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'Dedo sabe onde': o que foi a peça Macaquinhos, citada por Kelmon no debate

Padre Kelmon (PTB) citou a peça "Macaquinhos" durante debate presidencial realizado pela Globo - Reprodução/TV Globo
Padre Kelmon (PTB) citou a peça 'Macaquinhos' durante debate presidencial realizado pela Globo Imagem: Reprodução/TV Globo

De Splash, em São Paulo

30/09/2022 12h43

Durante o debate de ontem na Rede Globo, o candidato Padre Kelmon (PTB) criticava a Lei Rouanet e a "banalização da cultura" quando citou uma peça que tinha atores nus colocando o dedo "a gente sabe onde". Mas que peça é essa?

Trata-se da apresentação "Macaquinhos", que já foi alvo de polêmica algumas vezes desde sua estreia em 2011.

No debate, Kelmon afirmou: "Havia peças teatrais de pessoas peladas, desculpe esse tipo de palavreado, pessoas sem roupas, umas atrás da outra com dedo, né... A gente sabe onde, chamando isso de cultura".

"Macaquinhos" tem 40 minutos de duração e foi idealizada pelos artistas Caio, Mavi Veloso e Yang Dallas com base no livro "O Povo Brasileiro", de Darcy Ribeiro. A estreia aconteceu no Museu do Piauí em 2011. Na peça, oito atores nus andam em círculo por uma sala, examinando o ânus uns dos outros.

A apresentação foi realizada algumas vezes em outros estados nos anos seguintes e já havia suscitado debates. No entanto, se tornou tema de polêmica nacional em 2014, quando foi apresentada no CCBB de São Paulo, e em 2015, quando integrou a 17ª edição da Mostra Sesc Cariri de Culturas, no Ceará.

Peça 'Macaquinhos' - Reprodução - Reprodução
Peça 'Macaquinhos' causou polêmica nacional a partir de 2014
Imagem: Reprodução

Um espectador filmou o espetáculo na mostra do Sesc e postou no Facebook com a legenda: "Não espere nada desse governo, pois acabou de mostrar a outra banda podre?"

Em 2015, em entrevista ao site Catraca Livre, o grupo responsável pela peça afirmou: "Sabemos que a nudez e o próprio corpo humano, de um modo geral, sofrem o estigma de serem tabus nessa sociedade que produzimos juntos. Como 'Macaquinhos' aborda uma parte subestimada do corpo humano e para isso lida necessariamente com a nudez, é de se esperar reações de cunho mais conservador".

Na época, o Sesc emitiu uma nota explicando que "atuou de forma a assegurar que apenas o público interessado tivesse acesso ao referido espetáculo. Assim, todas as informações foram oferecidas, sendo estabelecida classificação de 18 anos e horário de apresentação às 23 horas, com exibição obrigatória da Carteira da Identidade".

"O Sesc tomou cuidado ainda em não divulgar qualquer imagem do espetáculo, por entender que pessoas fora da faixa etária indicada não devem ter acesso a tais conteúdos e não apoia a sua divulgação e portanto repudia a postagem de cenas do referido espetáculo nas redes sociais. O Sesc, dessa forma, cumpre o seu dever de incentivar o fazer artístico respeitando a pluralidade e a formação crítica e autônoma do ser", diz a nota.

O que é a Lei Rouanet?

A Lei Nº 8.313 de Incentivo à Cultura foi sancionada pelo então presidente Fernando Collor em dezembro de 1991. "Ela é uma forma de captação de recursos junto à iniciativa privada que implica a redução dos valores de impostos a pagar por empresas privada", explicou a Splash Vitor Rhein Schirato, professor doutor do DES (Departamento de Direito do Estado) da FD-USP (Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo).

Através dessa lei, artistas e produtores culturais podem buscar investimento privado de empresas que também são cadastradas que se interessem no financiamento de seus projetos. A contrapartida é que, respeitados os limites que a própria lei impõe, as empresas podem abater o valor investido no Imposto de Renda.