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REPORTAGEM

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Dicas de livros: autores premiados em 2021 recomendam grandes leituras

Escritores premiados indicam grandes livros. - Reprodução
Escritores premiados indicam grandes livros. Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

27/12/2021 04h00

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O que os vencedores dos nossos principais prêmios literários indicam para lermos? Fiz essa pergunta a quem ganhou o Jabuti, Oceanos, Biblioteca Nacional, São Paulo e Sesc em categorias de ficção. A triste exceção não consultada foi Maria Lúcia Alvim, levada pela Covid antes de receber o Jabuti de Poesia pelo seu "Batendo Pasto" (Relicário).

Sem exigências. O pessoal pôde recomendar livros publicados em qualquer época, escritos por qualquer autor, publicados em qualquer língua, disponíveis ou não no Brasil. Como era de se imaginar, o povo foi camarada e ajudou a formar essa lista cheia de boas dicas, quase todas fáceis de encontrar por aí.

Vejam só o que os ganhadores da temporada de 2021 dos prêmios literários indicam pra gente:

Marcelo Labes, vencedor do Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional com o romance "Três Porcos" (Caiaponte), indica "Nem Sinal de Asas", de Marcela Dantés (Patuá):

"Marcela Dantés parte de uma curiosa e triste notícia de jornal para escrever um romance sobre quem está atrás da notícia: uma mulher encontrada morta depois de cinco anos em seu apartamento. Anja, sua protagonista, é um retrato da solidão ambulante da urbe, mas uma solidão que tem história - contada com tamanho refino pela autora. O livro foi finalista de dois prêmios, o Jabuti e o São Paulo de Literatura".

Morgana Kretzmann, vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Melhor Romance de Estreia com "Ao Pó" (Patuá), indica "A Pediatra", de Andréa del Fuego (Companhia das Letras):

"Del Fuego tem um domínio de técnica narrativa como poucos escritores contemporâneos. Suas personagens são muito bem construídas e através delas somos levados a histórias de forte impacto. 'A pediatra' é um livro único lançado neste ano de 2021. Humor, perversidade, solidão, tudo isso encontramos em Cecília, que, num mesmo capítulo, passamos a amar e depois odiar e depois amar de novo. Um livro para se guardar no lugar de destaque da estante principal da sala".

Jeferson Tenório, vencedor do Jabuti na categoria Romance Literário com "O Avesso da Pele" (Companhia das Letras), indica "A Visão das Plantas", de Djaimilia Pereira de Almeida (Todavia):

"A obra narra a história de Celestino, um homem misterioso marcado por um passado brutal. Ao longo da narrativa somos apresentados a uma personagem aterradora, que foi capaz das piores atrocidades quando era capitão de um navio negreiro, mas que na velhice regressa a Portugal e se torna um zeloso jardineiro às voltas com suas plantas. O livro discute a complexa relação entre a justiça e a impunidade diante de crimes históricos, através de uma linguagem dura e lírica. Certamente um dos grandes livros de 2021".

Monique Malcher, vencedora do Jabuti na categoria Conto com "Flor de Gume" (Jandaíra), indica "Coração Subterrâneo", de Olga Savary (Todavia):

"Me reencontrei com Olga esse ano quando senti esse livro em minhas mãos. Desde então ele não sai de perto de mim. Releio algum poema todas as noites antes de dormir de forma oracular. São cem poemas que passeiam pela carreira de Savary, que era tão insubordinada, encantada e feroz. Erotismo, haicai, natureza, sentimentos subterrâneos, tudo isso e muito mais brota da poética dessa paraense. Nascidas na mesma terra, que honra a minha que 50 anos depois de Savary, quem ganha o Jabuti seja eu, e que eu esteja com esse livro passeando por todo meu ser. Publicação que certamente vai mostrar que Savary é e sempre foi uma das maiores poetas brasileiras".

João Anzanello Carrascoza, vencedor do Prêmio Clarice Lispector da Biblioteca Nacional com o livro de contos "Tramas de Meninos" (Alfaguara), indica "O Ano do Pensamento Mágico", de Joan Didion (Harper Collins):

"Porque podemos perder uma pessoa que amamos de um momento para o outro. Porque a existência é fugaz. Porque o luto faz parte da luta cotidiana. Porque é uma obra profundamente humana".

Luís Cardoso, vencedor do Oceanos com "O Plantador de Abóboras" (Abysmo), indica "A Redundância da Coragem", de Timothy Mo (Puma):

"'A Redundância da Coragem', originalmente publicado em inglês por Timothy Mo, em 1991, é um romance muito forte, que na voz irónica do narrador, um comerciante de café de ascendência chinesa, descreve a resistência de um povo de uma pequena ilha perante a invasão de uma potência militar, baseado na trágica história de Timor -Leste e dos primeiros anos de luta da guerrilha contra a ocupação indonésia. É um livro que nos fala da dimensão humana em situações de extrema violência e necessidade, da nossa força e fraqueza interior na luta pela sobrevivência, da desumanização perante a banalização do grotesco, mas também na capacidade de sonhar e ter esperança".

Flávio Carneiro, vencedor do Jabuti na categoria Crônica com "Histórias ao Redor" (Cousa), indica "Primeiras Estórias", de Guimarães Rosa (Global):

"É um livro de pequenas surpresas. Cada conto é um deslumbramento. A criança, a loucura, o amor, o poder da palavra são matéria-prima para narrativas curtas, intensas, sempre atravessadas pela delicadeza exata da poesia".

João Luiz Guimarães, vencedor do Jabuti de Livro Infantil e Livro do Ano com "Sagatrissuinorana" (Ôzé), indica "Você é um Animal, Viskovitz!", de Alessandro Boffa (Companhia das Letras):

"O título é assim mesmo, uma frase exclamativa, acusativa, com acento e um nome estranho. Boffa consegue a proeza de criar contos divertidíssimos e originais, dissecando a natureza humana através do recurso de projetar nossos temas e angústias em outros seres vivos não humanos. Claro que isso já foi feito muitas vezes desde Esopo, mas Boffa, ítalo-russo e biólogo de formação (deformação?), usa e abusa do jargão científico para nos entreter com curtas cenas insólitas entre micróbios primordiais, esponjas filtradoras, louva-a-deus canibais, pinguins assediadores, besouros rola-bosta esforçados, caramujos hermafroditas indecisos, paramécios com problemas de caráter — entre muitos outros bichos. Olha só esse trecho, com um molusco lascivo em primeira pessoa: '(...) Com a rádula acariciei delicadamente o exóstoma, com a parte distal do pé toquei a proximal. Senti a cálida pressão do rinóforo que se insinuava sob a concha...' Dá pra resistir?"

Leitor - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Nelson Cruz, vencedor do Jabuti de Livro Infantil e Livro do Ano com "Sagatrissuinorana" (Ôzé), indica "Coisas Para Deslembrar", de Alexandre Rampazzo (Caixote):

"Se, para o ilustrador, o fazer do livro ilustrado é provocar o olhar e o pensamento do leitor usando metáforas da imagem, o livro 'Coisas para deslembrar', de Alexandre Rampazzo, atinge um dos mais altos níveis da narrativa do livro ilustrado no país. Provocativo desde a capa, com o título posicionado no verso do livro, o projeto gráfico, criação também do autor, participa da obra com inteligência certeira. Rampazzo trabalha a ilustração em linha de nanquim segura, precisa. A personagem central, de costas para o leitor por todo o livro, tem à sua frente fotos emolduradas de um passado feliz, silencioso e que se projeta para a frente na medida em que a leitura avança. O texto, coberto por tarjas, deixa sobressair em várias linhas, meias frases ou palavras participando graficamente da proposta do autor: lembrar e deslembrar. A argumentação, tanto escrita quanto visual que Rampazzo nos traz, em torno do tema que propõe, é preciosa. É prazeroso ler/ver a harmoniosa parceria entre ilustração, texto e projeto gráfico. Um dos nossos grandes livros de imagem lançados esse ano.

Marcelo Ferroni, vencedor do Jabuti de Romance de Entretenimento com "Corpos Secos" (Alfaguara), indica "A Vida Nunca Mais Será a Mesma", de Adriana Negreiros (Objetiva):

"Adriana Negreiros parte de sua própria experiência - ela foi vítima de violência sexual em 2003 - para montar um panorama sobre a violência e os abusos sofridos por mulheres na história recente do país. É um livro corajoso, mas não só isso. É uma das narrativas de não ficção mais impactantes, aprofundadas e bem escritas que eu já li. Um livro impressionante".

Samir Machado de Machado, vencedor do Jabuti de Romance de Entretenimento com "Corpos Secos" (Alfaguara), indica "Uma Tristeza Infinita", de Antônio Xerxenesky (Companhia das Letras):

"Xerxenesky usa um sanatório suíço nos anos 50 para falar de como lidar com traumas, culpa, covardia e ter que voltar a conviver com colaboracionistas. Um livro que tem muito a dizer sobre o momento em que vivemos".

Natalia Borges Polesso, vencedora do Jabuti de Romance de Entretenimento com "Corpos Secos" (Alfaguara), indica "O Congresso da Melancolia", de Léo Tavares (Urutau):

"O livro está dividido em três partes: Paisagem, Autorretrato e Natureza morta. Nelas estão 13 contos ligados pela existência de um congresso que discutirá a melancolia nas artes, só que as personagens, por motivos diversos, não conseguem chegar. Os contos falam de relações humanas e criam tensões com imagens do melancólico, da solidão, do obscuro, do sombrio do passado e criam uma fantasmagoria nas narrativas. É um livro muito atual, pois fala desse sentimento de angústia para com o nosso tempo. Os contos do Léo me assombram e, volta e meia, algumas imagens me voltam. Um plus, para mim, as personagens são LGBTQIA+. Imagens da melancolia se desdobram no tempo e ficam difusas quando nos deparamos com a nossa tristeza atual e isso é o mais maravilhoso. O livro pergunta qual é a nossa tristeza e a angústia é mesmo a de não termos resposta"

Rodrigo Luiz P. Vianna, vencedor do Prêmio Alphonsus de Guimaraes da Biblioteca Nacional com o livro de poemas "Textos Para Lembrar de Ir à Praia" (Reformatório), indica "Noite de São João", de Natália Agra (Corsário-Satã):

"Um livro que me acompanhou neste ano foi 'Noite de São João'. A poeta trabalha o luto com a delicadeza de quem circunda abismos nas pontas dos pés, tentando perceber as sutilezas que nos mantêm em terra. Reconstrói memórias com lirismo e silêncio, como quem transforma a densidade da madeira na leveza do fogo"

Diogo Monteiro, vencedor do Prêmio Sesc na categoria Contos com "O que a Casa Criou" (Record), indica "Os Ambulantes de Deus", de Hermilo Borba Filho (CEPE):

"'Os ambulantes de Deus' foi o meu 'Pedro Páramo'. Foi quando eu descobri que a literatura é grande demais para caber no mundo. Acho que Hermilo Borba Filho foi o primeiro a me sugerir que, para escrever, é preciso recriar o mundo, o tempo, o humano, a linguagem, o passado e o futuro. Deus e o diabo. Neste livro cabe Pernambuco, cabe o Brasil. Um povo que é e que poderia ser. Os vivos e os mortos. Ancoragem e travessia".

Fábio Horácio-Castro, vencedor do Prêmio Sesc na categoria Romance com "O Réptil Melancólico" (Record), indica "Torto Arado", de Itamar Vieira Junior (Todavia):

"Primeiramente, por suas qualidades estruturais: é uma narrativa construída com solidez, mas, ao mesmo tempo, inventiva, que permite o envolvimento do leitor no universo referido na trama, o mundo rural e patriarcal do Nordeste brasileiro. Em segundo lugar, pela ênfase dada aos personagens femininos, o que estabelece um contraste fundamental para a compreensão desse universo. Esse livro tem uma narrativa poderosa: mesmo situado num espaço histórico e geográfico definido, aborda questões universais, nas quais nos reconhecemos e reconhecemos o mundo, na sua essência, na sua tragédia. O texto nos traslada em direção à nossa própria identidade social, coletiva, no que ela tem de contraditória, cínica, medíocre e cruel"

Fabio Brust, vencedor do Prêmio Glória Pondé da Biblioteca Nacional com o livro juvenil "Ex Libris" (Avec), indica "As Formigas", de Bernard Werber (Bertrand do Brasil):

"Esta é uma obra que traz grandes reflexões a partir de um contexto minúsculo, que nos faz pensar em nosso lugar no mundo sem ser óbvia! Acompanhamos uma família em embate com uma civilização que convive com a humanidade há séculos e é tão complexa quanto a nossa - e repensamos todos os nossos princípios junto com essas pessoas".

Marcelo Saravá, vencedor do Jabuti na categoria Histórias em Quadrinhos com "Meta: Depto. de Crimes Metalinguísticos" (Zarabatana), indica "Bonsai", de Alejandro Zambra (Cosac Naify):

"'No final ela morre e ele fica sozinho, ainda que na verdade ele já tivesse ficado sozinho muitos anos antes da morte dela, de Emilia. Digamos que ela se chama ou se chamava Emilia e que ele se chama, ou se chamava e continua se chamando Julio. Julio e Emilia. No final, Emilia morre e Julio não morre. O resto é literatura.' Isso é só o primeiro parágrafo".

Reprodução da biblioteca antiga de Alberto Manguel - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

André Freitas, vencedor do Jabuti na categoria Histórias em Quadrinhos com "Meta: Depto. de Crimes Metalinguísticos" (Zarabatana), indica "Deixe Ela Entrar", de John Ajvide Lindqvist (Globo):

"Embora Anne Rice tenha me influenciado bastante como autor de histórias de vampiro, eu acho que mais pessoas deveriam ler 'Deixe Ela Entrar', que é uma obra-prima que vai muito além do filme e poucas pessoas conhecem".

Deyvison Manes, vencedor do Jabuti na categoria Histórias em Quadrinhos com "Meta: Depto. de Crimes Metalinguísticos" (Zarabatana), indica "Lâmina Azulada", de Luís Carlos Sousa e Rafael Dantas (Skript):

"O Luís mistura como poucos a brasilidade do cangaço e elementos do folclore nacional com as lendas arturianas, em um conto de um cangaceiro que é privado da morte por uma maldição e precisa fazer uma jornada de redenção através do tempo".

Omar Viñole, vencedor do Jabuti na categoria Histórias em Quadrinhos com "Meta: Depto. de Crimes Metalinguísticos" (Zarabatana), indica "Três Sombras", de Cyril Pedrosa (Quadrinhos na Cia):

"Essa HQ é uma poesia em quadrinhos sobre a perda de um filho, onde o pai não aceita a morte dele, tudo contado de uma forma lúdica. É um dos melhores quadrinhos que li".

Amma, vencedora do Jabuti na categoria Juvenil com "Amigas que se Encontram na História" (Quintal Edições), indica "Vermelho Amargo", de Bartolomeu Campos de Queirós (Global):

"Foi uma das leituras que mais me comoveu neste ano. Fez um rebuliço na alma e uma visita às dores da infância".

Angélica Kalil, vencedora do Jabuti na categoria Juvenil com "Amigas que se Encontram na História" (Quintal Edições) indica "A Roda Mais Vermelha Desabrocha", de Liv Strömquist (Quadrinhos na Cia):

"Gosto muito do estilo de narrativa da quadrinista, que mistura um tom opinativo e bem-humorado com informações históricas e citações de grandes pensadores. O primeiro livro que li dessa autora, 'A Origem do Mundo - Uma História Cultural da Vagina ou a Vulva vs o Patriarcado', é uma das minhas HQs preferidas".

Volnei Canônica, vencedor do Prêmio Sylvia Orthof, da Biblioteca Nacional, com o infantil "Tanta Chuva no Céu" (Editora do Brasil) indica "Nós, Os Ets", de Marcel Souto Maior e Mariana Massarani (DarkSide):

"Foi o livro que mais me inspirou em 2021. Na história, os ETs apresentam situações que espelham muito sobre o comportamento e valores dos seres humanos. Uma obra que trabalha com o pensamento criativo, filosófico e humorado de crianças e adultos. Texto e imagem em camadas a serem reveladas fazendo do leitor um ET com poderes de observação para os próprios sentimentos e para a sociedade. Um livro genial e com um projeto gráfico arrojado. Um livro de outro mundo!"

Luisa Geisler, vencedora do Jabuti na categoria Romance de Entretenimento com "Corpos Secos" (Alfaguara), e Edimilson Pereira de Almeida, vencedor do São Paulo na categoria Melhor Romance do Ano com "Front" (Nós), não responderam ao contato ou não enviaram a sugestão até o fechamento desta coluna.

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