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Ricardo Feltrin

REPORTAGEM

Como uma pessoa ou família é escolhida para ter aparelho do Ibope?

Esse é um dos aparelhinhos atuais usados pela Kantar Ibope - Divulgação
Esse é um dos aparelhinhos atuais usados pela Kantar Ibope Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

04/03/2021 10h17

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Uma pergunta que muita gente se faz —e faz a mim também— é:

Como a Kantar Ibope decide quais os domicílios no Brasil que podem ter instalada uma caixinha de medição de audiência de TV?

Não é possível detalhar aqui neste texto toda a metodologia, mas tudo é baseado em dados do Censo do IBGE, do PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio) e mais um monte de estudos, estatísticas e pesquisas da própria Kantar.

O objetivo dessa complexa metodologia é tentar colocar e representar todos os estratos da sociedade (social, econômica e culturalmente).

Pobres, ricos, classe média, gente com faculdade e doutorado, ou só com primeiro grau ou nem isso.

Todos precisam estar representados nesse pequeno universo mensurado 24 horas por dia.

Quero ser medido pelo Ibope. Posso?

Não, não pode, meu filho.

Para começar, você não pode pedir ou se inscrever para ter um aparelhinho de ibope em casa.

Como disse, a escolha é absolutamente impessoal e baseada em dados sólidos de pesquisas, e não em voluntariado.

O segundo ponto é que a empresa não paga valores em dinheiro (exceto cerca de R$ 50 para compensar o gasto de energia elétrica) para que essas pessoas/ famílias aceitem ser monitoradas

Sim, as famílias eventualmente ganham alguns presentes e regalos (como eletrodomésticos, por exemplo), mas não é algo trocado por dinheiro.

É algo quase "altruísta", pois é trabalhoso, como verão a seguir. Isso faz da medição algo muito mais confiável.

De certa forma, esses presentinhos e benefícios são uma forma de compensar um tormento: afinal, essas pessoas estão abrindo mão de sua privacidade ao indicar 24 horas o que estão consumindo em TV (e agora na internet e no streaming também).

Milhares de famílias monitoradas

No Brasil são 6.600 residências nas 15 maiores regiões metropolitanas que têm o aparelho instalado.

Uma única residência pode ter um, dois , três ou até mais aparelhinhos instalados. Depende do tamanho da família.

O endereço e as famílias onde os "peoplemeters" —em breve, em boa parte delas, o focal meter— estão instaladas são informações sigilosas.

As famílias também assinam um contrato e se comprometem a não divulgar (a vizinhos ou jornalistas) que têm o aparelho instalado.

Em 24 anos cobrindo TV, eu só descobri uma única residência. E foi por mero acaso.

O aparelho liga junto com a TV e os moradores devem "informá-lo" (com seus botões) quem está no ambiente assistindo.

Se o morador receber uma visita, por exemplo, de um parente, ele deve "cadastrar" o visitante também, informando idade e sexo.

Na hora que alguém vai dormir, deve se "deslogar" do aparelho".

Ah, mais uma: se a pessoa ligar a TV (e consequentemente o aparelho) e não se "logar", se ela não informar quem está assistindo, o equipamento passa a fazer um barulho chatíssimo (apitar) até que o login seja feito,

É possível corromper a família?

Uma "desconfiança" que muitos leitores têm e já me perguntaram é:

"E se uma TV descobre onde tem uma família e vai lá e suborna essa família para só assistir a essa TV?"

Bom, primeiro lugar, segundo a Kantar, isso jamais aconteceu.

Mas, suponhamos que acontecesse.

Acontece que os softwares da empresa monitoram não só os dados presentes de cada domicílio, mas também os do passado.

Ou seja, se porventura (gosto dessa palavra) uma residência/família mudar de comportamento, mudar seu consumo televisivo de forma radical, esse "ponto" instalado ficará sob escrutínio muito maior por parte dos analistas da Kantar.

Eventualmente ele pode até ser descredenciado e substituído por outro. O que não é incomum.

A Kantar eventualmente também pode trocar os domicílios sem aviso prévio. Está no contrato e ela pode fazer isso.

Muita gente também acha que 6.600 aparelhos é um número pequeno para uma população de mais de 200 milhões de pessoas.

Acontece que, estatisticamente, esse número é mais que suficiente para o estudo.

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