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Thiago Gonçalves

REPORTAGEM

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Nômade do espaço: astrônomos descobrem planetas arrancados de suas estrelas

Concepção artística de um planeta nômade, que não orbita nenhuma estrela - Nasa
Concepção artística de um planeta nômade, que não orbita nenhuma estrela Imagem: Nasa

24/02/2022 04h00

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Planetas flutuantes, errantes ou nômades. São nomes diferentes para denominar aqueles planetas que não orbitam uma estrela, vagando pelo espaço sem direção. Embora pareçam misteriosos, agora temos fortes indicações de que esses objetos foram arrancados de sua órbita, graças aos estudos de uma equipe de astrônomos europeus.

O primeiro desafio para esse tipo de trabalho é encontrar os planetas. Embora hoje já existam quase 5.000 exoplanetas confirmados, todos eles estão orbitando outras estrelas; isso é o que nos permite descobri-los, graças à diminuição de brilho ou puxão gravitacional sobre sua estrela hospedeira.

No ano passado, escrevi sobre o método de encontrar planetas usando a relatividade geral de Einstein, ou seja, o efeito causado pela curvatura do espaço-tempo quando o planeta passa na frente de uma estrela distante no fundo.

Embora interessante, o método tem uma desvantagem: o planeta viaja em linha reta, e não há como observá-lo novamente e confirmar a descoberta.

Agora, a equipe liderada por Núria Miret-Roig, da Universidade de Bordeaux, na França, teve uma ideia diferente. Sabendo que planetas recém-formados são quentes (podendo ultrapassar os 1.000°C), e que, por isso, emitem radiação infravermelha, os cientistas então buscaram nos dados históricos pequenos pontos que pudessem ser planetas.

As regiões do Escorpião Superior e Ofiúco eram ideais para o estudo. Como áreas de formação de novas estrelas, a maioria dos objetos ali são relativamente jovens (astronomicamente falando), abrigando estrelas com idades de apenas alguns milhões de anos. O desafio então era encontrar os menores e mais frios pontos nos dados.

Estrelas e planetas, no final das contas, podem não ser tão diferentes. São esferas de material sustentada pela gravidade, formadas a partir de nuvens de gás.

A diferença principal está na massa: estrelas têm tanto gás que quase não conseguem aguentar o próprio peso, "espremendo" tanto seus átomos que eles iniciam o processo de fusão nuclear para formar outros elementos — é assim que o nosso Sol funciona.

Entre as duas categorias, temos as anãs marrons, que não têm massa suficiente para fundir hidrogênio, mas podem fundir outros elementos e produzir um pouco da própria energia. No entanto, diferenciar uma anã marrom pequena de um planeta grande já se torna complicado.

Por isso é difícil determinar, nos resultados finais, quantos planetas são exatamente. Dependendo do modelo usado e da idade exata da população na região, o número pode ser de 70 a 170 planetas nômades.

Mesmo assim, o resultado é interessantíssimo.

De acordo com o que conhecemos sobre a formação de planetas, é impossível que uma quantidade tão grande tenha se formado sozinho, afastado de uma estrela hospedeira.

A equipe concluiu, então, que no mínimo 10% deles deve ter se formado, sim, no disco de uma estrela, mas foi arrancado dali por uma interação gravitacional com outro planeta.

É como se a Terra ou Marte, na juventude do Sistema Solar, passassem muito próximos a Júpiter, que os ejetaria para o espaço. Sabemos que não aconteceu conosco, mas algumas teorias sobre o nosso sistema especulam que havia um planeta gigante entre Saturno e Urano que foi expulso exatamente dessa forma.

As conclusões do estudo dependem um pouco da idade dos sistemas — algo que não sabemos com certeza absoluta—, mas são um forte indicativo de que a ejeção de planetas em sistemas planetários jovens é um fenômeno comum.