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Tchau, atraso! Como latência do 5G muda a vida de quem curte jogar online

Getty Images
Imagem: Getty Images

Thaime Lopes

Colaboração para Tilt, em São Paulo

27/10/2022 04h00

Quem gosta de jogar online possivelmente já enfrentou um problema comum: foi atirar em algo e o alvo não estava mais lá, foi tentar correr e seu personagem se movimentou de um jeito estranho... A culpa disso tudo envolve a latência, o tempo de resposta entre o comando e a realização da ação. Quanto mais alta ela for, mais vai demorar para o pacote de dados ir e voltar do dispositivo e para servidor.

O problema tende a ser maior durante a jogatina pelo celular com uso de internet móvel 3G e 4G. É aí que o 5G entra para virar esse jogo. A nova tecnologia, que começou a ser implantada no Brasil recentemente, foi criada para ser rápida e estável. A consequência é melhor performance durante o jogo online diante da baixa latência.

"No Free Fire o lag [atraso] da internet interfere no desempenho. Quando a internet é melhor, tem menos atraso de gráfico e menos delay [atraso] de tiro. Com o 5G isso foi eliminado completamente, ou seja, não tem mais esse tipo de desvantagem mesmo na conexão móvel", afirma o jogador profissional Pedro "But" Borges, uma revelações nacionais do jogo para celular mais baixado no país em 2021.

"But" tem usado a conexão 5G para jogar em sua casa em Osasco desde que a o bairro onde mora, Vila Menck, recebeu a cobertura. A diferença da latência foi percebida imediatamente nas partidas, diz o gamer, membro da Liga Brasileira de Free Fire (LBFF).

Pedro "But" Borges, jogador de Free Fire - Divulgação - Divulgação
Pedro "But" Borges, jogador de Free Fire
Imagem: Divulgação

Outra vantagem sentida foi que o tempo de resposta entre os comandos não oscila mais. Isso faz com que o desempenho na partida seja o mesmo do início ao fim. "Em geral, o ping no Free Fire é 17 ms (milissegundos). No 4G subia para 50 ms, 100 ms, e depois caía de novo. Com o 5G a partida começa e termina em 17, fica bem estável", ressalta.

Como jogador profissional, "But" tem uma rotina intensa e a qualidade da internet é exigência do trabalho. Ele costuma treinar com seu time Liquid nas chamadas gaming houses, estruturas que funcionam como centro de treinamentos e moradia. É por isso também que o gamer está acostumado com uma conexão acima da média que temos em casa.

Internet dos adversários também faz diferença

O 5G na casa de "But" tem deixado a experiência de jogo melhor, mas ela sozinha não é tudo. Os adversários também precisam ter uma rede estável e rápida para a experiência ser boa para todos os lados. No Free Fire, se o inimigo estiver "lagado" (termo usado para dizer que a pessoa tem um ping muito alto, ou seja, uma latência alta), ele provavelmente aparecerá em lugares inesperados, seus tiros podem atravessar paredes e situações imprevisíveis podem acontecer.

"Quando eu jogo casual, eu fico muito tiltado [bravo]. A internet ruim dos caras, que às vezes não estão nem no 4G, mas no 3G, prejudica muito a qualidade da partida também. Com a chegada do 5G, eu espero que mais pessoas consigam ter acesso a esse tipo de conexão para melhorar a qualidade das partidas casuais também", ressalta o gamer.

5G pode mudar competições presenciais?

Se dentro de casa o 5G faz diferença para os jogadores, no cenário de competições a tecnologia de quinta geração deve facilitar a realização de eventos não presenciais, segundo alguns analistas de mercado.

Luciano Saboia, gerente de pesquisa e consultoria em telecomunicações da IDC Brasil, aponta que um dos motivos pelos quais tantos campeonatos de esportes eletrônicos acontecem presencialmente é a inexistência de uma rede que garanta a baixa latência, algo fundamental para as disputas. "O 5G então possibilita que os torneios consigam garantir essa baixa latência para todos os jogadores que tenham acesso à rede", diz.

Essa percepção é compartilhada por Rafael Queiroz, gerente geral do Team Liquid. Segundo ele, organizações brasileiras e mundiais veem hoje a latência como um dos grandes desafios no cenário competitivo, justamente pela impossibilidade de garantir uma mesma conexão para várias regiões diferentes do mundo.

Queiroz acrescenta que é normal que times de países da Europa e Brasil, por exemplo, façam treinos em servidores intermediários — nem de um local, nem de outro — para que ambos tenham o mesmo tipo de delay [atraso] da latência, mas que isso só serve para praticar.

Na hora de jogos valendo títulos, o presencial ainda é a única solução. A própria Liga Brasileira de Free Fire e outros grandes campeonatos regionais e mundiais, de Counter-Strike, League of Legends e Valorant, são todos disputados presencialmente.

"É preciso entender como isso vai funcionar no futuro, de forma que a gente consiga diminuir o tempo de resposta em campeonatos que não aconteçam presencialmente enquanto, ao mesmo tempo, a gente não prejudique os profissionais de alto nível", diz Queiroz.