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Como um matemático idoso usou álgebra para ganhar US$ 26 mi na loteria

Jerry Selbee (dir) ao lado de sua esposa, Marge (esq.) - Reprodução
Jerry Selbee (dir) ao lado de sua esposa, Marge (esq.) Imagem: Reprodução

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

15/12/2020 04h00Atualizada em 15/12/2020 15h13

Jerry Selbee teve uma juventude humilde. Mas sempre conseguia, facilmente, resolver contas e problemas nos quais os adultos tinham dificuldade. Ele se formou em Matemática, mas acabou indo trabalhar como vendedor, em fábricas e escritórios, para conseguir sustentar os seus filhos e a esposa, Marge.

Até decidir abrir seu próprio negócio: uma loja de conveniência, na cidade de Evart, Michigan, nos Estados Unidos. Por anos, lá ele vendeu produtos comuns, mas se saía melhor do que a concorrência.

Jerry analisava os preços de fornecedores, identificava as melhores margens de lucro e até revendia suprimentos para pequenos varejistas da região. Ele fazia gráficos sobre os ganhos por metro quadrado de sua loja.

Em dado momento, comprou uma das únicas máquinas de loteria da cidade. Pessoas percorriam quilômetros para tentar a sorte na loja de Jerry - que nunca sequer tinha comprado um bilhete de loteria. Mas, vendo a comoção das pessoas para jogar, ele passou a estudar os números por trás da "sorte".

Em 2003, um jogo de loteria diferente, chamado Winfall, mudou o cenário. A premissa era simples: escolha seis números entre 1 e 49. Algo parecido com a Mega-Sena brasileira.

Quem adivinhar dois, três, quatro ou cinco números, recebe um prêmio em montantes crescentes. Acerte seis e ganhe no mínimo US$ 2 milhões. Se ninguém conseguisse, o valor acumulava para a próxima semana.

Depois de seis semanas, ou ao atingir um acumulado máximo de US$ 5 milhões, era previsto um "roll down": o prêmio seria distribuído para os ganhadores de níveis inferiores, com 5, 4 ou 3 acertos.

Este foi o erro da loteria estadual - e a brecha que Jerry precisava. Ele estudou os momentos em que essa distribuição ocorreria e as probabilidades de vitória. E descobriu que, estatisticamente, um único bilhete de um dólar valia muito mais do que o próprio um dólar nestas semanas finais.

Mas era preciso investir alto para a matemática funcionar. Na primeira tentativa, Jerry comprou US$ 2.000 em bilhetes - algo já bem desconfortável para um homem que nunca jogava. Resultado: ele ganhou apenas US$ 1.950, ficando com um prejuízo de 50 dólares.

Jerry sabia que estava dentro da margem de erro, e que ele precisaria apostar ainda mais. Três meses depois, no próximo "roll down", comprou US$ 8.000 em bilhetes. Finalmente, um lucro de US$ 7.700 ($ 15.700 em prêmios) comprovou sua teoria.

A partir daí, o céu era o limite. As apostas de Jerry aumentavam a cada vez que era o momento propício, chegando a centenas de milhares de dólares.

Como os bilhetes precisam ser comprados pessoalmente, Jerry e sua esposa se dividiam em dois carros até inúmeras lojas de conveniência por todo o estado. E continuaram por uma década inteira nesta missão.

O governo não percebeu nada de estranho. Até que um grupo de alunos do MIT também encontrou a falha na matemática e começou a comprar bilhetes. Uma notícia revelou o esquema, e o jogo foi encerrado.

Mas, até aí, o casal já havia ganhado mais de US$ 26 milhões na loteria estadual. Descontando o custo dos bilhetes e os impostos, um lucro de mais de US$ 8 milhões.

Jerry e Marge já estavam na casa dos 70 anos. Usaram o dinheiro para reformar a casa e pagar a faculdade de seus 14 netos. Nenhuma lei jamais foi quebrada. Apenas um homem inteligente que passou através de um buraco matemático.