Gula digital: tecnologia e comida podem unir forças para alimentar o mundo
Comida e tecnologia parecem ser daquelas misturas estranhas, mas, dá para pensar algumas conexões entre os dois temas: encontramos entusiastas de gastronomia nas redes sociais, usamos aplicativos de receitas e a biotecnologia pode melhorar a qualidade das plantações.
Será que há um limite para essa mistura? E seria a tecnologia a resposta para lidarmos com problemas antigos como fome e desnutrição? Essas e outras questões serão abordadas no Festival Path, principal evento de inovação e criatividade do Brasil e que em 2019 é apresentado pelo TAB. O Path ocorre nos dias 1 e 2 de junho, em São Paulo.
Na palestra "Gula Digital: Por Que a Tecnologia Vai Nos Alimentar Mais e Mais até 2050?", o engenheiro agrônomo Marcos Rípoli, a jornalista de gastronomia Marisa Furtado e a engenheira de alimentos Renata del Claro abordarão como a cultura digital muda a cultura gastronômica e vice-versa.
Um ponto central na discussão seria um estudo da ONU que supõe que o mundo precisará de 70% mais alimentos para a população em 2050 --esta, por sua vez, estará estimada em 9,6 bilhões de pessoas. Hoje, somos 7,6 bilhões.
O problema é que o modelo atual está saturado, não sustenta tamanha demanda e exige novos formatos. Além disso, o acesso das pessoas à comida precisa melhorar. Para Marisa Furtado, o binômio fome/superalimentação é sustentado por uma falha logística-comercial a ser superada por novas tecnologias.
Além de reduzir as áreas de extrema pobreza alimentar, os chamados "desertos alimentares", as novas tecnologias permitirão a redução do desperdício e a conscientização sobre um novo jeito de se alimentar que sim, passa pelo saudável, mas principalmente pela conscientização de que sobreviveremos com recursos escassos
Marisa Furtado
Para Renata del Claro, a solução passa pela produção em larga escala "comida de verdade", com ingredientes naturais, que entrega valor nutricional, reduz o desperdício, aumenta segurança alimentar e a conveniência. "Num mundo que busca cada vez mais profundidade, responsabilidade e transparência nas relações", diz.
Mas como isso seria feito na prática? O trio deverá abordar algumas propostas. Por exemplo:
- Empresas podem usar plataformas digitais para adquirir e revender com rapidez produtos que estão prestes a vencer, evitando o desperdício
- Impressão 3D de alimentos; "no Japão já existem restaurantes que fazem sushi desta forma", diz Marcos Rípoli
- Robótica no atendimento; "um quiosque de café possa entregar milhares de pedidos num único dia, o que seria impossível com a mão de obra humana", diz Marisa Furtado
- Monitoração na aquacultura, que identifica os melhores peixes, recomendam a dose e tipo de alimentação para eles e alertam para casos de mortalidade
Não seria apenas nas questões mais pragmáticas que a inovação entra, mas na experiência também. Rípoli teoriza que recursos como realidade aumentada e estações de adição de sabores podem promover formas mais personalizadas de degustar bons pratos.
Do lado das empresas, alguns processos novos deverão ser:
- Incremento da agronomia com espectrologia (estudo dos espectros de luz) e blockchain (sistema mais seguro para proteção de dados);
- Mais transparência nos métodos de segurança alimentar;
- Sistemas autônomos de entrega de alimentos;
- Big data (tratamento de um grande volume de dados) para melhorar a produção, criação e personalização às demandas de alimentos
Apesar do otimismo, o tema vai ser cuidado com os pés no chão, dizem os palestrantes. Outro ponto importante é como nós repensaremos nossa relação com a comida nesse futuro. Uma tendência em ascensão, o ativismo foodie --que luta por melhorias na cadeia de alimentação-- vai se beneficiar bastante desse panorama.
"O ativismo foodie faz pressão na indústria da alimentação e clama mudanças urgentes na diminuição das 'injustiças alimentares'. A educação para o fomento do consumo local, das novas proteínas e do diverso também tem que ser difundido exponencialmente. Não existe avanço tecnológico se não houver uma motivação humana essencial", explica Marisa.
Para a jornalista, a distopia alimentar é um fato e o uso das tecnologias para acelerar uma solução definitiva é, "por enquanto", a nossa melhor aposta para acabar com a fome e melhorar a qualidade da alimentação.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.