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'Cueca vem com suor?': Enjoei vira trampolim para venda de vídeos sensuais

Vendedores acharam jeito de burlar comunicação para vender nudes e vídeos - Reprodução
Vendedores acharam jeito de burlar comunicação para vender nudes e vídeos Imagem: Reprodução

Camila Corsini

De Tilt, em São Paulo

22/04/2023 04h00

Cueca boxer branca, bem usada no elástico, tamanho P.

A descrição de um produto no site Enjoei — plataforma que promove a compra e venda de itens novos e usados — pode até passar batido como um anúncio comum, de alguém que quer se desfazer de uma roupa.

A venda, no entanto, é a deixa para que a conversa com possíveis compradores ganhe conotação sexual. Nos comentários, alguém pergunta: "personaliza?". E a resposta é "sim".

A "personalização", no caso, é uma forma de dizer que a cueca será enviada com fluidos, como esperma e suor, a gosto do cliente.

Esse tipo de venda não faz parte do objetivo da plataforma, que pretende oferecer soluções de consumo colaborativo. A Enjoei afirmou, em nota, que a comercialização de roupas íntimas usadas e a publicação de fotos com conteúdo obsceno na plataforma são práticas proibidas (leia mais abaixo).

O UOL identificou pelo menos 14 pessoas que anunciam o serviço de "cuecas personalizadas" na plataforma. Em alguns casos, vendedores também conseguem passar seus contatos e anunciam — fora da plataforma — fotos e vídeos íntimos a partir de R$ 30.

Comunicação burlada

No Enjoei, os comentários sobre o item anunciado são o único meio oficial de entrar em contato com o vendedor. Vendedores que querem ir além da venda de roupas, porém, tentam burlar as regras para fornecer outros contatos fora da plataforma.

Vendedores usam código para se comunicar na plataforma - Reprodução - Reprodução
Vendedores usam código para se comunicar
Imagem: Reprodução

Eles usam códigos que substituem letras por números ou escrevem contatos por extenso para que os algoritmos da plataforma não identifiquem a burla das regras.

A reportagem entrou em contato com o anunciante da cueca boxer branca pelo Telegram exposto por ele nos comentários. O vendedor explicou que personaliza a peça, "como preferir", e ainda perguntou: "Como você curte?".

Depois disse: "Leite (esperma) e suor eu já tenho costume, mijo nem tanto. Mas posso fazer".

"E vídeo, você faz?". Ele afirma que sim, mas com um acréscimo no valor. Vídeos maiores, de 6 a 7 minutos com masturbação, chegam a R$ 50. Os mais curtos saem por R$ 30.

"Mas faço como você curtir", garantindo estar aberto a outras propostas. O pagamento pode ser feito via PIX.

'Está limpa, mas posso usar'

Um outro homem, que se identifica apenas como "Humano", sem revelar o nome, anuncia outro produto pelo menos desde fevereiro. E revela na postagem detalhes sobre o próprio corpo.

Shorts de compressão estampado em verde, tamanho 4g, ideal pra quem usa numeração 44. O modelo tem 88 cm de cintura.

"Ela está usada ou limpa?", perguntou um. "Está limpa, mas posso usar", respondeu o vendedor, que oferece a peça a R$ 55.

"Vou querer, como a gente pode combinar a personalização? Pra eu te falar como eu quero e você falar os valores", questionou outro rapaz.

"Compre que abre-se o contato, daí negociamos, ok!?", disse o vendedor, que também deixou um contato de WhatsApp por meio de códigos nos comentários.

À reportagem, pelo WhatsApp, ele afirmou que pode personalizar ao gosto do cliente. "Posso usar a peça antes do envio, posso fazer foto ou vídeo sensual...", sugeriu.

Quando questionado sobre valores ou forma de pagamento, não respondeu. Mas, ainda na postagem, em um outro comentário, ele avisou que os vídeos saem em torno de R$ 50.

'Usada, suada'

Alguns anúncios ainda deixam claro que podem enviar vídeos e fotos após a compra da peça. Um rapaz que usa o nome "Vendas" oferece pela plataforma duas cuecas e uma samba canção.

Na postagem de uma das cuecas, vermelha, ele acumula 47 "yeah-yeah" — supostos interessados naquele produto.

"Você manda usada, suada e com leite? Manda vídeo também?", questionou um interessado. "Mando sim, do jeito que você quiser, só comprar que a gente combina tudo certinho", responde ele.

Fotos mostram as peças vestidas no corpo - Reprodução - Reprodução
Fotos mostram as peças vestidas no corpo
Imagem: Reprodução

Outro vendedor oferece uma cueca "estilo sungão" preta tamanho M — e diz que o preço de R$ 59 é apenas do produto. "Após a compra podemos combinar o restante."

Venda de roupas íntimas usadas é proibida

Procurada por Tilt, a Enjoei afirmou, em nota, que "a comercialização de roupas íntimas usadas, bem como a publicação de fotos com conteúdo obsceno, pornográficos ou relacionados à prostituição são expressamente proibidos na plataforma".

A empresa disse ainda que "mantém monitoramento constante para, ao identificar práticas como essa, não só derrubar os anúncios, mas também bloquear permanentemente esses usuários".

Afirma também que "investe constantemente em ferramentas de inteligência artificial e combate à fraude que buscam identificar conteúdos impróprios, palavras cifradas ou troca de mensagens que ferem os termos e a política da companhia".

E destaca que "quase dois milhões de compradores e vendedores seguem as políticas de uso corretamente e se valem da plataforma para garantir renda extra e privilegiar o consumo consciente e a economia circular".