Fala-se muito sobre o tapa de Will Smith em Chris Rock durante a cerimônia do Oscar, e pouco sobre a violência sofrida por Jada Pinkett Smith ao ter sua condição exposta de uma forma que, para muitos, foi bastante insensível. O confronto, violento de forma física e intelectual, ofuscou todo o resto da cerimônia, as vitórias históricas da ocasião para atores como Ariana DeBose e Troy Kotsur e também a vitória de Smith como melhor ator. Basicamente, tornou-se o único assunto da noite.
A repercussão, vale destacar, parte do inusitado. De todos os momentos confusos ou constrangedores da história do prêmio da Academia, inclusive o fiasco de "Moonlight" e "La La Land" em 2017, o mais recente é sempre o que será mais comentado. Entre espectadores e celebridades presentes, as opiniões se dividem.
Alguns condenam o uso da violência física e afirmam que Will poderia ter provado seu ponto e defendido a esposa de forma mais contundente se usasse as palavras. Outros declaram que a atitude de defender Jada continua sendo nobre, sobretudo após Hollywood ter declarado apoio às mulheres violentadas durante o auge do movimento #MeToo.
Outros até procuram em aplicativos de relacionamento pessoas que tenham coragem de fazer o mesmo.
O que o Oscar vai fazer?
Com as reações tão divididas, a resposta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS) ao confronto também foi confusa. Enquanto Almodóvar acredita que o momento não merece a atenção que tem recebido, Amy Schumer aguarda um pedido de desculpas e Wanda Sykes repreende a permanência de Smith na cerimônia.
Afinal, após o tapa, pareceu não haver qualquer tipo de repreensão. Smith fez um discurso emocionado ao receber seu Oscar, e direcionou suas desculpas aos demais presentes, e não a Chris Rock. Em seguida, apareceu sorridente e brincalhão, dançando muito animado na festa da revista Vanity Fair.
Esta permissividade acabou transmitindo a ideia de que não haveria consequências para quem subisse no palco do Dolby Theatre e resolvesse estapear qualquer um dos apresentadores. Mas a resposta e as explicações, um pouco tardias, parecem estar surgindo.
Em comunicado enviado à imprensa, a Academia afirmou que Smith se recusou a deixar a cerimônia, e que o conselho está estudando quais consequências o ator poderá sofrer —como expulsão, suspensão ou outras sanções que serão determinadas em uma reunião no dia 18 de abril.
E a carreira de Will Smith?
Para executivos de variados estúdios de cinema dos Estados Unidos, a imagem de Will Smith não está completamente manchada, mas tudo depende de como as coisas forem conduzidas daqui em diante.
O site The Hollywood Reporter ouviu pessoas influentes na indústria, que afirmaram ainda haver espaço para salvação. Para um executivo, a boa reputação de Will Smith e sua longa carreira vão ajudar.
Aos 53 anos, o astro não tem histórico de ter sido violento em sets de filmagem, e chegou a dar um bônus financeiro aos colegas de elenco de "King Richard - Criando Campeãs" para compensá-los pelo lançamento do filme de forma simultânea na HBO Max. "Ele vai conceder uma entrevista a alguém como Gayle King e a história vai meio que se dissipar", opinou o executivo para a publicação.
Para outras pessoas, as coisas não são tão simples assim.
Muitos produtores e agentes podem pensar duas vezes antes de escalarem Smith para algum novo projeto, já que o assunto do tapa inevitavelmente vai aparecer durante entrevistas e agendas de divulgação. Enquanto o tema não morrer, será um problema para o filme ou a série em que Smith estiver atuando, já que possivelmente será o maior assunto em torno do lançamento
Amenizar o problema depende também das respostas que virão daqui em diante. Se Will sofrer alguma consequência efetiva da Academia, como expulsão ou suspensão, as pessoas podem entender que ele já sofreu a punição adequada, e seguirem em frente. Caso a Academia decida deixar as coisas como estão, a própria organização pode ficar com a imagem prejudicada.
O que deve ser feito
A etiqueta do gerenciamento de crise ensina que Will Smith precisa fazer um pedido de desculpas que soe honesto e, se possível, aparecer diante das câmeras em uma reconciliação com Chris Rock. Depois disso, é necessário descansar a imagem antes de anunciar algum novo projeto. Até agora, ele se manifestou apenas através de um texto publicado no Instagram.
No momento, ele já tem alguns filmes engatilhados. "Emancipation", do Apple TV+, está em pós-produção, e o streaming planejava um lançamento em 2022. Além disso, há o aguardado "Bad Boys 4", a sequência "Bright 2", da Netflix, e outros dois filmes de ação em pré-produção, "The Council" e "Fast and Loose".
De qualquer forma, Will precisará tomar alguma atitude e enfrentar as consequências de seus atos. Mesmo com sua carreira tão extensa, ele nunca lidou com uma situação deste porte, e o tempo irá dizer se a recuperação será efetiva.
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