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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Democracia e tolerância: Jorge Amado 20 anos após a sua morte

Colunista do UOL

06/08/2021 09h56

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Na 89ª edição do podcast da Página Cinco:

- 20 anos da morte de Jorge Amado: papo com Joselia Aguiar, autora de "Jorge Amado - Uma Biografia" (Todavia).

- Prêmio Geek de Literatura.

- "A Extinção das Abelhas", de Natalia Borges Polesso (Companhia das Letras), "Morte Sul Peste Oeste", de André Timm (Taverna), e "Em Busca dos Jardins de Nossas Mães", de Alice Walker (Bazar do Tempo), nos lançamentos.

Alguns destaques do papo com Joselia sobre Jorge Amado:

Avanços

Muito do que se fala dele em relação ao machismo patriarcal, questão racial, se ele era adequado ou não em suas colocações, mesmo hoje as pessoas reconhecem que eram avanços. Ainda que num tempo específico, dentro de uma mentalidade, que a obra dele estava tentando avançar em relação a esses temas. Ele era um avanço em relação a algo que era ainda mais atrasado.

Sem pedantismo

Admiro muito as pessoas que tratam do conhecimento de maneira simples. Acho que ele, no fundo, sabia que isso nele era diferente em relação aos outros. Ele sempre esteve cercado de muitos escritores que cultivavam certa imagem de ser escritor, de como falar, de como escrever cartas. E ele foi deixando tudo muito mais coloquial.

Atualidade da obra

A obra acaba sendo muito presente hoje. Não só porque continuamos com os mesmos problemas, mas porque trata de questões muito importantes para a própria humanidade. Do respeito ao outro, da tolerância. E da tolerância mesmo, não a tolerância apenas com as pessoas que são iguais a nós.

Homem da frente ampla

Ele tinha escolhas que eram sempre por uma frente ampla. O Jorge Amado é o cara da frente ampla. Ali nos anos 50, que ele é supercomunista, superstalinista, ele conversa com escritores como ele da América Latina e se referem às pessoas como pessoas amplas. Eles tinham uma preocupação de serem amplos até para que a mensagem que queriam levar chegasse a mais pessoas, não ficasse numa bolha.

Autocrítica

Ele se declarava uma pessoa socialista com democracia. Tem várias entrevistas que ele deixa de maneira muito explícita a forma de pensar política. Ele se coloca como alguém de esquerda, mas sempre na perspectiva de pensar essa frente ampla. Tem um livro que ele escreve ali nos anos 80 que se chama "O Menino Grapiúna". No meio, ele diz sobre a importância do sonho, mas da importância também de não se deixar contaminar por ideologias que tiram a humanidade das pessoas. No "Navegação de Cabotagem" tem uma frase dele que fica meio solta. Ele diz assim: quem que no meio da travessia não acaba sujando os pés e as mãos de lama?

Como estaria neste Brasil?

Ele não estaria surpreso. Ia estar se posicionando muito contra o Bolsonaro, sem dúvidas. E muito provavelmente teria ficado feliz com o que a gente vê hoje nas universidades por causa da política de cotas, de ter muito mais mestres e doutores mulheres e homens negros. Deixaria o Jorge Amado feliz imaginar que é por aí que a gente consegue materialmente a mudança.

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