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Motorista nota 5: ele ajudou em parto no Uber e ganhou R$ 3 mil de presente

O motorista de Uber Nerivan Aguiar dirigindo seu carro (esq.) e ao deixar o hospital após internação por covid-19 - Arquivo pessoal
O motorista de Uber Nerivan Aguiar dirigindo seu carro (esq.) e ao deixar o hospital após internação por covid-19 Imagem: Arquivo pessoal

Priscila Carvalho

Colaboração para Tilt, do Rio de Janeiro

26/11/2021 04h00Atualizada em 26/11/2021 09h58

Com nota máxima (5) como motorista de Uber e três anos trabalhando com a plataforma, Nerivan Aguiar, 52, coleciona histórias surpreendentes: ele já ajudou uma mulher a dar à luz dentro do carro, levou uma mãe desesperada para o hospital e auxiliou um passageiro com falta de ar com diagnóstico de covid-19 — mal imaginava ele que também seria vítima da doença.

As "aventuras" do motorista viralizaram nas redes sociais após uma passageira compartilhar as lembranças que ouviu de Nerivan durante uma viagem de Uber. Um dos perfis que reproduziu os relatos contabilizou mais de 67 mil curtidas.

Depois da publicação, em setembro deste ano, o motorista começou a ganhar notoriedade, mas ficou impedido de continuar seu trabalho como motorista (e de dar entrevista) por causa da covid-19. Dias após o sucesso da postagem, ele precisou ser internado e passou quase um mês na UTI. "Era do serviço para dentro de casa. Mas eu creio que peguei a doença enquanto estava trabalhando", diz a Tilt.

Parto no carro

Uma das histórias mais curiosas que Nerivan presenciou foi a vez em que ele precisou ajudar uma mulher ter um bebê. Tudo aconteceu dentro de seu carro, durante uma viagem na cidade de Osasco, região metropolitana de São Paulo.

A caminho do hospital, a bolsa da passageira estourou e eles não tiveram muito o que fazer. A primeira reação de Nerivan, conta ele, foi parar o carro e prestar ajuda.

"Eu ajudei o bebê a sair e não teve nenhum tipo de complicação. Depois a levei para o hospital para cortarem o cordão umbilical", relembra.

Depois do susto, a mulher o agradeceu muito, lembra o motorista.

"Presente" de R$ 3 mil

Em uma outra situação, Nerivan avistou uma senhora na rua, que estava um pouco desorientada, de chinelos de dedo e com apenas o celular na mão. Ela disse que precisava visitar a filha no hospital e estava muito nervosa.

Na hora, ele lembra que a acalmou e a levou para o local. A passageira disse que tinha saído sem dinheiro para pagar a viagem de Uber e, mesmo assim, Nerivan aguardou as duas voltarem. Ele encerrou o trajeto via aplicativo e aguardou para levá-las de volta para onde elas precisavam ir.

A senhora agradeceu e disse que iria retribuir. Dois dias depois, a passageira ligou para Nerivan pedindo os dados bancários do motorista, dizendo que iria pagar a corrida.

Para o espanto dele, a senhora havia depositado R$ 3 mil na conta bancária, e o motorista de app ficou sem entender.

"Liguei para ela na hora e disse que o valor era um engano. Ela falou que não e que estava certo e para eu aceitar", diz.

O valor veio em boa hora, já que o motorista tinha uma dívida exatamente nesse valor, destaca.

Bêbado até dormir

A vida de motorista de Uber tem lá algumas emoções, mas algumas situações dão mais dor de cabeça do que qualquer outra coisa.

Nerivan conta que uma vez estava trabalhando de madrugada e pegou um passageiro muito bêbado. Até aí, não chegou a ser um problema, já que não seria nem a primeira nem a última vez que isso aconteceria.

Porém, o homem dormiu no carro e não acordou de jeito nenhum, explica. "Eu achei que ele estava cansado. Apagou totalmente."

Quando chegou perto do destino, o motorista tentou acordar o passageiro diversas vezes. Mexeu, chacoalhou, mas tudo sem sucesso.

Foi aí que ele desceu do carro e começou a tocar a campainha da residência do homem e alguém da família apareceu. "Me apresentei, disse que era motorista de app e que ele tinha apagado dentro do carro", conta.

De forma curiosa, um dos familiares disse que a prática era comum e que ele só iria acordar no dia seguinte. Para retirá-lo do carro, foi preciso ajuda dele e de mais dois homens.

Retorno após covid-19

Logo que o post viralizou, Tilt procurou o motorista para ouvir de perto as histórias e aventuras como motorista de Uber. Foi numa das tentativas de contato que recebeu a notícia de que ele estava na UTI, em decorrência da covid-19. "Eu lembro que passei a noite meio mal, fui para o hospital e só lembro disso", diz.

O processo foi repentino, ele sofreu um infarto e passou dias no leito hospitalar, lembra o condutor. Foram 29 dias internado, sendo 14 na UTI.

Hoje, Nerivan já está em casa, mas precisa fazer sessões de fisioterapia para recuperar os movimentos da perna, devido ao longo período acamado. Por isso, o retorno ao volante vai demorar mais um pouco, uma situação que o preocupa.

"Antes a Uber reembolsava por um período de 14 dias [quem fosse contaminado pelo coronavírus], baseado nos seus ganhos dos últimos três meses, mas isso não ocorre mais. Quem está sustentando aqui em casa é a minha companheira", afirma.

Os desejos futuros dele e de sua família é o retorno às ruas de São Paulo e da rotina como motorista: "eu fui na garagem, pisei na embreagem e até consigo dirigir. Mas pisar duas vezes na embreagem é uma coisa, quero ver por muitas horas. Não vejo a hora (de voltar). Sinto uma saudade danada. Com fé em Deus ano que vem estarei dirigindo", conclui.