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Flavia Guerra

REPORTAGEM

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Timidez sob aplausos e choro: a volta triunfal de Johnny Depp em Cannes

Colunista do UOL

16/05/2023 20h24

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Mais de seis minutos de aplausos ao final de "Jeanne du Barry", filme que abriu nesta terça o Festival de Cannes 2023 selaram a volta de Johnny Depp aos holofotes depois de um ano mais que conturbado, após enfrentar a ex-mulher Amber Heard em um processo traumático.

No início da apresentação os aplausos para a entrada de Depp foram protocolares — ou seja, educados, apesar de um tanto hesitantes e frios. Mas depois das quase duas horas de filme, a acolhida foi genuína na sessão de gala, que reuniu nomes como Catherine Deneuve, Chiara Mastroianni, Michael Douglas, entre outros.

Depp, sempre reservado, mostrou-se um tanto quanto tímido, compreensivelmente cauteloso diante de uma multidão que observava cada gesto seu. Ele pareceu visivelmente emocionado, com os olhos marejados, no momento da salva de palmas.

Os aplausos para a atriz francesa Maïween, que protagoniza e dirige o filme estrelado por Depp, vindos da plateia que a recebeu em casa eram naturais, mas o ator norte-americano também foi aplaudido com sinceridade pelas mais de duas mil pessoas que lotaram o Palais des Festivals, o centro nervoso do maior e mais importante festival do mundo.

"Jeanne du Barry" traz Johnny Depp no papel do rei Luís XV da França que, contrariando convenções sociais mais rigorosas para um monarca como ele, assume e dá lugar de destaque a uma de suas cortesãs depois de se tornar viúvo. Ela, no caso, foi Jeanne du Barry, cortesã com inteligência acima da média e de origem humilde que encontrou na função de amante a forma de sobreviver em uma sociedade desigual pré Revolução Francesa.

Para quem se pergunta o porquê de Maïween escalar um norte-americano para viver um rei francês, talvez a pergunta seja respondida nesta quarta, quando a equipe do filme participa de conversa com a imprensa.

Depp fala francês com desenvoltura, mas é possível apostar que não foi só isso que pesou na escolha. A trajetória que o ator trava contra a opinião pública é um ingrediente a mais para o filme de Maiween.

Ainda que os fãs na porta do Palais gritassem efusivamente seu nome, a chegada de Depp foi marcada por comentários de pé de ouvido na plateia e uma leve demora para começar a aplaudi-lo.

Mas, no geral, a França e Cannes mais uma vez compram a briga contra o senso comum. Nas palavras de Thierry Frémaux, diretor-geral do evento, preferem se interessar mais pelo "Johnny Depp ator" que pela personalidade que se envolve em polêmicas, sofre acusações de violência doméstica por parte de sua ex (que ele venceu judicialmente, aliás) e há pouco tempo foi julgado pelo tribunal tão ou mais duro que o real, o das redes sociais.

Em Cannes, Johnny Depp volta em grande estilo à vida pública e ao cinema. Ele é familiar da plateia francesa, com o fato de ter sido casado com a atriz e cantora Vanessa Paradis, com quem tem dois filhos, o que também jogou a seu favor hoje. Por isso, agora resta saber se as palmas tão longas se repetirão em todo o mundo ou se Cannes foi um paraíso particular para Depp.