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SpaceX adia outra vez lançamento de maior satélite de internet do mundo

Chuva e ameaça de tornado na estação de lançamento do Cabo Canaveral adia lançamento de ViaSat-3 América pela 2ª vez - Marcella Duarte/UOL Tilt
Chuva e ameaça de tornado na estação de lançamento do Cabo Canaveral adia lançamento de ViaSat-3 América pela 2ª vez Imagem: Marcella Duarte/UOL Tilt

De Tilt*, em São Paulo

27/04/2023 21h07

Mais um banho de água fria nos planos da SpaceX nesta quinta-feira (27). A empresa aeroespacial adiou novamente o lançamento do ViaSat-3 Américas, o maior e mais moderno satélite de telecomunicações do mundo até o momento, em decorrência das condições climáticas.

O lançamento estava previsto para as 20h29, horário de Brasília, no icônico complexo 39A do Centro Espacial Kennedy, da Nasa, na região do Cabo Canaveral, na Flórida, EUA.

No entanto, chuvas incessantes fizeram com que a empresa segurasse o lançamento para o fim da janela, às 21h24. As condições se agravaram para tempestades — com alertas de tornado recebidos pela equipe de Tilt no local — o que levou à SpaceX a adiar o lançamento.

O adiamento foi confirmado às 20h02, horário de Brasília, nas redes sociais.

A empresa anunciou que outra oportunidade de lançamento está prevista para esta sexta-feira (28), a partir das 20h15, horário de Brasília.

Como é o Viasat-3

Lançado pelo foguete Falcon Heavy, da SpaceX, o Viasat-3 Américas tem cerca de 6 toneladas e 45 metros de envergadura — o peso de um elefante africano e a largura do lado mais estreito de um campo de futebol, ou dez carros populares enfileirados.

Ele orbitará a Terra diretamente acima do Equador, a 35.700 km de altitude. Para ter uma ideia, um satélite da rede Starlink (que promete criar uma constelação dessas estruturas no espaço) tem 260 kg e painéis de 8 metros de comprimento, e orbita a Terra a cerca de 500 km.

O Viasat-3 Américas tem 16 painéis solares, oito em cada "asa", e é o satélite de telecomunicações mais poderoso a ser lançado no espaço.

Com um custo estimado de US$ 97 milhões, o satélite foi lançado todo dobrado, assim como com o telescópio James Webb.

"Depois de chegar à posição orbital, ele abre painéis e são feitos vários testes para garantir que tudo está correto. Esperamos iniciar a operação comercial dois meses após o lançamento", afirma Leandro Gaunszer, diretor-geral da Viasat Brasil.

O vídeo abaixo ilustra o processo:

E como isso afetará o Brasil?

O Viasat-3 Américas será o primeiro satélite próprio da empresa a operar no Brasil. O diretor não revelou quanto da capacidade total será dedicada ao país, mas garantiu que a maior parte da nossa cota (cerca de 80%) será focada nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde estão as áreas rurais com menor penetração de banda larga.

"Para mais da metade dos que contratam nosso serviço, é a primeira banda larga deles. Vai desde pequenas empresas, como um veterinário ou um comércio local, até fazendas do agronegócio, além de casas de campo isoladas", diz Gaunszer. "Mas nossos clientes ainda estão mais concentrados no Sudeste e no Nordeste."

O plano mais barato da ViaSat, voltado ao cliente residencial, hoje custa R$ 179 ao mês, com velocidade de download de 10 Mbps e franquia de dados de 25 GB. Com a nova frota, espera-se que a velocidade por usuário ultrapasse 100 Mbps, o que pode tornar o produto mais atrativo.

A empresa também já planeja a rede ViaSat-4, com expectativa de chegar a 7 Tbps nas Américas, para os próximos anos.

O que o torna tão potente?

Um dos segredos é seu moderno e enorme refletor, feito de polímeros reforçados, fibra de carbono e grafite, e preso a um longo braço, diz a Viasat. Sua antena vai direcionar os sinais de e para a Terra, possibilitando a conexão internet entre os usuários e as estações em solo.

O refletor permite que o satélite direcione sua energia em pequenos locais em solo — os chamados beams. Quanto maior e mais reflexiva a superfície, menores são esses pontos. Ou seja, uma conexão de mais qualidade e eficiência, com menos perda de sinal.

O satélite estará numa altitude elevada (35.785 km) e uma órbita GEO (geoestacionária). Em linhas gerais, isso quer dizer que ele acompanha o movimento da rotação da Terra. Do nosso ponto de vista, o satélite está sempre no mesmo ponto no céu, como se estivesse "estacionado" em uma vaga no espaço.

Mas, na verdade, ele está sincronizado com o planeta e também demora 24 horas para dar uma volta inteira, se movendo a 3 km/s. Para comparação, um satélite do tipo LEO, como os da Starlink, orbita a Terra aproximadamente a cada 90 minutos, dando 16 voltas no planeta por dia e se movendo a 7,7 km/s.

Assim, alguém que usa a banda larga da SpaceX fica alternando entre satélites o tempo todo. Já na conexão da ViaSat, e de concorrentes mais tradicionais como a empresa HughesNet, a internet fica ligada o tempo todo ao mesmo satélite, o que pode significar uma estabilidade maior.

Competição com a SpaceX

Se o funcionamento ocorrer dentro do previsto, será o primeiro de três satélites geoestacionários de banda Ka que serão lançados pela Viasat.

Com ultra capacidade (oferta de velocidade de 1 Tbps - terabit por segundo - cada) e alta tecnologia embarcada, os três serão capazes de cobrir todos os continentes e as principais rotas aéreas e marítimas do globo. Enfrentarão, assim, a expansão de sua maior competidora: a rede Starlink, da SpaceX, de Elon Musk.

O plano é:

  1. ViaSat-3 Américas: envio ao espaço quinta-feira (27).
  2. ViaSat-3 Emea (Europa, Oriente Médio e África): a ser lançado ainda este ano. Ele já está pronto, passando por testes na fábrica da empresa em Tempe, Arizona (EUA).
  3. ViaSat-3 Apac (Ásia-Pacífico): previsto para ir ao espaço em 2024; está em construção.

Quando os três estiverem em operação, irão operar com um total de 3 Tbps — atualmente, a empresa têm dois satélites que somam menos de 500 Gbps.

Adaptação conforme a demanda de clientes

Além da maior capacidade, os beams (os feixes de sinal) dinâmicos permitirão adaptar a cobertura, realocando capacidade do satélite para onde a maior parte dos clientes estiver.

"Na primeira geração, o alcance era fixo, seguindo um desenho que prioriza áreas com maior densidade populacional. Na segunda, já era possível desligar alguns feixes, caso não houvesse demanda em determinados locais, mas não dava para alterá-los. Já os novos beams dinâmicos se autorregulam conforme a quantidade de clientes", explica Gaunszer.

"Isso é particularmente interessante ao se considerar a vida útil dos satélites, de 15 anos, durante os quais o mercado pode se alterar bastante", ressalta.

(*) Com informações da matéria de Marcella Duarte