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Thiago Gonçalves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Como a ciência descobriu 5.000 planetas fora do Sistema Solar em 30 anos?

Ilustração artística mostra a variedade de exoplanetas que já conhecemos - Martin Vargic
Ilustração artística mostra a variedade de exoplanetas que já conhecemos Imagem: Martin Vargic

24/03/2022 04h00

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É isso aí pessoal. Após quase 30 anos de pesquisa, chegamos à marca de 5.000 planetas confirmados fora do Sistema Solar. É um número impressionante, e uma história que vale a pena ser contada.

Tudo começou na década de 90, quando imaginávamos que deveria haver outros sistemas planetários no universo. Afinal, se temos 8 planetas ao redor do Sol, por que não em outras estrelas? O problema era apenas encontrá-los.

O primeiro planeta descoberto foi uma surpresa; ele não orbitava uma estrela comum, mas sim um pulsar, ou seja, uma estrela de nêutrons com forte campo magnético. Foi justamente a frequência precisa de 6,22 milissegundos do pulsar PSR B1257+12 que permitiu a descoberta de planetas ao seu redor.

Examinando as anomalias na frequência das ondas de rádio, o astrônomo polonês Aleksander Wolszczan determinou em 1992 a existência de dois planetas ao seu redor, com massas pouco maiores que a da Terra. Hoje sabemos também da existência de um terceiro planeta no sistema.

O trabalho mais famoso, no entanto, talvez seja a descoberta de 51 Pegasi b, por Michel Mayor e Didier Queloz, em 1995. Pela primeira vez encontramos um planeta ao redor de uma estrela "normal".

O estudo utilizou a técnica de velocidades radiais. Como não podemos "ver" o planeta diretamente na maioria dos casos, temos que investigar o movimento da estrela hospedeira, causado pelo planeta orbitando ao seu redor.

O trabalho, que recebeu o prêmio Nobel de 2019, também foi importante por provar a existência de jupíteres quentes: planetas com a massa do nosso vizinho gigante, mas tão próximo à sua estrela que completa uma volta ao redor do astro em poucos dias.

É uma descoberta enviesada, claro, pois esse tipo de planeta atrai a sua hospedeira mais fortemente, facilitando sua descoberta. De qualquer forma, o trabalho revolucionou nosso entendimento sobre a formação de sistemas planetários no universo, mostrando algo que simplesmente não existe no Sistema Solar.

Na década seguinte, em 2008, começaram a surgir as imagens diretas destes exoplanetas.

As observações ainda hoje são um desafio, já que a imagem é contaminada pela forte emissão luminosa da estrela hospedeira. Temos hoje instrumentos em telescópios especializados nesse tipo de imagem — mas não esperem fotos de um mundo alienígena, pois conseguimos ver os planetas apenas como pequenos pontos de luz.

Ainda assim, até o começo da década de 2010, nosso conhecimento ainda dependia de algumas poucas dezenas de planetas descobertos sobretudo pela técnica de velocidades radiais.

Isso mudou com o lançamento do telescópio espacial Kepler, que descobriu planetas através da técnica de trânsito, ou seja, a diminuição de brilho da estrela quando um planeta passa na sua frente.

Com ele, passamos a descobrir centenas de planetas por ano, e finalmente os astrônomos tinham a capacidade de estudar planetas estatisticamente, determinando ambientes mais propícios à sua formação.

Sabemos, por exemplo, que estrelas com mais elementos pesados em sua composição têm maior chance de hospedar um planeta gigante, com implicações importantes para entendermos como planetas nascem ao redor de estrelas.

Mas a ciência não para.

Com o telescópio espacial James Webb, assim como a próxima geração de telescópios gigantes a serem inaugurados nos próximos anos, temos a perspectiva de investigar a atmosfera destes planetas. Isso poderá nos oferecer dicas importantes sobre a existência de vida nestes mundos.

Ao mesmo tempo, é importante lembrar que conhecemos 5000 planetas, mas existem bilhões apenas em nossa própria galáxia, a Via Láctea.

O espaço é enorme, e o potencial de novas descobertas ainda é gigantesco.