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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Tolstói, Dostoiévski, Gógol... Caminhos para desvendar a literatura russa

Colunista do UOL

14/05/2021 08h03

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Na 79ª edição do podcast da Página Cinco:

- Entrevista com Irineu Franco Perpetuo, que acaba de lançar o ensaio "Como Ler os Russos" (Todavia).

- "Crônicas de Petersburgo", de Fiódor Dostoiévski (34), "Brazza", de Mariana Brecht (Moinhos), e "A Longa Noite de Bê", de Fernando Ferrone (Mocho), nos lançamentos.

Alguns destaques da entrevista:

Por que ler os russos?

Porque é bom demais. Para quem vê a leitura como momento de prazer, acho que é o principal. Pela qualidade intrínseca deles.

Impacto da literatura na sociedade

A participação na cultura deles é impressionante. Tem uma questão que vem lá do século 19, com o debate social ser tão interditado na Rússia. Antes de 1905 não tinha partido político na Rússia, não tinha sociedade civil. E todas as discussões humanísticas estavam interditadas. Tudo era carreado pela literatura, que acabava cumprindo vicariamente a função de outras ciências humanas. A literatura sempre foi mais do que literatura. E a crítica literária sempre foi mais do que crítica literária.

Russos na literatura brasileira

A reverberação da literatura russa em caras que vão ser decisivos na literatura brasileira ajuda a explicar essa identificação. Tem uma hora em que as temáticas e o jeito dos russos começam a reverberar na melhor prosa e na melhor poesia brasileira. Digo até provocativamente. Se o cara leu Drummond e acha que nunca leu um russo na vida, ele leu. Os russos reverberam nele. Então leu por osmose, por influência.

Por onde começar?

As pessoas costumam achar que a literatura russa é só aqueles livrões que você precisa casar com eles. Não é. Por onde realmente começar na literatura russa? Eu diria que literatura russa no Brasil é Tolstói e Dostoiévski, para início de conversa. Mas não vou dizer para começar pelo "Anna Kariênina". Você nunca provou nada de um prato, de repente te servem uma caçarola enorme que você precisa terminar? Não precisa. Começa por novelas desses caras. Do Dostoiévski, uma novela cheia de eventos como "O Jogador" pode ser divertida. Ou se quer ver até onde ele pode descer com as reflexões filosóficas, pelo "Memórias do Subsolo", que é bem denso. Do Tolstói tem "A Morte de Ivan Ilitch", que é uma novela breve e profundíssima. Ou uma coisa mais tiozão do pavê dizendo aquelas verdades incômodas que não são verdades, mas são muito incômodas, como "A Sonata Kreutzer".

Púchkin

Esse é o motivo pelo qual o Púchkin é do tamanho que é na Rússia e em mais nenhum lugar do mundo, não só no Brasil. Ele é essencialmente um poeta. É difícil um poeta ter a mesma força em outra língua... A comparação do que é literatura na Rússia é o que é a música popular no Brasil... Estava lá no encerramento das Olimpíadas de Inverno e tinha até bloco de escritor. Púchkin seria como um Cartola, um Chico Buarque, esses caras que estão muito entranhados na cultura.

Poesia

Na Rússia, a poesia tem uma tradição ligada à oralidade muito forte. Ela é feita para ser declamada.

Tradução de "Anna Kariênina"

Para um cara da área do russo, vir uma editora como a 34 e perguntar se eu quero traduzir "Anna Kariênina", pelo amor de deus. É um privilégio enorme. Talvez seja meu livro preferido da literatura russa, se não for de todas. Tradução eu vejo como um trabalho coletivo... Na maior parte das vezes é um trabalho braçal mesmo. O trabalho mais artístico, elevado, começa quando estou com o editor já discutindo escolha, estilo. Antes disso é só carregar pedra.

Diferentes traduções de uma mesma obra

A obra original é uma só, o número de releituras que ela permite tende ao infinito. Demonstra uma riqueza do meio cultural e intelectual a existência de várias versões, até para que você não seja refém de uma única versão, com as idiossincrasias e as marcas da época que ela forçosamente vai ter.

A foto de Irineu foi feita por Nadja Kouchi.

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