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Gilsons: 'Acham que nós e Gilberto Gil vivemos de Lei Rouanet, é uma piada'

Gilsons sobem ao palco do Universo Spanta hoje, no Rio, ao lado de Gilberto Gil - Divulgação/Lucas Nogueira
Gilsons sobem ao palco do Universo Spanta hoje, no Rio, ao lado de Gilberto Gil Imagem: Divulgação/Lucas Nogueira

De Splash, no Rio

06/01/2023 04h00

O trio Gilsons traz a música brasileira na veia. Criado em 2018, é formado por José, filho caçula de Gil, João e Francisco, netos do cantor baiano. Desde o ano passado, com o retorno dos festivais, eles são requisitados em eventos do nordeste ao sudeste.

A família comemora a agenda cheia, mas lamenta as fake news criadas em torno deles e de Gilberto, ex-ministro da cultura no primeiro governo Lula (PT). Eles acreditam que é fruto de um momento político que legitimou o ódio contra artistas e a desinformação.

"A gente vive uma loucura onde a informação é 100% deturpada. As pessoas acham que nós vivemos de Lei Rouanet, sendo que cada vez mais gente consome nosso trabalho. Acham que Seu Gilberto Gil vive de Lei Rouanet, isso é uma grande piada... Bicho, pare e veja a cultura do seu país, a imensidão dos seus artistas e a diversidade. Isso deveria ser algo cada vez mais exaltado. A nossa cultura é a maior porta de entrada para o mundo", diz Fran.

Margareth Menezes é quem assume o ministério que um dia já foi de Gil e com desafio de "remontar a base cultural", na visão de José. Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), entre 2018 e 2022, a pasta foi rebaixada a secretaria.

Vai pegar o Ministério com uma resistência ideológica à cultura. Isso é estranho, negacionista. Até a cultura acaba sendo amedrontadora para essa direita conservadora. Assustador
José Gil

"Ela representa bem nossa diversidade, potencia cultural e criativa. Tem tudo para fazer uma gestão bacana... Já que o povo gosta de falar de dinheiro, o Brasil tem um capital econômico em relação à cultura absurdo. Isso deve ser explorado com a nossa diversidade. O Brasil tem portas abertas no mundo. Sempre foi muito querido, com uma visão positiva no exterior. É uma virtude incrível que deve ser usada", completa José.

Responsabilidade e privilégio

Os rapazes dispensam qualquer pressão por ser da família Gil, uma das mais tradicionais da cultura do país. Gil é a maior referência do trio, mas eles querem construir o próprio caminho artístico.

"A gente sente responsabilidade, mas também privilégio por poder trocar com o Seu Gilberto. Ao mesmo tempo, a gente quer traçar o nosso próprio caminho. A gente não quer ser nichado 100% do tempo ao meu avô, a gente quer viver a nossa própria identidade, o nosso próprio público, ter as nossas referências, sendo o seu Gilberto uma delas", pensa João.

Gilsons unem pop, MPB e ritmos afro-baianos em suas músicas - JORGE PORCIN/Divulgação - JORGE PORCIN/Divulgação
Gilsons unem pop, MPB e ritmos afro-baianos em suas músicas
Imagem: JORGE PORCIN/Divulgação

Eles ainda dizem que gerações anteriores já desbravaram o mundo artístico, como Preta Gil, mãe de Fran, e Nara Gil, mãe de João.

Por ter figuras anteriores à gente que já desbravaram o mundo artístico, "Elas tiraram essa pressão de ser a primeira geração Gil tentando alguma coisa. Para gente, já chegou mais leve, mais natural e de boas... A próxima geração vai ser sentir ainda mais à vontade. Florzinha (filha de Bela Gil) tem 14 anos e sente mais leve que a gente", continua João.

Presença em festivais

Requisitados em festivais pelo país, Gilsons comemoram agenda cheia em diferentes cidades do Brasil desde o ano passado. Eles viram seus números crescerem no streaming durante a pandemia ao lançar parcerias para movimentar as plataformas digitais. No início de 2022, divulgaram o primeiro CD, "Pra Gente Acordar".

"As pessoas se identificaram com as músicas naquele momento recluso, talvez pela sonoridade e mensagens das letras. A gente tinha o plano de gravar um disco em 2020, não sabia muito bem como trabalhar. A forma que a gente arrumou foi fazer parcerias com artistas que admiramos, como Julia Mestre, Mariana Volker, BIG UP, os meninos do Jovem Dionísio", diz João.

Hoje, eles sobem ao palco do Universo Spanta, no Rio de Janeiro, ao lado do maior mestre deles: Gilberto Gil. Esse encontra sintetiza a marca plural do festival, que traz artistas consagrados e nomes em ascensão no line-up.

"A gente caiu num dia super bacana. A gente vai tocar no mesmo dia da Duda Beat, Marina Sena e Chico Chico, que é um grande parceiro. Isso é o mais legal do festival. A capacidade de promover a diversidade musical. Cada dia tem cenas diferentes da nossa música... É bom ter festivais de música brasileira em evidência", comemora Fran.