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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Formas de arrumar tempo para ler (sem precisar largar mulher e filhas)

Pintura de Jacob Cornelisz. - Reprodução
Pintura de Jacob Cornelisz. Imagem: Reprodução

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

25/01/2023 04h00

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Um ator, pai de uma criança de quatro anos e de outra com apenas quatro meses, pediu divórcio. Numa postagem no Instagram, escreveu que não se lembrava da última vez que tinha lido um livro. Pelo que ouço e vejo por aí, a vida numa família com filhos não é mesmo fácil. Olhando ao redor, no entanto, arrisco dizer que é sim possível conciliar leitura, casamento e presença paterna. Só é imprescindível ter disposição real para tal.

Alguns hábitos podem ajudar leitores enferrujados a reencontrarem momentos de leitura sem precisar recorrer ao divórcio, saída drástica demais quando se tem duas pequenas em casa. O que está por trás do afastamento dos livros é um problema comum em nossos dias: como ajeitar nas 24 horas todas as obrigações e o que gostaríamos genuinamente de fazer?

Primeiro, tentar criar o hábito e manter certa constância. A vida está corrida? Está, eu sei. Todo mundo diz estar atolado, mesmo quem passa metade do dia atualizando o feed do Instagram. Deixar o celular um pouco de lado, aliás, talvez resulte em ganho de tempo para fazer uma porrada de coisas.

Mas foquemos: tente reservar um momento do dia para leitura. Não precisa ficar bitolado, se comparando com quem diz encarar 200 páginas por sentada no sofá. Cada um com sua realidade e suas mentiras. Dez minutinhos de leitura todas as manhãs já é bem melhor do que não ler nada. Aos poucos as páginas viram.

Aproveitar brechas como idas ao banheiro, filas ou criança ninando no colo para mais linhas também é uma boa. Daí a importância de ter livros sempre por perto. A ideia de ler antes de dormir, sonolento, não me agrada. Por outro lado, livros acompanham muito bem o vinho ou a cachaça do começo da madrugada.

A leitura picada não costuma favorecer colossos que exigem mais esforço do leitor. É válido deixar para outro momento as mil páginas de um David Foster Wallace. Privilegiar obras ligeiras, de textos breves e linguagem pouco engenhosa é uma saída. É do feitio da crônica ser afável, relatos de viagem normalmente são leves e cativantes, biografias bem feitas fluem que é uma beleza. Experimentar gêneros diferentes e saber por quais optar de acordo com a situação é virtude de bons leitores.

Ler dois ou três livros ao mesmo tempo? Por mais que possa soar contraditório ou excessivo para quem não anda lendo nada, vale. Se cansou de um, pule para o outro. De repente, dá até para encaixar um conto ligeiro e um capítulo de alguma história maior entre a reunião virtual e uma fralda trocada (trocar fralda é obrigação de um pai, não "ajuda"). E não se acanhe: obras modorrentas não só podem como devem ser abandonadas - só é legal sacar o que não agradou.

Será difícil se não existir disposição real para encaixar a prática nas horas de um dia ou em brechas na semana. Entrar para um clube de leitura pode ser outro meio para, com o apoio de colegas, achar um tempo para ler em meio a tantas atribulações. Escutar audiolivro é diferente de ler livro, mas para quem só se importa com o conteúdo a alternativa é válida (funciona melhor para não ficções, me parece).

Reforço: se estiver pensando em pedir divórcio para dedicar mais tempo à leitura, principalmente sendo pai de filhas pequenas, tente esses caminhos antes da separação.

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