Conteúdo publicado há 8 meses

Leandro Hassum avalia cenário da comédia: 'Tem que oprimir o opressor'

"B.O.", primeira série criada e protagonizada por Leandro Hassum, 49, estreia na próxima quarta (6), na Netflix. O humorista é o delegado Suzano, transferido da pacata cidade fictícia de Campo Manso, no interior fluminense, para a frenética 8ª DP na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro.

No formato de comédia de ambiente de trabalho, "B.O." teve como uma de suas referências a série americana de sucesso "Brooklyn Nine-Nine" que, no auge dos protestos contra a violência policial nos EUA, recebeu críticas por apresentar uma versão "limpinha" da polícia americana. Na última temporada, a produção abordou o assunto por meio do caso George Floyd.

Em entrevista a Splash, Hassum diz que o foco de "B.O." é fazer crítica através do humor e divertir por meio do convívio dos personagens, que investigam uma máfia de caça-níqueis. "Escolhemos uma delegacia, mas poderia ser qualquer outro [ambiente de trabalho]. Abordamos mais as relações em si que os casos. As situações divertidas vêm da relação entre os personagens. Temos um fio condutor na temporada, para ter um sentido. Mas não tratamos esse crime como a coisa principal da nossa série."

Tínhamos uma preocupação de estar engraçado, de estar popular. A gente está entrando no formato de workplace comedy. Comedy, então vamos para a comédia. Leandro Hassum

Comédia nacional vive "momento de transição"

O humorista avalia que a comédia nacional está atenta para "oprimir o opressor e não o oprimido". Para ele, os novos comediantes brasileiros já estão "antenados" nessa tendência.

"A gente tem, sim, muita qualidade de comédia, muita qualidade de roteiristas, pessoas jovens trabalhando com ideias muito originais. Eu vejo um futuro muito bacana para o Brasil e um presente já acontecendo de forma muito positiva."

História real inspirou série

Muito da vida de Hassum inspirou a criação de "B.O.". Assim como o delegado Suzano, ele foi escoteiro e criado por mulheres no interior do Estado. A Tijuca vem do amor do ator pelo subúrbio carioca: ele nasceu na Ilha do Governador, estudou na Tijuca e viveu por anos na cidade vizinha à capital, Niterói.

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Durante a pandemia, ele se lembrou de dois episódios inusitados envolvendo a polícia e teve a ideia para a produção. O primeiro é de um bandido procurado que, escondido em uma cidade do interior, foi denunciado por um morador ao ser flagrado tirando o lixo de casa e acabou preso. Na série, Suzano é promovido após pegar, por acidente, um dos membros da máfia de caça-níqueis em Campo Manso.

A segunda aconteceu com ele mesmo, há alguns anos. Ele estava na casa de um amigo quando teve o "toca-CD" do carro roubado. Ele se surpreendeu com a reação de um policial ao crime. "Ele falou assim: 'Cara, você tinha muito carinho com esses CDs? Porque vai dar um trabalho ir à delegacia, fazer abrir um B.O. e tudo mais. Nessa hora, o teu toca-CD já virou droga no morro. Eu falei: 'Caraca, o cara está com preguiça de fazer um B.O.'", se diverte, ao admitir que hoje entende o lado do policial.

A série pretende explorar justamente as peculiaridades dos personagens, interpretados por um elenco que une novatos e veteranos: entre eles, a determinada Mantovani (Luciana Paes), a copeira evangélica Zuleide (Josie Antello), o "caipira" Estevão (Jefferson Schroeder), o "durão" Rabecão (Digão Ferreira), o "coroa" enxuto Pardal (Taumaturgo Ferreira) e o protagonista, que acaba ficando conhecido como delegado "bundão".

Ele tem um jeitinho brasileiro de um cara que veio de uma cidade do interior. É um delegado humano, que tem uma forma diferente de pensar. Ele não romantiza a criminalização, nem romantiza a violência e nem romantiza o papel dele. Ele é um cara lúdico e tem uma forma lúdica de trabalhar. Leandro Hassum

"A comédia funciona quando uma pessoa é louca e o mundo é normal, ou um mundo é louco e essa pessoa é normal. O que cabe para o espectador decidir é se o Suzano é o louco no meio dos normais ou o normal no meio dos loucos", afirma.

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