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'Yara': conheça o crime que parou a Itália e virou hit da Netflix

Cena de "Yara" (Netflix) - Reprodução/Netflix
Cena de "Yara" (Netflix) Imagem: Reprodução/Netflix

Ane Cristina

De Splash, em São Paulo

15/11/2021 04h00Atualizada em 15/11/2021 07h33

A nova produção da Netflix, "Yara", se tornou uma das mais vistas da semana na plataforma. O filme italiano mostra a investigação policial para encontrar o assassino de uma menina de 13 anos.

A trama, cheia de mistérios e reviravoltas, é baseada na história real de Yara Gambiraso. Saiba mais sobre o crime que parou a Itália há cerca de 10 anos.

O desaparecimento

A adolescente desapareceu em 26 de novembro de 2010, na cidade de Bérgamo. Ela havia saído de casa rapidamente para deixar um aparelho de som com seu instrutor em um ginásio esportivo, mas quase duas horas depois ainda não havia retornado.

Não demorou muito para que o pai de Yara chamasse a polícia, que iniciou a busca pela menina. Letizia Ruggeri, promotora que é peça central tanto da história real quanto da produção da Netflix, convocou cães rastreadores.

Em vez de seguirem a rota esperada de volta à casa de Yara, os cães seguiram no caminho oposto, em direção a um vilarejo próximo chamado Mapello.

Quando a equipe analisou os últimos sinais do celular de Yara, descobriu-se que ela passou por ali pouco antes de desaparecer.

O corpo é encontrado

Em 26 de fevereiro de 2011, exatamente três meses após o desaparecimento de Yara, seu corpo foi encontrado em um matagal na pequena cidade de Chignolo d'Isola, a 10 km do ginásio esportivo.

Um homem pilotava um avião controlado por rádio quando avistou o corpo de Yara. Os investigadores da cena do crime encontraram o iPod e as chaves da casa de Yara, bem como seu chip e a bateria de seu celular. O aparelho não estava com ela.

Na roupa de Yara foi possível coletar o DNA do suspeito.

Busca pelo assassino através do DNA

Como retratado no filme da Netflix, a extensa busca pelo assassino de Yara contou com uma força-tarefa de exames de DNA. Mais de 22 mil pessoas tiveram amostras genéticas coletadas.

Perto do matagal onde o corpo de Yara foi encontrado ficava uma boate chamada Sabbie Mobili. Ruggeri sabia que assassinos tendem a despejar corpos em áreas com as quais estão muito familiarizados, então os investigadores começaram a coletar amostras de DNA fora do clube nas noites de sextas-feiras e sábados.

Uma das amostras encontradas, de Damiano Guerinoni, era muito semelhante à do suspeito (que foi chamado de "Ignoto 1"). Ele, no entanto, foi rapidamente excluído como suspeito — Guerinoni estava na América do Sul no dia do desaparecimento de Yara —, mas os geneticistas estavam convencidos de que ele era um parente próximo do assassino.

A equipe passou meses recriando a árvore genealógica de Damiano Guerinoni. O pai dele tinha um irmão, Giuseppe, que morreu em 1999. Os investigadores visitaram a viúva de Giuseppe, em setembro de 2011, e encontraram dois selos que ele lambeu: um para validar sua carteira de motorista e outro em um cartão postal que enviou para sua família.

Quando os resultados de DNA dessa amostra chegaram, eles tiveram outro avanço: os geneticistas estavam convencidos de que Giuseppe Guerinoni era o pai de "Ignoto 1".

Giuseppe teve três filhos homens. Nenhum deles apresentou DNA compatível com o do suspeito. Assim, a única explicação plausível era que Giuseppe Guerinoni teve um filho fora do casamento. Foi iniciada, então, uma busca pela mãe do suspeito.

Massimo Bossetti

Após quase quatro anos de investigação, a equipe chegou ao nome de Ester Arzuffi, que havia sido vizinha de Giuseppe Guerinoni 40 anos antes.

Em 1970, Ester deu à luz gêmeos — um menino e uma menina. O menino se chamava Massimo Bossetti (seu nome do meio era Giuseppe, como seu pai biológico). À época com 42 anos, era um construtor, casado, tinha três filhos e morava em Mapello, o vilarejo onde o último sinal do celular de Yara foi gravado antes de ela desaparecer.

Os investigadores montaram uma blitz falsa no caminho de Bossetti para colher sua amostra genética em um teste do bafômetro. O DNA mostrou correspondência exata com Ignoto 1. Ele foi preso, acusado do assassinato de Yara Gambiraso, em 16 de junho de 2014.

Os advogados de Bossetti ainda tentam reverter sua condenação com pedidos de novas investigações — solicitações que já foram rejeitadas pelo menos três vezes. Como informado nas cenas finais de "Yara", os apelos de Bossetti só serviram para sustentar o veredito da culpa.