

A saber: um avião até pode decolar em uma tempestade. Um foguete, não. Nuvens congeladas e descargas elétricas podem atrapalhar o funcionamento dos motores e até tirar o foguete levemente de curso. Mesmo um pequeno desvio pode ser catastrófico para o posicionamento final do satélite em órbita.

Se o risco é alto, que dirá quando a própria operação custou cerca de US$ 97 milhões, como no caso da ViaSat.

Quando o lançamento finalmente ocorrer, o satélite se desdobrará no espaço, assim como aconteceu com o telescópio James Webb, a 35.700 km de altitude. Ele pesa 6 toneladas e mede 45 metros de envergadura.

Sendo assim, mudar o ViaSat-3 de órbita, um centímetro que seja, custaria ainda mais caro.

Chuva e ameaça de tornado na estação de lançamento do Cabo Canaveral adia lançamento de ViaSat-3 América pela 2ª vez - Marcella Duarte/UOL Tilt - Marcella Duarte/UOL Tilt
Chuva e ameaça de tornado na estação de lançamento do Cabo Canaveral adia lançamento de ViaSat-3 América pela 2ª vez
Imagem: Marcella Duarte/UOL Tilt

Então começaram os raios, o céu ficou cinza, o chuvisco virou uma tempestade, com ventos que curvavam coqueiros. Mais alguns minutos e meu celular apitou: "Alerta de tornado".

Me abriguei em um prédio da Nasa com mais algumas pessoas.

Alerta de tornado recebido antes do horário do lançamento do ViaSat-3 - Marcella Duarte/UOL Tilt - Marcella Duarte/UOL Tilt
Alerta de tornado recebido antes do horário do lançamento do ViaSat-3
Imagem: Marcella Duarte/UOL Tilt

E veio a confirmação final: lançamento adiado devido ao clima desfavorável. O plano da SpaceX é realizá-lo na noite desta sexta-feira (28).

Isso acontecerá só se o tempo melhorar. Alguns locais me disseram que a Flórida é assim mesmo, inconstante: com chuva, muitos raios e até um quase tornado.

*A repórter viajou a convite da ViaSat