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Seu Jorge lamenta: 'Temos empatia pelo George Floyd e não pelos nossos'

Daniel Palomares

De Splash, em São Paulo

10/04/2022 04h00

Seu Jorge vive com a família em Los Angeles, nos EUA, há 10 anos, mas conhece a fundo os problemas do Brasil. O ator e cantor é uma das estrelas de "Medida Provisória", longa de estreia de Lázaro Ramos na direção e que retrata uma distopia do nosso país, diante de um governo autoritário e racista. Seu Jorge não acha que a realidade é muito diferente da ficção.

Estamos vivendo uma violência que nem é retratada no filme, mas um absurdo tão grande quanto. Gente preta morrendo no quiosque cobrando trabalho, gente preta sendo assassinada na frente da mãe no supermercado, chefe de família sendo morto por segurança com uma câmera vendo. A gente tem empatia pelo George Floyd, mas não pelos nossos.

Seu Jorge em papo com Splash

"Esse filme, de maneira elegante, discute todos esses absurdos desse Brasil distópico que a gente não quer. Essa é uma forma de resistir a esse Brasil que a gente não quer", opina o cantor e compositor.

No longa, Jorge dá vida a um jornalista que não se conforma com sua nova realidade: uma medida provisória que expulsa os negros do Brasil e os envia para o continente africano contra sua vontade. O filme escancara as diferenças de tratamento entre negros e brancos no Brasil e mostra até onde pode chegar a opressão.

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Alfred Enoch e Tais Araujo em cena de 'Medida Provisória'
Imagem: Divulgação

"A arquitetura brasileira é a única que contempla um quarto de empregada que geralmente é menor do que a área de serviço da mesma. O estado serviçal aqui é absurdo. Como homem negro, vou estar sempre numa situação de desconforto de estar num lugar que não é muito meu", pondera.

Alfred Enoch, ator britânico e filho de mãe brasileira, também protagoniza o filme e fala sobre a diferença de como percebe o racismo no Brasil e na Inglaterra. "O reino britânico lucrou muito com o tráfico de escravizados, mas quando entra o dinheiro, você não tem que encarar esse assunto", provoca.

Na Inglaterra, existe muito negacionismo. É diferente. Você sai da sua casa, vê uma pessoa negra e não necessariamente quer dizer que essa pessoa é descendente de alguém que morou, trabalhou naquele país, construindo aquele país sem salário, sem decência, sem nada, que é o caso do Brasil

Alfred Enoch