LOUD: Um ano fazendo barulho

Organização de pro-players e streamers de Free Fire vive em mansões e tem até cachorro influencer

Amanda Santos e Bruno Izidro, do START, em São Paulo Murilo Pinhata/UOL

Em fevereiro de 2019 surgia mais uma organização de eSports que poderia ser como tantas outras que aparecem nos cenários competitivos de games.

Um ano depois, a LOUD mostrou que não é "só" mais uma. Fez barulho com suas mansões, bons resultados em Free Fire e uma multidão de fãs nas redes sociais. Enquanto você lia esta introdução, algum streamer da LOUD ficou mais próximo de atingir "algum milhão" de seguidores no Instagram.

Na comparação com outras organizações de eSports do cenário brasileiro, a LOUD tem características bem únicas: é focada somente em games mobile, principalmente Free Fire, que deu a eles a Copa América 2020, e tem um extenso e crescente time de influenciadores.

O START visitou uma das mansões da equipe e conversou com streamers e pro-players para saber qual é o segredo do sucesso.

Rafael Roncato/UOL Rafael Roncato/UOL
Números atualizados em 20/02/20 Números atualizados em 20/02/20
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Uma ideia que nasceu na Disney

"Eu gosto de falar que fui para a Disney, e daí apareceu a ideia da LOUD", comenta o fundador da organização, Bruno "PlayHard". A LOUD surgiu oficialmente no início de 2019, mas a ideia nasceu no encontro de PlayHard com o amigo Jean Ortega, em agosto de 2018, durante um passeio pela Disneylândia, em Los Angeles.

E essa é só uma das curiosidades sobre a origem da equipe.

Jean, que hoje é um dos sócios da equipe junto com PlayHard, trabalhou no estúdio de games Super Evil Megacorp, responsável pelo MOBA para celular Vainglory, lançado em 2014 e que tem relativo sucesso. Jean atualmente mora na casa da LOUD nos EUA, que acaba virando sede temporária para outros integrantes do time.

A LOUD tem um terceiro sócio, Matthew Ho, também ex-funcionário da área de marketing na Super Evil Megacorp. Com esse backgroud, por que não apostar em algo mais seguro, como um time de League of Legends, Counter-Strike ou FIFA? Claro que não. O caminho era mobile.

"A gente sabia que tinha organizações de eSports grandes já consolidada (em outras modalidades)", conta PlayHard. "Então, não bastava fazer mais do mesmo e atacar um mercado em que a gente não tem experiência, não tem fãs. Tinha que ter uma abordagem diferente".

Free Fire já era um game de sucesso na época, e a LOUD contou também com a sorte de o Battle Royale crescer de uma forma que poucas vezes se viu em um cenário competitivo, atraindo ainda milhões de jogadores, no Brasil e no mundo.

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A gente não quer se limitar a ser uma organização (de eSports), nem quer se limitar a ser um grupo de influenciadores

Bruno PlayHard, Cofundador da LOUD

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Bruno PlayHard: O dono do barulho

Sócio e cofundador da LOUD, Bruno PlayHard, ou PH, como costuma ser chamado, já tinha uma carreira online de sucesso no YouTube bem antes de Free Fire entrar em sua vida.

Mineiro nascido em Viçosa, o jovem de 25 anos é tímido pessoalmente, mas não para quieto na internet. Foi com o canal PlayHard, criado em 2014, que PH conquistou fama e seguidores, jogando e falando de games mobile como Clash of Clans e Clash Royale. Ele percebeu que o mercado de jogos para celular tinha um público gigantesco e que era carente de conteúdo. Hoje, seu canal tem mais de 10 milhões de inscritos.

A partir daí, ele passou a ser um nome reconhecido quando o assunto eram jogos mobile. PH fez parte do projeto do canal Final Level, por exemplo, encabeçado pelo também youtuber Felipe Neto, e teve até a oportunidade de jogar com Neymar e Marquinhos, jogadores de futebol do Paris Saint-German.

A fama online também rendeu um livro: Play em Nível Hard - Jogando para Vencer na Vida e no YouTube, lançado em 2019, em que Bruno conta um pouco da sua história e os bastidores do canal PlayHard.

A criação da LOUD foi o mais recente marco em sua vida, que o fez virar uma figura importante também nos eSports. Apesar das mansões da equipe em São Paulo, ambas alugadas, PH não mora em nenhuma delas.

Eu nunca imaginava que a LOUD iria se tornar algo maior do que eu tão rápido

Bruno PlayHard, Youtuber e Cofundador da LOUD

Divulgação/LOUD Divulgação/LOUD

O streamer GS apresenta a mansão da LOUD

Vida de Mansão

Para muitos gamers, viver em uma mansão é algo que só vai acontecer jogando GTA. Já para os integrantes da LOUD, essa é a realidade do dia-a-dia, mas sem os tiroteios e o caos do jogo da Rockstar, é lógico.

"É totalmente surreal você morar numa casa desse tamanho", diz Carol Voltan, uma das influenciadoras da LOUD. "Às vezes não cai (a ficha), parece que eu tô só tirando alguns dias de férias aqui", comenta.

Para ela e muitos dos integrantes, a mudança de vida significou mudar de cidade e sair da casa dos pais.

É uma realidade completamente diferente. Eu morava em uma cidade de 12 mil habitantes, filha única... foi até assustador por um lado, mas é isso, tem que seguir a vida
Carol Voltan, influenciadora da LOUD

A nova mansão da LOUD, inaugurada em janeiro de 2020, é lar para Voltan e outros seis influenciadores. Localizada na região da grande São Paulo, a mansão tem 2 mil metros quadrados. São nove quartos, piscina, quadra de esportes, salão de festas, academia e um escritório para treinos do time profissional. Tudo distribuído entre os mais de três andares.

Em uma primeira visita, é fácil se perder pelo lugar, com corredores estreitos e portas para todos os lados. A mansão até tem um elevador, mas que não estava funcionando, o que torna uma tour pela casa um belo exercício ao subir e descer escadas.

Essa, porém, não é a única mansão da LOUD: uma segunda casa (também uma mansão, é bom deixar claro) é reservada somente para o time profissional de Free Fire e a equipe técnica.

Segundo o dono do time, Bruno PH, todas as mansões são alugadas e não há planos para comprar uma legítima mansão da LOUD, pelo menos por enquanto. "Não vale a pena nenhum tipo de investimento desse tipo assim, pra um projeto que é tão dinâmico e muda tão frequentemente", comenta o empresário.

Eu fiquei com muito medo de não ser aceita (pelos fãs), por ser mais uma menina, mas foi justamente o contrário, as pessoas me abraçaram mesmo

Carol Voltan, Influenciadora da LOUD

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Profissionais no game e nas redes

Ser membro da LOUD é como fazer parte daquele grupo dos populares da escola. Entrou para o time? Então já toma aqui essas centenas de milhares de seguidores. As contratações mais recentes, por exemplo, mostram a força da equipe: Arthur "Thurzin" Fernandes, de 13 anos, tem 1,4 milhão de fãs no Instagram, e Milena "Mii" Esquierdo está próxima dos 900 mil.

Mesmo para os jogadores profissionais, não basta ser bom no game, também é preciso ter presença diante das câmeras para realizar transmissões e interagir com os fãs, tanto online quanto em eventos. Essa característica, que é uma das razões para o time fazer tanto sucesso na internet, vem de uma filosofia do próprio Bruno PH, influenciado por atletas que são referências em suas áreas, como Cristiano Ronaldo, no futebol, ou LeBron James, no basquete.

"Mesmo sendo o melhor pro-player do cenário, a pessoa também tem que ser alguém com uma imagem boa e ser um influenciador em paralelo a isso", explica.

Por isso a LOUD surgiu como um time de influenciadores que também competem profissionalmente. Só que o próprio PH admite que nem tudo saiu como planejado.

"Na prática, quando você começa a perder tempo com vídeos, gravações, horas de live, não tem mais o tempo necessário para dedicar na performance e ser o melhor naquilo que você faz, que é jogar bem". Ele também admite que a LOUD foi aprendendo com o tempo a ser um time profissional.

Assim, alguns jogadores que entraram para competir começaram a se dedicar somente a criar conteúdo para a LOUD. Foi o caso de Victor Coringa, Carol Voltan, Babi e Marcos MOB. Todos já foram pro-players, mas hoje desempenham o papel de influenciadores.

O que acham de cabelo verde? to pensando sobre...

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Para Voltan, essa foi uma transição bem tranquila e que fazia mais sentido: "A gente entrou mais nesse lado de influenciadora, que era o que estava puxando mais público pra gente".

Babi completa dizendo que a pressão por não estarem competindo também é bem menor. "O público não cobra da gente como cobra eles (os pro-players). A gente é mais diversão, entretenimento e essas coisas".

Mesmo para quem ainda faz parte da equipe que compete profissionalmente, continua uma demanda para realização de transmissões ao vivo e vídeos para os canais no YouTube. Samuel "Bradoock", que está no time desde a formação original, diz que, no começo, foi difícil conciliar as duas rotinas, mas que hoje já se acostumou.

"A gente tenta conciliar usando a manhã para ser mais influenciador, pensar em ideia para vídeos. Depois dos treinos, às 19h, a gente também pode trabalhar mais esse lado. Então, se não gravou de manhã, grava depois do treino", revela Bradoock.

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Faz o L! A organização de eSports que também é uma marca

A LOUD não é só uma organização de eSports e pode muito bem ser encarada também como uma empresa. Ela gerencia seus influenciadores e possui uma marca, bem forte, que tem até slogan: "Faz o L!", acompanhada do símbolo com os dedos em forma da letra. E, se você reparou bem nas fotos até aqui, percebeu que o uniforme da LOUD veste a galera toda.

(A LOUD) é uma Startup, querendo ou não
Bruno PlayHard, co-fundador do time

Com uma bagagem de empreendedor e influenciador, foi fácil para Bruno PH pensar na LOUD como uma empresa, que tem uma grife de roupas e até já se aventurou pelo ramo da música, com a produção de um videoclipe.

"Quando você pensa em alguma marca ou produto que se lança no mercado é muito importante se olhar o tamanho desse mercado, e a gente viu que o tamanho do mercado mobile é gigante", justifica PH.

Talvez esteja aí o segredo para a LOUD, em um ano, tornar-se conhecida e ter conquistado tanta coisa. Ainda assim, o que eles menos sabiam era ser uma organização de eSports. "Isso foi um dos maiores desafios pra mim, pessoalmente, e pro time todo, porque a gente tinha experiência em muitas coisas, mas no competitivo não era uma delas".

O Instagram é o principal canal de comunicação da equipe com os fãs. Atualmente, a LOUD tem 3,5 milhões de seguidores por lá, deixando para trás times de eSports bem mais antigos, como paiN Gaming (criada em 2010, hoje com 718 mil seguidores) e INTZ (2014, 220 mil seguidores).

Foi somente com erros e adaptações que a LOUD foi se firmando também como uma organização de eSports. Apesar de o próprio Bruno PH admitir que ainda há deficiências na parte competitiva, a conquista da Copa América no início de 2020 mostrou que a LOUD também pode fazer barulho nesse aspecto.

Divulgação/Garena Divulgação/Garena

Clipe "Sou da LOUD"

Os rappers Yoka, Zoen e Baker cantam letra composta para o time. A produção demorou cerca de cinco meses para ser finalizada

A gente quer testar coisas em mercados diferentes que geralmente quem trabalha com jogos não faz. Igual música. A gente lançou o próprio clipe, a gente quer fazer mais coisas desse tipo

Bruno PlayHard, Youtuber e cofundador da LOUD

Rafael Roncato/UOL Rafael Roncato/UOL
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LOUD Skar, a dog influencer

Ela é fofa, não fica parada e tem mais de 1,5 milhão de seguidores no Instagram. Estamos falando da Skar, a pug mascote da LOUD, que foi batizada em referência a uma das armas do jogo. A "doguinha" é uma influenciadora digital que recebe até mimos de patrocinadores.

Ela chegou na mansão da LOUD com apenas um mês de vida e logo caiu nas graças tanto dos jogadores como dos fãs. Skar sempre rouba a cena nos vídeos da equipe.

Bem vinda @miiedb

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Apesar de todos na mansão brincarem e cuidarem um pouco da doguinha, todo mundo admite que Babi e Coringa são os mais apegados à mascote, que sempre prefere um contato humano, e deixa pra lá brinquedos que ganha.

"A Skar não é aquele cachorro que fica no colo pra fazer carinho, não, ela quer é brincar, não para um minuto e bagunça o tempo inteiro", diz Babi, que foi quem teve a ideia de adotar a pequena.

"No início, a gente já sentia falta de uma cachorrinha ali, um animal de estimação. Eu tive a ideia e conversei com o Coringa, todo mundo já concordou".

Como influencer, Skar faz bastante sucesso entre as crianças, que sempre aparecem nos stories com figurinhas da cachorra. Todas as fotos e vídeos dela são produzidas e postadas pela mesma equipe de produção dos outros influenciadores da LOUD. Só falta começar a jogar!

Agentes nos bastidores

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Rodrigo "Ike": Pronto pra tudo

Influenciador, gerente de produtos, treinador, gerente de talentos... foram várias as funções que Ike já teve nesse um ano de LOUD. Ele já tinha um histórico como Youtuber e jogador profissional campeão de Clash Royale. Inclusive, entrou na LOUD para formar um time para o jogo, só que não deu certo. Nos bastidores, ele é uma peça essencial para o funcionamento da máquina LOUD. Ele gerenciou toda a mudança das equipes para as mansões, por exemplo, além de estar no cargo de técnico do time profissional que foi campeão da Copa América em 2020. Ike também ajudou no gerenciamento dos projetos da organização, como o clipe "Sou da LOUD", e participação dos influenciadores em eventos. "Eu interligo todos os pontos da empresa, de vendas e projetos até operacional e produção".

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Luiz "Jesus": o médico-câmera

Luiz deveria continuar a recente carreira como médico atendendo seus pacientes, mas o destino o transformou no "Jesus" da LOUD, comandando a equipe de audiovisual do time, responsável pelos vídeos e fotos das redes sociais. Ele é amigo de infância de Bruno PH, o dono da LOUD, e foi chamado por ele para ser videomaker, outra de suas paixões além da medicina. Jesus largou o trabalho como clínico geral para morar com a equipe. Com o tempo, Jesus foi saindo de trás das câmeras e mostrando a cara nos vídeos da LOUD. "A gente decidiu que eu iria aparecer como um narrador, para quebrar a quarta parede, e trazer o público um pouco mais pra perto. Deu muito certo". Sem perceber, Jesus se tornou também influencer, e hoje sua conta no Instagram já bateu 600 mil seguidores.

Apesar de amar medicina e ter adorado a minha faculdade, às vezes, você descobre que tem vocação para fazer outra coisa, e audiovisual é o que eu quero fazer

Luiz "Jesus", Videomaker na LOUD

Murilo Pinhata/UOL Murilo Pinhata/UOL
Divulgação/Garena Divulgação/Garena

Os melhores da América

No primeiro ano da LOUD, quanto mais a equipe crescia em reconhecimento e número de seguidores nas redes sociais, mais apareciam também críticas pelo time não ser forte competitivamente.

A LOUD se classificou para as finais presenciais das temporadas 2 e 3 da Pro League de Free Fire, a competição oficial do game no país, mas ainda existia uma necessidade de se provar como uma organização de eSports vencedora.

Entre erros e mudanças na equipe durante o ano, a classificação para o mundial World Series de Free Fire, em novembro, já foi uma amostra do valor do time, formado por Will Moura, Vinícius "Vinizx", Heverton "ShariiN" e Samuel "Bradoock".

Foi Bradoock, que está desde o primeiro dia como pro-player da LOUD, que falou dessa evolução: "Desde a primeira formação a gente já se classificou para o presencial, ficando entre os 12 melhores times do Brasil. Houve as mudanças, treinamos 8 horas por dia".

O grito definitivo de Booyah! (expressão de quando um time vence no Free Fire) finalmente explodiu no início de 2020, com a conquista da Copa América de Free Fire, realizada no México. O time superou até mesmo o Corinthians, atual campeão mundial no game.

"Esse campeonato a gente sabia que tinha que ir com o dobro de força do mundial. Por isso, ganhar foi a sensação de dever comprido", completou o jogador.

Destaques da LOUD em 2019/2020

Rafael Roncato/UOL Rafael Roncato/UOL

O futuro da LOUD

Em quais outros games a LOUD planeja investir? Procuramos algumas pistas com Bruno PlayHard

Reprodução

LoL: Wild Rift

"O LoL Mobile promete muito. O MOBA no Brasil é muito forte e não teve nenhum jogo mobile (nesse gênero) que conseguiu se estabelecer aqui"

Divulgação

Fortnite

"Fortnite. Pelo simples fato de eu achar que a Epic toma ótimas decisões no desenvolvimento, atualizações no jogo. Então, tenho olhado bem pra isso"

Reprodução

CS:GO

"Quem sabe também no futuro algo como um CS:GO? O cenário competitivo é muito legal e o Brasil é sempre muito forte. É uma opção também"

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