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Com milhões de views, Batalha da Aldeia muda por covid e quer mais prêmios

A Batalha da Aldeia em 2019
A Batalha da Aldeia em 2019
Felipe Scaldini

De Splash, em São Paulo

22/05/2021 04h00

A cultura das batalhas de rimas cresceu exponencialmente no Brasil nos últimos anos. Os eventos costumavam reunir milhares de pessoas, tornaram os MCs celebridades com milhões de seguidores na internet e também funcionavam como uma espécie de celeiro de novos rappers.

Porém, esse crescimento sofreu um baque com a pandemia do novo coronavírus. Esse tipo de evento, que tem na aglomeração do público uma peça fundamental, precisou se reinventar para os novos tempos.

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A Batalha da Aldeia (BDA) é uma das principais do Brasil, sempre lotada e com seus vídeos atingindo milhões de visualizações no YouTube. No total, o canal na plataforma conta com 3,5 milhões de inscritos e mais de 600 milhões de visualizações.

No último sábado (15), eles realizaram uma espécie de "esquenta" para a comemoração dos seus cinco anos, com participação de artistas como MC Hariel e um carro como prêmio.

A maior parte do evento foi realizada online, apenas com MCs no local.

Splash conversou com Bruno Angelo de Sousa, 31, o Bob13, fundador da batalha, sobre dificuldades de organizar um evento desse porte para um público virtual.

Nós temos uma relação próxima com a internet, mas a pandemia nos obrigou a viver lá. Fazer batalha online é um remédio. Ninguém gosta, mas é o que temos para hoje.
Bob13
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Desde 2016, a Batalha da Aldeia vinha sendo realizada às segundas, a partir das 19h, na Praça dos Estudantes, no centro de Barueri, região da Grande São Paulo.

De lá, saíram nomes que hoje são destaque no trap e no rap nacional. Caso de Salvador da Rima e Kawe, que já participaram da BDA e chegaram a ocupar o primeiro lugar do top 50 do Spotify com "Ilusão - Cracolândia" e "MDS", respectivamente.

Mikezin, MC que já venceu a Batalha da Aldeia e hoje também se aventura no mundo do trap, diz que as batalhas de rima são uma porta de entrada para futuros artistas da cena.

As batalhas podem ensinar muito sobre o contato com o público, postura. Se a pessoa quer ir além das rimas, se acredita mesmo, acho que a batalha pode ser um divisor.
Mikezin
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'Precisamos de apoio'

Por conta da alta procura, a Batalha da Aldeia fez um ranking para selecionar os MCs com melhor histórico. Dos 16 selecionados, metade dos participantes são selecionados entre os que estão no topo do ranking e a outra metade é convocada por ordem de inscrição.

Os envolvidos batalham entre si até sair um vencedor.

Segundo o idealizador da BDA, a mescla entre MCs mais experientes e novatos dá a chance para novos talentos conseguirem mostrar seu trabalho e também mantém aqueles que vêm se destacando na ativa.

Em tempos pré-pandemia, os vencedores eram escolhidos por aclamação popular. Para evitar uma distorção por parte das torcidas online, nas disputas pela internet um júri especializado tem poder de decisão na escolha dos melhores MCs.

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Bob diz que tinha um trabalho fixo como funcionário dos Correios, mas em 2019 decidiu abandonar a estabilidade para se dedicar exclusivamente às batalhas. Durante a conversa, ele explicou à reportagem que a renda da BDA vem quase que exclusivamente das visualizações no YouTube.

Com o dinheiro proveniente das visualizações a BDA investe nos equipamentos, no pagamento de freelancers e funcionários (20 pessoas, no total), além do prêmio aos três primeiros colocados. Bob tem o desejo de remunerar todos os participantes, mas o idealizador da batalha pede apoio para realizar.

Não é justo o MC pagar pelo transporte, alimentação, entreter a galera e não receber por isso. Mas, infelizmente, hoje não podemos arcar com esse custo. A batalha de rimas é uma arte. As marcas e o poder público tinham que abrir os olhos para entender essa potência.

Hoje a Batalha da Aldeia é um evento com convites para viajar o Brasil e a Europa, além de receber convidados ilustres como o comediante Murilo Couto.

O discurso de valorização do MC é reforçado por Mikezin, que acredita numa profissionalização dos rimadores caso o apoio externo vire realidade.

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Tem muito MC que quer viver de batalha, que só quer rimar e não necessariamente fazer música. Infelizmente, hoje é impossível viver só de batalha.
Mikezin