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De 'Dark' a '1899': criadores explicam como criar histórias tão misteriosas

Aneurin Barnard, Emily Beecham e Andreas Pietschmann em "1899", nova série dos criadores de "Dark" para a Netflix - Netflix/Divulgação
Aneurin Barnard, Emily Beecham e Andreas Pietschmann em "1899", nova série dos criadores de "Dark" para a Netflix Imagem: Netflix/Divulgação

De Splash, em São Paulo

19/11/2022 04h00

Quando "Dark" se tornou um sucesso de público na Netflix, compreender todas as conexões entre os personagens e as viagens no tempo não foi uma tarefa fácil. Com "1899", nova série dos mesmos criadores, será que estamos fadados ao mesmo destino?

Na série finalizada em 2020, eram rostos, nomes e uma árvore genealógica complexos o suficiente para deixar os Targaryen de "A Casa do Dragão" parecendo história de gibi. A nova atração até repete o formato com reviravoltas e mistérios, mas "com uma estrutura diferente".

Em "1899", Baran bo Odar e Jantje Friese contam a história de um navio a vapor que deixa o velho continente rumo à América. Os passageiros, esperançosos com as novas perspectivas, acabam encontrando um destino inesperado e sombrio quando outro navio de imigrantes, o Prometheus, surge à deriva no oceano.

De onde vem tantos mistérios?

Para Odar, 44, e Friese, 45, é importante seguir uma lógica na hora de criar mistérios, a fim de não deixar pontas soltas nas tramas.

"Há sempre três elementos. Um é tema, outro é personagem e o outro é o enredo", explicou a produtora e roteirista ao The Hollywood Reporter. "Escrever é ir e voltar entre os três. Normalmente, é o tema que inicia todo o processo. Precisamos saber do que estamos falando. Qual é o fundamento de tudo?", reflete.

"Então, você começa a colocar os personagens dentro dessa ideia, mas eles podem parecer um pouco unidimensionais, sendo preciso trabalhar algumas ideias do enredo. No entanto, é necessário continuar conferindo: isso ainda funciona com o tema ou é preciso alterar? E algo que é muito importante para séries, sobretudo comparadas a filmes, é a construção do universo. Em que espaço essa história é contada?"

Mesmo tendo uma linha de raciocínio tão exata, isso não significa que eles considerem o processo fácil. "O segredo é sempre ir e voltar entre esses dois pontos", continua. "No início, jogue ideias aleatórias e tente entender o que realmente funciona. É um trabalho muito longo e muito complicado."

Mantendo os segredos intactos

Dark Netflix - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Baran bo Odar e Jantje Friese, em lançamento de 'Dark'
Imagem: Divulgação/Netflix

Para garantir que nenhuma trama de "1899" fosse descoberta antes da hora, até mesmo os atores ficaram no escuro em relação a algumas partes da história.

"Bo e Jantje me falaram sobre os temas e de muitos pensamentos da minha personagem", contou a protagonista Emily Beecham ao jornal DW. "Mas eu precisava fazer perguntas o tempo todo."

E, para quem gosta de tentar solucionar os mistérios, bo Odar — que dirigiu os outo episódios da temporada — entrega uma dica: "Somos fãs das aberturas. Elas são as promessas que atraem o público. Observem atentamente. Caso contrário, podem deixar alguma coisa passar."

Mesmos autores, novos mistérios

Embora o sucesso de "Dark" tenha estabelecido certa pressão sobre os criadores, e uma expectativa de que "1899" alcançasse os mesmos méritos que a trama de Jonas e companhia, Friese e bo Odar contam que tentaram uma abordagem diferente para a nova trama, que não reprisasse o que eles já sabiam que funcionava ou tentasse "consertar" o que não funcionou tão bem.

"Não é como se tivéssemos pensado que as pessoas não entenderam 'Dark' e que, por isso, tínhamos que deixar esta mais fácil", argumenta Friese, ao THR.

"É algo muito individual. Falamos com muitas pessoas que tiveram a oportunidade de ver os seis primeiros episódios [antes da estreia], e a opinião estava dividida. Não tentamos fazer com que [1899] fosse mais fácil."