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'Vamos pôr um fim nisso': como mensagens telefônicas incriminam Flordelis?

Docussérie do Globoplay traz detalhes da investigação contra a apstora Flordelis - Reprodução
Docussérie do Globoplay traz detalhes da investigação contra a apstora Flordelis Imagem: Reprodução

De Splash, no Rio

11/11/2022 13h55

De exemplo a ser seguido por acolher mais de 50 crianças, Flordelis se tornou acusada de arquitetar o assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019. Ela foi do "céu ao inferno" como conta a série documental "Flordelis: Questiona ou Adora", que teve mais dois capítulos lançados hoje no Globoplay — em meio ao julgamento da ex-parlamentar.

A produção detalha o passo a passo da investigação dos delegados, Bárbara Lomba e Allan Duarte. O documentário mostra que a investigação foi impactada pela arrecadação dos aparelhos celulares dos familiares de Flordelis e Anderson, pois "havia um farto conteúdo de conversas" entre eles.

Anderson do Carmo foi morto a tiros na própria casa na madrugada do dia 19 de junho de 2019. Ele havia retornado de uma noite romântica com a esposa e foi atingido com diversos disparos de uma pistola de calibre 9 milímetros.

Flordelis, então, afirmou que seu marido havia sido vítima de um latrocínio, mas a investigação policial aponta que, na verdade, a pastora foi a articuladora do assassinato e contou com a ajuda de familiares, incluindo filhos e netos. O responsável pelos disparos teria sido Flávio, filho biológico da pastora.

A série mostra que a noite do crime não foi a primeira vez que eles tentaram matar Anderson. A investigação aponta que eles tentavam envenenar o pastor há meses por meio da alimentação. Entre maio e outubro de 2018, Anderson precisou ir ao hospital seis vezes, incluindo uma internação. Os vômitos e enjoos eram tão frequentes que ele fazia reuniões com um balde ao lado.

A jornalista Carolina Heringer, uma das responsáveis pela produção do Globoplay, conta que mensagens de Flordelis a André (um dos filhos afetivos da pastora) chamaram atenção.

"André, pelo amor de Deus, vamos dar um fim nisso. Me ajuda. Cara, tô te implorando. Até quando vamos ter que suportar esse traste no nosso meio?", disse a então parlamentar em mensagem enviada no dia 13 de outubro de 2018, meses antes do assassinato.

"Mãe, tô com a senhora. Não dá para fazer muita coisa, mas tô com a senhora", respondeu ele. "Só essa ajuda que eu preciso que você faça: ele comer ou beber alguma coisa. Um arroz fresquinho ou um franguinho que não faz mal. Só isso", prosseguiu ela.

"Fazer mais o quê? Separar eu não posso, porque não posso escandalizar o nome de Deus", teria enviado Flordelis ao filho por meio do celular de Marzy (neta afetiva da pastora), segundo o MP (Ministério Público).

Anderson do Carmo foi adotado por Flordelis antes de virar seu marido - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Anderson do Carmo foi adotado por Flordelis antes de virar seu marido
Imagem: Reprodução/Facebook

Após o crime, houve uma divisão familiar. O filho Daniel, antes de a polícia suspeitar de Flordelis, passou a acusá-la de matar Anderson.

"Mãe, presta atenção, não sou mais criança, eu já sei de tudo, dos remédios que você dava e outras pessoas, que não vou falar o nome, e até a Tayane tomou um Chamyto que era do meu pai e passou muito mal e afirmou", mensagem enviada pelo filho Daniel em agosto de 2019, após a morte do pastor, para a mãe, Flordelis, por meio do celular.

Dias depois, Daniel voltou a escrevê-la. "Você sabe que ele não merecia. Se não quisesse mais, separasse. E você sabe muito bem qual era as intenções de Simone, Marzy, etc", enviou ele, citando uma filha biológica e outra afetiva que não tinham boa relação com o pastor morto.

Além das mensagens telefônicas, os depoimentos de familiares também permitiram que a polícia identificasse as tentativas de envenenamento.

Uma neta afetiva conta, em depoimento ao documentário, que a própria Flordelis tomou uma bebida envenenada e passou mal. Após esse episódio, ela afirma que todos os familiares tomaram ciência de que estavam tentando envenenar o pastor.

A perícia concluiu que havia "fortes indícios para intoxicação crônica por arsênio, visto que ingerido em doses subletais, ele causaria esses sinais e sintomas que ele apresentou no hospital".

Ex-deputada Flordelis é julgada por júri popular em Niterói (RJ) - Brunno Dantas/Reprodução TJ-RJ - Brunno Dantas/Reprodução TJ-RJ
Ex-deputada Flordelis é julgada por júri popular em Niterói (RJ)
Imagem: Brunno Dantas/Reprodução TJ-RJ

O celular de Flordelis foi apreendido penas três meses depois do crime pela polícia civil — por ser deputada federal, era necessária uma autorização do STF (Superior Tribunal Federal).

O aparelho já não era o mesmo da noite do crime, mas ajudou a polícia a entender como ela estava interferindo na apuração do crime, produzindo uma carta que mudaria o depoimento de um dos filhos presos e incriminaria quem se voltou contra ela.

Julgamento

Sentada no banco dos réus, Flordelis é ré por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica. Outras quatro pessoas acusadas de envolvimento no crime também estão sendo julgadas. Ela terá seu destino decidido por um júri popular.

Além de Flordelis, estão sendo julgados sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues; a neta Rayane dos Santos Oliveira; e os filhos afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva. O pastor Anderson do Carmo foi assassinado com dezenas de tiros quando descia do carro, no quintal de casa, no bairro de Pendotiba, em Niterói.