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Contratação via IA e UTI-conteiner: como startups ajudam no combate a covid

mcmurryjulie/ Pixabay
Imagem: mcmurryjulie/ Pixabay

Michel Alecrim

Colaboração para Tilt

16/04/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Startup Triágil criou plataforma que fala com usuários para passar informações sobre covid
  • Paulista Mymedi passou a oferecer de graça seu sistema de teleconsulta
  • Rocketmat fez seleção em tempo recorde de médicos usando inteligência artificial
  • Gemelo teve ideia de transformar contêineres em UTIs móveis

O termo "dor" é muito usado pelas startups quando se referem a problemas reais de clientes. Agora essas empresas vêm analisando cada vez mais esses sinais para criar alternativas que lidem com a disseminação do coronavírus.

Para evitar o colapso do sistema de saúde no Brasil, essas empresas estão correndo contra o tempo para encontrar diagnósticos mais rápidos, evitar corrida aos prontos-socorros, ampliar a capacidade de atendimento para os pacientes em estado mais grave e auxiliar outros tipos de tratamento.

Autoavaliação para coronavírus

Como o vírus ameaça contaminar cerca de 70% da população, e a maioria pode se cuidar em casa, a startup carioca Triágil criou uma plataforma que conversa com os usuários para passar informações adequadas. O conteúdo segue orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Triagil - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

"Nosso objetivo é ajudar a monitorar o máximo de famílias no Brasil. Como já temos experiência com soluções para a população de baixa renda, pensamos numa alternativa fácil de entender e que não fosse muito pesada em termos de dados", diz Gustavo Rocha, sócio-fundador da Triágil.

A avaliação criada pela empresa está disponível gratuitamente no site da empresa e pode ser acessada tanto no computador quanto no celular. Para evitar gastos excessivos de dados, evitou-se criar um aplicativo. Um programa do tipo PWA (progressive web app) fica gravado no aparelho para facilitar os próximos acessos.

A ideia é que a plataforma vire uma "companheira" do paciente para saber suas carências e dar orientações até o momento de procurar um médico. A aplicação está conectada a plataformas de teleconsultas.

Outra solução de autoexame da Caren está disponível no site www.coronavirus.caren.app. A startup, também do Rio, desenvolveu essa consulta para quem está em dúvida se contraiu o vírus ou não. Ao final da avaliação, a pessoa é classificada em "caso descartado", "caso provável" ou "caso suspeito".

"Passamos também algumas recomendações de comportamento e higiene, com base em boletim epidemiológico do Ministério da Saúde", afirma Thiago Bonfim, executivo-chefe da Caren.app.

Apesar da ajuda, é preciso cautela. Em março, Eliie Fiss, médico pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e da Faculdade de Medicina do ABC, falou a Tilt que as pessoas devem tomar cuidado para não entrarem em pânico após o diagnóstico de plataformas como essas. "Se não tiver com pelo menos dois sintomas ou tiver sem febre, o paciente não deve ir ao hospital", afirmou na ocasião.

Caren.app - Reprodução - Reprodução
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Teleconsulta

A chamada telemedicina tem sido uma opção para esses tempos de quarentena. Ficar em casa é a recomendação para quase todo mundo, mas é ainda mais relevante para idosos e portadores de doenças crônicas, que continuam precisando de consultas médicas. A tecnologia faz essa ponte com o médico, sem risco de contaminações.

A startup médica paulista Mymedi passou a oferecer de graça sua plataforma por profissionais de saúde de todas as especialidades e de todo o Brasil, depois que a maioria dos estados adotou medidas para que as pessoas ficassem em casa.

O ambiente virtual permite a emissão de prescrições e pedidos de exames com assinatura digital. Todos os dados ficam gravados no prontuário eletrônico do paciente, que pode ser acessado depois, mesmo após terminar o período de gratuidade do sistema.

"Para pessoas que sofrem de problemas crônicos, a telemedicina pode ajudar muito, pois já existe uma forte relação médico-paciente. Assim, grande parte das demandas pode ser resolvida online, incluindo a renovação de receitas, o que já é permitido pela legislação brasileira", diz Paulo Lazaro, um dos idealizadores do Mymedi.

mymedi - Reprodução - Reprodução
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Contratação de profissionais de saúde

O aumento da procura por atendimento nos hospitais por conta da covid-19 já é uma realidade, o que traz a necessidade imediata de contratação de pessoal.

O Hospital Albert Einstein, de São Paulo, vinha fazendo uso da inteligência artificial para a seleção de currículos e precisou recorrer à Rocketmat, com a qual já estava atuando, para a seleção em tempo recorde de médicos, profissionais de enfermagem e de áreas técnicas para atender à forte demanda.

O sistema da empresa avalia rapidamente milhares de currículos e seleciona os mais adequados por vagas. A indicação não dispensa uma avaliação humana e entrevista, mas evita a consulta demorada ao banco de dados. Em três dias, com a ajuda de algoritmos e a participação do setor de Recursos Humanos, foram preenchidas 150 vagas.

"Garantimos uma avaliação mais democrática porque cobrimos todos os currículos e indicamos com maior precisão quem tem capacitação profissional, as características comportamentais e técnicas adequadas para a vaga", afirma Tiago Machado, sócio-fundador da Rocketmat.

Rocketmat - Reprodução - Reprodução
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Equipamento hospitalar

O aumento no número de casos de covid-19 tende também a gerar gargalos na infraestrutura hospitalar. Para o diagnóstico em pacientes graves, a tomografia dos pulmões deve ser exame recorrente, e a falta de equipamentos pode prejudicar os atendimentos.

A NeuralMed desenvolveu em parceria com o Hospital das Clínicas de São Paulo um sistema baseado em inteligência artificial, que permite uma avaliação dos pulmões dos pacientes a partir de exames de raio-X de tórax, que são mais acessíveis. O grupo de radiologistas já vinha trabalhando na ferramenta, que pode ser útil para detectar a doença e acelerar a resposta ao tratamento.

"Acreditamos que a eficiência no fluxo (tanto no pré quanto no pós-diagnóstico) pode diminuir bastante o tempo de atendimento dos casos graves, afetando o desfecho médico. Haverá maior assertividade dos médicos, que terão de tomar decisões rápidas em um pronto-socorro", afirma Anthony Eigier, fundador da NeuralMed.

NeuralMed - Reprodução - Reprodução
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UTI móvel

Esse rali para salvar vidas pode ser ainda mais grave no Brasil se não houver um aumento no número de leitos de UTI. Uma empresa de São Paulo especializada na montagem de data centers para grandes empresas e órgãos públicos teve a ideia de transformar contêineres em UTIs móveis.

A montagem já começou a ser preparada na fábrica em Mococa, no interior de São Paulo. Os governos do Pará e do Rio de Janeiro estão negociando as primeiras compras. Cada unidade tem capacidade para oito leitos.

"São células estanques, que não permitem a contaminação externa e são à prova de fogo. Além disso, têm a vantagem de ser facilmente transportadas. Podem desafogar o atendimento de um hospital ou UPA ou até serem instaladas numa praça", diz Sidney Fabiani, presidente da Gemelo.

Gemelo - Reprodução - Reprodução
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Responsável pelo hackathon Hacking.Rio, Lindalia Reis diz que há muitas soluções tecnológicas que vinham sendo pouco utilizadas e que podem ser fundamentais nesse momento de crise. Ela lançou um desafio e já reuniu 278 startups que disponibilizaram ferramentas para o enfrentamento da covid-19.

"Estamos diante de uma emergência e precisamos agir rápido. Algumas empresas terão que ter criatividade também para conseguir validar suas soluções em tempo recorde. A colaboração entre todos é muito importante", diz.

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