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Guilherme de Pádua diz que viu série sobre Daniella Perez: 'É parcial'

Guilherme de Pádua disse que produção sobre assassinato de Daniella Perez é "parcial" - Reprodução/Instagram
Guilherme de Pádua disse que produção sobre assassinato de Daniella Perez é "parcial" Imagem: Reprodução/Instagram

De Splash, em São Paulo

26/07/2022 09h11Atualizada em 28/07/2022 17h37

Guilherme de Pádua, 52, assassino de Daniella Perez, disse que assistiu à série documental "Pacto Brutal: - O Assassinato de Daniella Perez" (HBO Max) e afirmou que a produção é "totalmente parcial".

Condenado há 19 anos de prisão pela morte de Daniella, o ex-ator não foi ouvido por decisão dos documentaristas responsáveis pela produção, que decidiram se basear nos autos do processo e nas declarações dadas por Pádua no passado.

Em vídeo publicado no Instagram, Guilherme de Pádua negou que tenha deixado as redes sociais em razão de ter tomado conhecimento da série da HBO. Segundo ele, o afastamento dos perfis aconteceu em 2020, no início da pandemia, por orientação de um superior religioso — ele é pastor em uma igreja em Belo Horizonte.

Antes, falava sobre a sua conversão, sobre o atual casamento com Juliana Lacerda e inclusive sobre política, se manifestando a favor de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.

"Eu procurei nesses 10 ou 15 anos relembrar o mínimo possível dessa situação toda. Imagina você ficar sempre relembrando alguma coisa do seu passado da qual você se envergonha, da qual faz você ter uma série de pensamentos ruins, remorso, culpa. Isso não é um bom exercício, né?", questiona o ex-ator, que disse que inicialmente não queria assistir à produção.

"Eu tava relutante, porque é muito ruim você se ver numa situação em que você é o algoz, em que você é o criminoso, em que você é a pior pessoa do mundo. Enfim, não vou me fazer de vítima, mas óbvio que não é nada agradável", diz.

Guilherme de Pádua diz que já passou "noites e noites" tentando pensar em uma forma de consertar o que fez, mas que isso não é possível. Em 1992, ele e a sua então esposa Paula Thomaz, hoje identificada como Paula Peixoto, assassinaram Daniella Perez com 18 perfurações no corpo.

O pastor afirma que precisou ver a série porque, diferente de outros ex-presidiários, não consegue recomeçar a vida no anonimato.

"Agora, com a série, sabe-se que lá o que vem pra frente aí pra mim. E eu precisei assistir para ver de que forma vai ser aceso, vai ser estimulado ódio, revolta... Existem até leis pra proteger o indivíduo, o egresso que cumpriu sua pena. Existem leis para protegê-lo de perseguição, mas eu não tenho conseguido isso e agora muito menos".

Guilherme diz que a série é "totalmente parcial".

"Um jornalismo investigativo pretende trazer à luz todas as evidências, as provas, e apresentar as hipóteses que cabem com a dinâmica do que foi descoberto, com os horários, provas, perícias. E a HBO, até porque é uma grande produção, parece que envolve até a Warner (...) tinha condição de fazer uma coisa bastante completa, como o Investigação Discovery costuma fazer. E dar a nós, que somos espectadores da série, o direito de fazer nossa própria análise. E a HBO perdeu essa oportunidade", afirma.

Apesar de ser um documentário de não-ficção, a série não se apresenta como uma produção jornalística. Em entrevista a Splash, os diretores Tatiana Issa e Guto Barra explicaram que o projeto não quis dar espaço para ouvir os dois que foram condenados pelo crime cinco anos depois da morte da atriz, e estão livres atualmente.

"Ao longo dos anos, eles tiveram muito espaço na imprensa. Eles ofereceram diferentes versões que foram mudando. Houve até situações em que prometeram 'contar o que nunca foi contado', mas nada acontecia. Somos um documentário, é diferente de jornalismo", afirmou Guto Barra.

O pastor diz ter que, "do que lembra de cabeça", consegue "quebrar de forma devastadora algumas teses que estão sendo apresentadas". Guilherme de Pádua não cita quais são as teses que ele poderia quebrar nem quais as provas que teria para contraditar a série, que se baseia nas conclusões da Justiça, que condenou a ele e a ex-esposa pelo crime.

Ele diz ainda que pode trazer alguns destes dados para mostrar o "outro lado". "E não é pra dizer 'acredite na minha versão'. É pra você mesmo pensar: 'isso faz sentido? E essa prova?', coisa que eles não estão fazendo, como aquela imprensa marrom, tendenciosa, que quer puxar sardinha pra um lado, essa série está totalmente baseada somente na versão da acusação", repete.

Guilherme de Pádua afirma também que, recentemente, dois ex-presidiários que fazem parte do programa que ele realiza na igreja, disseram terem sido abordados por pessoas que ofereceram dinheiro para que eles falassem mal do hoje pastor.

"Eu lido com pessoas que vêm da rua, do vício, dependentes químicos. Imagina o que é oferecer dinheiro para uma pessoa dessa, totalmente vulnerável às necessidades dela. Então não duvido, inclusive, que apareçam situações falando mal de mim hoje", declara o ex-ator.

"Pode ser que, além de contar uma história totalmente parcial do crime, eles ainda venham tentar corromper a minha história atual de vida. Eu acho que isso não é muito honesto, e eu acho que você não gosta de ser enganado, não é verdade? Então pode aguardar. Se eu trouxer alguma novidade, eu vou dar oportunidade para você mesmo tirar conclusões", finaliza Guilherme de Pádua.

Splash entrou em contato com a assessoria da HBO Max e aguarda. O texto será atualizado assim que houver um retorno.

Por que os réus não foram ouvidos?

A Splash, os diretores do documentário afirmaram que os condenados tiveram diversas oportunidades para se posicionarem a respeito do crime e que, inclusive, trouxeram versões divergentes ao longo desses quase 30 anos. Tatiana Issa disse que se trata de uma "família (Perez) que não consegue ter paz" e dar espaço para os dois condenados pelo crime seria deixar que "versões mentirosas fossem perpetuadas".

Além da decisão dos documentaristas, não ouvir os assassinos foi um pedido da mãe de Daniella, a autora Gloria Perez. O que está presente na série é a reprodução do que a defesa dos assassinos falaram ao longo do processo e no julgamento.

"Eu realmente não queria que fizessem a entrevista dos assassinos agora, mas isso também não veio na proposta deles. Tanto a Tatiana quanto o Guto, quando eles fizeram essa proposta, eles já fizeram não incluindo os depoimentos dos assassinos. E por quê? (...) Tudo o que eles disseram durante o processo está lá na série. É o que interessa. A defesa deles está lá. Hoje em dia, se você quiser saber como eles vão, é só abrir as redes sociais. Eles estão lá exibindo a sua impunidade. Não precisa agora perder tempo dando microfone. Seria dar palco a psicopata", disse Gloria em entrevista a Splash.

Julgamento e liberdade

O julgamento de Guilherme e Paula aconteceu cinco anos depois do crime. Ele foi condenado por homicídio qualificado por motivo torpe, com impossibilidade da defesa da vítima. O ex-ator teve pena de 19 anos de prisão. No entanto, permaneceu na cadeia por apenas sete.

Segundo divulgou o jornal Correio Braziliense em novembro de 2021, ele se tornou pastor de uma igreja evangélica de Belo Horizonte (MG). O ex-ator mantém um perfil privado com mais de 40 mil seguidores no Instagram.

A cúmplice de Guilherme de Pádua foi condenada a 18 anos e seis meses de prisão. Depois de seis anos no presídio, Paula Thomaz passou a cumprir a pena em regime semiaberto e se formou em direito, segundo o colunista Paulo Sampaio, de UOL TAB. Hoje, responde como Paula Nogueira Peixoto, sem o Thomaz, sobrenome de Pádua que tinha em razão do casamento.

Em janeiro deste ano, a Justiça do Rio de Janeiro determinou que Paula Thomaz e Guilherme de Pádua pagassem uma indenização de R$ 480 mil para a autora Gloria Perez, mãe de Daniella.