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Para fugir da crise, fazenda de vento no alto mar vira negócio atraente

Parque de energia eólica Em Osório, no Rio Grande do Sul - Ricardo Funari/Brazil Photos/LightRocket via Getty Images
Parque de energia eólica Em Osório, no Rio Grande do Sul Imagem: Ricardo Funari/Brazil Photos/LightRocket via Getty Images

Gabriel Daros

De Tilt, São Paulo

13/01/2022 04h00

A 89 quilômetros de distância da costa leste do Reino Unido, na Europa, 165 turbinas eólicas gigantes inauguraram no final de dezembro do ano passado as atividades do que será a maior "fazenda de vento" do mundo, em pleno alto-mar.

A Hornsea 2, uma usina eólica off-shore, entra em funcionamento para gerar 1,32 Gigawatts (GW) de energia limpa, que serão distribuídas entre uma estrutura de cabeamento de 373 km entre a subestação em alto mar e a rede de distribuição, em Killingholme, Inglaterra.

Em construção desde 2018, o ambicioso projeto supera a sua irmã mais velha, a Hornsea 1, que gerava cerca de 1,22 Gigawatts. Agora, a estimativa é de que as duas "fazendas de vento" marítimas, em conjunto, abasteçam cerca de 2,3 milhões de casas na região.

O que é uma fazenda de vento?

Por definição, uma fazenda de vento é um parque de instalações que se aproveitam da força dos ventos locais para mover as pás das turbinas eólicas — gerando energia através do movimento.

Estas estruturas podem estar instaladas em terra firme (on-shore) ou em alto-mar (off-shore). Para gerar energia, as turbinas precisam de uma altura mínima de 50 metros, com correntes de ar média de 7 a 8 m/s.

Segundo a Associação Latino Americana de Geração de Energia Renovável (ALAGER), foi só na década de 70 que se iniciou a utilização dessa fonte para geração de eletricidade em escala comercial. Após a crise internacional do petróleo, os Estados Unidos e alguns países da Europa se interessaram em diminuir a dependência do petróleo e carvão, investindo em fontes alternativas para a produção de energia elétrica.

Parte dos motivos das fazendas de vento não serem tão comuns no mundo está relacionado às condições de funcionamento das estruturas. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia, o vento apresenta estas condições em apenas 13% da superfície terrestre. A proporção varia muito entre regiões e continentes, chegando a 32% do total na Europa Ocidental — o que explica o aproveitamento do Reino Unido desta fonte de energia.

Energia limpa

Hornsea 2, usina de energia eólica off-shore em alto-mar, na Inglaterra - Reprodução/Ørsted - Reprodução/Ørsted
Hornsea 2, usina de energia eólica off-shore em alto-mar, na Inglaterra
Imagem: Reprodução/Ørsted

A maior fazenda de vento do mundo, da multinacional dinamarquesa Ørsted, é mais uma das etapas pelo Reino Unido de transição energética: até 2035, a região precisa retirar totalmente suas fontes de energia em fontes limpas. O objetivo é mais um marco em um objetivo muito maior: até 2050, o governo quer cortar completamente suas emissões de carbono.

A meta, no entanto, é resposta a uma série de pressões ambientais. Após a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), nações e instituições de vigilância do meio ambiente foram obrigadas a mudar suas fontes de eletricidade para origem limpa.

"A mudança climática é uma das maiores ameaças que o mundo enfrenta hoje, e nós acreditamos que a solução mora na aplicação de fontes renováveis de energia em uma escala muito maior do que já vimos até hoje", afirma Duncan Clark, líder de projeto da Ørsted no Reino Unido.

Segundo o Ministério de Energia do Reino Unido, 20% de todo o abastecimento elétrico do país é originário de fontes limpas e renováveis, com potencial de extensão para 30%. Embora parte da transição seja motivada para evitar problemas irreversíveis do aquecimento global, outro dos objetivos é para evitar crises de abastecimento de energia.

No aspecto eólico, duas outras fazendas de vento, as Hornsea 3 e 4, foram aprovadas para construção em 2020. A conclusão destes dois complexos deve concentrar o maior número de turbinas de vento no mundo todo, ultrapassando a soma de todas as estruturas em outros países.

E no Brasil?

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), cerca de 248 megawatts (MW) são gerados por energia eólica no Brasil, derivados de dezesseis empreendimentos em operação. No entanto, pesquisas apontam que este número poderia ser muito mais significativo para o país.

No Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, mapeado pelo Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), foi documentado uma estimativa de 143,5 GW de possível geração de energia em solo. A maior parte destas fontes em potencial está localizado no litoral do Nordeste, gerando 144,29 terawatts por hora ao longo de um ano (TWh/a). As regiões Sudeste (54,93 TWh/ano) e Sul (41,11 TWh/ano) do país também possuem potenciais expressivos.

Para a ALAGER, os números enganam: o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro não contempla as áreas off-shore do Brasil, cujos 7.367 km de extensão possuem estruturas que exploram jazidas de petróleo e gás natural na região. Segundo a instituição, o projeto seria facilmente adaptável para fazendas de vento em alto-mar.

"Esta via deve ser ainda cuidadosamente avaliada, tendo em vista que estes projetos apresentam um maior volume específico de energia elétrica gerada ao beneficiarem-se da constância dos regimes de vento no oceano", afirma a instituição em nota.

No momento, o Nordeste lidera a produção de energia eólica no Brasil, com projetos que vão de turbinas de vento convencionais até outros mais ousados. Um deles, no Rio Grande do Norte, é uma usina que aproveita a força potencial gravitacional para converter a resistência do ar em energia elétrica ao descer blocos de concreto, assim, "estocando vento".