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Flavia Guerra

REPORTAGEM

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Lágrimas de Ford e viagem no tempo: a estreia de 'Indiana Jones' em Cannes

Colunista do UOL

18/05/2023 20h52

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"Vi minha vida passar nesta tela", afirmou um emocionado Harrison Ford depois de ver um vídeo com os melhores momentos de sua carreira e ao receber uma Palma de Ouro no Festival de Cannes na noite desta quinta-feira, na cerimônia de premiação que abriu a sessão de pré-estreia mundial do aguardadíssimo "Indiana Jones, A Relíquia do Destino", quinto e último filme da franquia que nasceu em 1981 com "Indiana Jones - os Caçadores da Arca Perdida".

Havia um clima de festa, despedida e uma certa melancolia no ar, já que esta é a última vez que o ator de 80 anos vive o personagem que revolucionou sua carreira.

Muito emocionado, aproveitou para também lembrar a importância de sua mulher, a atriz Calista Flockhart, presente na sessão de gala para convidados que lotaram o Théatre Lumière em Cannes.

"Vi uma grande parte da minha vida, mas não toda ela. Minha vida foi possível graças a minha amada esposa", continuou ele sobre a mulher que "apoiou minha paixão e meus sonhos e sou grato por isso."

Ford também declarou seu amor pelo público e disse ao final de sua apresentação: "Eu também amo vocês". Muito justa a lembrança. Afinal, Cannes parou nesta quinta para ver Ford e a trupe do filme passarem. Na estratégia de unir o cinema de autor com os grandes sucessos do cinema comercial para atrair tanto cinéfilos mais exigentes quanto o público dos blockbusters, Cannes tem aberto espaço às franquias.

Se em 2022, Tom Cruise e "Top Gun Maverick" chacoalharam a Croisette (a avenida à beira-mar de Cannes) e o mundo com o melhor do cinemão, em 2023, foram Harrison Ford e "Indiana Jones" que trouxeram a promessa de um circuito de cinemas cheio e badalado como a cidade e a première mundial.

Gratidão e nostalgia

Pensando no público, Ford fez um agradecimento curto e lembrou que a plateia tinha justamente a missão de assistir em primeira mão ao novo, e último, filme da saga do arqueólogo mais célebre do cinema mundial. Vale lembrar que em 2008, "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" também estreou em Cannes.

E o que se viu foram mais de 2 horas e meia de pura nostalgia e um filme perfeito para os fãs de uma das maiores franquias do cinema. Nesta nova aventura, o diretor James Mangold (de "Ford vs Ferrari" e "Wolverine") apostou na fórmula que Steven Spielberg solidificou nos outros quatro filmes da franquia. Longa sequência inicial que já joga o espectador para dentro da ação, um personagem novo (no caso, Helena, vivida por Phoebe Waller-Bridge, de "Flea Bag") que surge com uma nova missão e desafio para um Indiana meio em estado de letargia e humor dosando as dezenas de cenas de ação.

A ação começa no passado, em plena Segunda Guerra Mundial e a batalha contra o nazista Jürgen Voller (Mads Mikkelsen), que está obcecado em encontrar a outra metade da Antikythera, um aparato criado por Arquimedes. A máquina não é mágica, mas é precisa como a matemática (esta, sim, capaz de, por meio da tecnologia, fazer milagres, como, por exemplo, criar fissuras no tempo e fazer com que seja possível voltar para o passado ou avançar para o futuro). Obviamente a relíquia se perde e uma quebra no tempo nos coloca nos anos 1960.

Reencontramos Jones em seu último dia de trabalho e aulas na universidade. Em plena chegada do homem à Lua em 1969 e no auge da contracultura, ele se tornou um professor de arqueologia frustrado e solitário, que não encontra diálogo com os alunos e que não tem muito mais por que e por quem viver.

A chegada de Helena, que, inspirada pelos estudos de seu pai, Basil Shaw (Tobby Jones), grande amigo e arqueólogo professor de Oxford, sobre o matemático, físico, astrônomo e inventor grego Arquimedes de Siracusa, tira Indiana da mesmice e o joga em uma missão para reencontrar a Antikythera no rio em que os dois perderam o objeto durante a Segunda Guerra.

Daí, perseguidos pelos capangas e pelo nazista Vüller, vão fazer o tour do mundo em busca de pistas e peças que montam o quebra-cabeça. O vilão quer voltar no tempo para vencer a Segunda Guerra. Helena, aparentemente, quer ganhar dinheiro com a descoberta e a comprovação dos poderes da Antikythera.

Para os fãs apaixonados da franquia, "Indiana Jones, A Relíquia do Destino" não decepciona. Ação, humor, boas sacadas de Phoebe, direção de arte e efeitos especiais impecáveis. No entanto, quem buscar mais que uma relíquia nostálgica tanto da carreira de Ford quanto da trajetória de Indiana Jones não vai encontrar.

Claramente, e isso não é necessariamente um problema, James Mangold homenageia tanto ator quanto personagem e não subverte uma franquia que sempre ganhou o jogo das bilheterias.

Para o grande público, agora é esperar até 30 de junho, quando o longa estreia nas salas de todo o mundo, trazendo ainda a trilha sonora de John Wiliams e participações luxuosas como a de Antonio Banderas.

Após tantas palmas e ovações no início da sessão, ao final houve palmas mais protocolares, de um público que reconhece a trajetória de seu astro e o valor da franquia. Foram seis minutos de aplausos, mas a certeza de que, ainda que a Disney esteja produzindo uma série Indiana Jones para a TV, jamais haverá outro Indiana como Ford.