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Felipe Zmoginski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como a 'rainha das criptomoedas' usou a rixa entre China e EUA em seu golpe

Caso da "rainha das criptomoedas" Ruja Ignatova, fundadora da OneCoin, revela falta de colaboração tecnológica entre EUA e China - Wikimedia Commons/OneCoin Corporation
Caso da "rainha das criptomoedas" Ruja Ignatova, fundadora da OneCoin, revela falta de colaboração tecnológica entre EUA e China Imagem: Wikimedia Commons/OneCoin Corporation

11/07/2022 04h00

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A rivalidade tecnológica entre chineses e americanos permitiu que uma mulher acusada de enganar investidores com um esquema fraudulento baseado em criptomoedas repetisse nos Estados Unidos crimes já cometidos na China. O caso só se tornou público esta semana, quando o FBI anunciou a inclusão da cidadã búlgara Ruja Ignatova, que ficou conhecida como "rainha das criptomoedas", na lista de pessoas procuradas.

Ruja é fundadora da OneCoin, startup com sede na Europa e servidores na Dinamarca, que emite uma criptomoeda de mesmo nome. Ruja elegeu a China como "mercado prioritário" de sua empresa iniciante e, entre 2011 e 2013, se esforçou em atrair investidores chineses para sua plataforma. Ao todo, segundo autoridades chinesas, Ruja captou inacreditáveis US$ 4 bilhões no país asiático.

A forma principal de captação de novos investidores, quase sempre indivíduos que colocavam na OneCoin suas economias pessoais, baseava-se em premiações progressivas para usuários que, além de investir, fossem capazes de atrair outros investidores, sobre os quais ganhariam comissões. Um esquema de pirâmide financeira, em bom português.

Como ocorre em esquemas do tipo, Ruja mantinha sua credibilidade permitindo que investidores mais antigos "realizassem seus lucros" fazendo saques quando suas criptomoedas se valorizavam. E assim as coisas funcionavam... até que deixaram de funcionar. Em 2014, Ruja deixou a China e sua plataforma, a OneCoin, parou de responder aos investidores locais.

Autoridades chinesas identificaram duas centenas de colaboradores que auxiliaram Ruja a cometer crimes na China. Ao final de um processo judicial, 98 cidadãos chineses foram condenados a multas e penas de prisão por crimes financeiros que chegam até 7 anos. O caso OneCoin contribuiu para a decisão de Pequim em proibir o mercado cripto de funcionar no país.

O dado mais inacreditável da história é que, por detalhes burocráticos como a não cooperação entre China e Estados Unidos em questões que envolvam dados de seus cidadãos trafegados online, impediu a China de processar Ruja no exterior, bem como compartilhar detalhes de seu esquema.

A brecha, no entanto, não passou despercebida por Ruja que, mesmo após captações bilionárias na China, passou a oferecer os mesmos serviços nos Estados Unidos... e novamente enganar milhares de usuários incautos.

O caso só se tornou público porque o FBI, esta semana, decidiu dar publicidade ao nome de Ruja, denunciando-a por crimes financeiros online. A notícia, por óbvio, repercutiu na China, país onde ela deixou milhares de vítimas.

Em atendimento a pedidos do FBI, os servidores da OneCoin na Europa foram desligados. O paradeiro de Ruja é desconhecido, mas o caso deixou sob conhecimento público o fato que, a despeito de suas rivalidades, americanos e chineses precisam colaborar mais em itens essenciais à segurança dos sistemas financeiros de ambos os países.