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Helton Simões Gomes

Formado pela Faculdade Cásper Líbero e com especialização em economia e mercado financeiro, foi repórter do jornal Folha de S.Paulo e do portal G1. No UOL desde 2017, foi repórter de Tilt e editor do núcleo de diversidade. Ganhou os prêmios CNI de Jornalismo, Diversidade e Respeito do Conselho Nacional do Ministério Público e o Prêmio UOL - 2021, na categoria iniciativa inovadora. Atualmente, é editor de Tilt.

Cargo

Editor

Localização

São Paulo

Idiomas

Inglês e Espanhol

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

"Ei, Siri, tô tomando um enquadro" é a tecnologia trabalhando para você

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista de Tilt

25/04/2021 04h00

Não raro, inovações tecnológicas surgem num dia e, de tão inúteis, caem num profundo abismo do esquecimento na semana seguinte. Esse parecia o destino dos Atalhos, um jeito que a Apple inventou para ensinarmos à Siri novas ações automáticas. Muita empresa fez alguma coisinha ou outra com isso, mas nada que seus apps já não fizessem.

Esta semana, a dona do iPhone deveria agradecer a um engenheiro de software brasileiro. Ao criar um modo de solucionar (em partes) um problema corriqueiro que, infelizmente, atinge milhões de jovens brasileiros, ele afastou os Atalhos um pouco da beira do precipício.

Após ler uma reportagem sobre como motoristas americanos estavam usando os Atalhos para registrar ocorrências de trânsito com a polícia, Bruno Dombidau pensou que podia fazer algo semelhante. Mas precisava ter algo com o Brasil. Foi então que ele fez o seguinte:

Com frequência insuportável, imagens produzidas por celulares e outros aparelhos eletrônicos são usadas para comprovar desvios policiais. Não fosse por isso:

  • Derek Chauvin não teria sido condenado por matar George Floyd após se ajoelhar por mais de 9 minutos sobre seu pescoço. Se tivéssemos imagens...
  • ... A família de Thiago Aparecido Duarte de Souza não seria obrigada a dividir o luto com a indignação de ser obrigada a provar que o jovem era inocente. Morto nesta semana...
  • ... Ele foi baleado na cabeça. O tiro foi disparado por um policial, quando Souza ia à padaria para comprar pão e leite. Isso...
  • ... É o que diz a família. Já o o servidor público afirma que ele reagiu. A que? Ao pedido para se deitar no chão. Acontece que Souza tinha atraso intelectual e não entendeu a ordem. Custou-lhe a vida.

Muita tecnologia é criada para fazer de seus usuários os reais produtos. Ahn? Sabe aquela fotinha publicada no Facebook ou no Instagram? Ela atrai outras pessoas, e é essa atenção que Mark Zuckerberg vende a anunciantes, por exemplo. No fim das contas, é você quem serve à tecnologia, não o contrário.

Nesta semana, o UOL publicou os primeiros capítulos do projeto "Origens", que mostra como 20 personalidades negras resgataram suas raízes familiares por meio de testes de DNA, que mostram de onde vieram os antepassados das pessoas. Esses exames só se tornaram comercialmente mais acessíveis após muitos avanços movidos pelo desejo de colocar ciência e tecnologia a serviço do ser humano, não o contrário.

Com eles, milhões de brasileiros podem, enfim, preencher algumas lacunas em suas famílias. Em escala menor, a invenção de Dombidau pode ajudar muita gente que é alvo frequente do abuso de poder nas ruas. Que mais inversões como essa ocorram por aí. Talvez mais famílias pudessem enterrar seus mortos em paz.

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