Topo

Ricardo Feltrin

REPORTAGEM

Há 30 anos o mundo perdia Freddie Mercury para a Aids

O cantor zanzibense Farrokh Bulsara mais conhecido como Freddie Mercury (FOTO: Reprodução) - Reprodução / Internet
O cantor zanzibense Farrokh Bulsara mais conhecido como Freddie Mercury (FOTO: Reprodução) Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

24/11/2021 00h18

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Ele escondeu de praticamente todos os amigos que já estava infectado havia anos pelo HIV. Na verdade, todos desconfiavam. A família. A imprensa. Mas, para muitos, o mais importante era que ele admitisse a doença e ajudasse na sua conscientização. E o teimoso não fazia isso.

Um de seus melhores amigos, Elton John, já vinha fazendo isso há tempos e angariando fundos e visitando países afetados pela Aids.

Mas a decisão era de Freddie Mercury, e seu maior medo era ser crucificado pela imprensa por ter negado tantas e tantas vezes, por meio de assessores, ter a doença. Curioso e ao mesmo tempo humano, ele temia ser crucificado mesmo já à beira da morte.

Em homenagem póstuma, o Ecad (Escritório Central de Arrecadação de Direitos) fez um levantamento sobre as músicas cadastradas em seu acervo e as mais tocadas.

Segundo o Ecad ele compôs (solo ou em parceria) 186 obras, e elas originaram 2.162 gravações.

Vasta bibliografia

No Brasil há uma variedade muito grande de obras sobre o autor. Algumas biografias superficiais. Outras um tanto são perversas. Outras, apenas caça-níqueis.

Se pudesse sugerir a você apenas um livro que resume o gênio e o humano às vezes macabro que foi Freddie (nome de batismo Farrokh Bulsara, nascido na Tanzânia) este colunista sugeriria "Freddie Mercury - Por Jim Hutton".

Huttton era barbeiro irlandês e, quando conheceu Freddie, nem sequer sabia que aquele sujeito diante dele, casualmente, era uma estrela mundial do pop.

Muita gente diz que Freddie jamais amou Hutton, e eu não duvido disso. Mas Hutton amou Freddie incansavelmente. Os dois tinham temperamentos parecidos e até os bigodes eram semelhantes.

Hutton conta no livro passagens hilárias sobre as manias de Freddie —a maior de todas, torrar dinheiro.

Ele conta que uma vez, durante, uma turnê no Japão, o cartão de crédito usado por Freddie chegou a bloqueá-lo preventivamente —de tanto que o líder do Queen estava gastando dinheiro (geralmente em obras de arte e vasos, sua grande paixão).

Freddie era metódico não só para compor, mas até no sexo e no uso das (muitas) drogas que chafurdou. Cheirava cocaína compulsivamente, bebia descontroladamente, mas a certa altura da madrugada dizia para Jim: "Chega, passe agora os bloqueadores"!".

Era a senha para os soníferos, pois se não os tomasse não estaria de pé para trabalhar e compor no dia seguinte. Para tanto abuso não deixa de ser impressionante ter chegado aos 45 anos.

No dia 24 de novembro de 1991, horas depois de anunciar publicamente que tinha Aids à imprensa britânica, Freddie —absolutamente já devastado pela doença— pediu a Hutton que trouxesse um pouco de sorvete de creme e um pouco de manga.

No primeiro bocado com dificuldade, ele engasgou e quase morreu ali mesmo. Quem enfiou o dedo em sua garganta e o livrou dos alimentos que o sufocavam foi Jim.

Pouco adiantou. Poucos minutos depois ele estaria morto.

Um mês depois, no natal de 1991, uma empresa de entregas bateu na porta da mansão de Elton John. Era uma entrega especial de Freddie. Antes mesmo de morrer ele deixou preparados presentes e doações para seus entes mais queridos —inclusive os colegas de banda com quem compôs 15 discos (e dois solos).

Freddie não queria ser esquecido pela morte. Como se isso fosse possível.