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Sem apoio da igreja, empresa lança imagem-robô de Nossa Senhora Aparecida

Empresa lançou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida que se mexe e reza sozinha - Divulgação
Empresa lançou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida que se mexe e reza sozinha Imagem: Divulgação

Thiago Varella

Colaboração com o Tilt

28/09/2019 04h00

Em 1717, três pescadores encontraram uma imagem de Nossa Senhora da Conceição no rio Paraíba do Sul, dando início à devoção à Nossa Senhora Aparecida. Pouco mais de 300 anos depois, a santa, que virou a Padroeira do Brasil, ganhou uma versão eletrônica, que reza e se mexe.

Segundo o fabricante, trata-se de uma imagem de devoção como qualquer outra feita de madeira ou de gesso. A diferença é que a versão "robótica" de Nossa Senhora Aparecida faz preces e orações, recita versículos bíblicos, salmos e provérbios, reza o terço com todos os mistérios, novenas, ladainhas e recita fatos históricos relacionados à santa. No total, são quatro horas de áudio.

Tudo pode ser programado por meio de uma tela touchscreen instalada na base da imagem. Além disso, a santa-robô tem movimentos movimentos na cintura, costas, braços, ombros e cabeça.

De resto, é uma imagem réplica da original, com 26 cm de altura, com manto de veludo e coroa banhada a ouro.

"A diferença de uma imagem comum é que esta é um robô. Mas o mais importante é o significado que ela tem para nós, devotos católicos, já que isso não se altera, não muda, em comparação a uma imagem convencional de barro ou gesso. Ela continua sendo o mesmo objeto de fé e devoção", afirmou a Sanctronic Eletroarte Sacra, que fabrica a santa.

A iniciativa de ter feito uma santa-robô foi da fabricante, sem qualquer tipo de ajuda da Igreja Católica. Segundo a empresa, nenhum padre apoiou o projeto.

"Não sabemos a opinião da Igreja [Católica] a respeito. Mandamos material de divulgação mas nunca obtivemos uma resposta. Mandamos até mesmo ao Vaticano", disse.

Apesar da falta de aval da Igreja Católica, a Sanctronic contou que as reações têm sido positivas, especialmente pelas crianças.

"Talvez as crianças gostem porque os artefatos eletrônicos —com tela de toque inclusive— fazem parte do mundo delas. Elas já nasceram neste mundo", afirmou.

Ceci Mariani, doutora em Ciências da Religião e professora do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da PUC-Campinas, tem ressalvas em relação a uma santa-robô. Para ela, a imagem de Nossa Senhora é um ícone "que ajuda a contemplar a presença maternal e protetora de Deus."

"Na minha opinião, essa imagem é uma mercadoria que serve a uma espiritualidade de consumo e não ao aprofundamento de uma piedade autêntica. É apenas mais uma inovação no mercado religioso", criticou.

Para a professora, a Igreja Católica sob a condução do papa Francisco caminha para o despojamento e a simplicidade.

"Creio que ela [a Igreja Católica] não incentivaria a adesão esse tipo de piedade. Espero, sinceramente, que isso não seja uma tendência para o futuro. Tenho esperança que o futuro nos possibilite uma vivência religiosa profunda, verdadeiramente mística, livre de recursos e apegos superficiais", completou.

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