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Prove um pouquinho da Suíça em New Glarus , no Wisconsin (EUA)

GUSTAVE AXELSON

New York Times Syndicate

01/01/2012 07h00

Eu e minha esposa amarramos nossas bicicletas no rack no abrigo para piquenique ao lado da trilha e descarregamos nosso almoço: landjäger (salame suíço) e linguiça mettwirst; queijo suíço e cheddar; variedades de biscoitos, incluindo pão de mel e cookies de nozes; e duas garrafas de cerveja lager gelada.


Era um piquenique suíço digno de uma campina alpina, mas nós estávamos no Meio-Oeste americano, na pequena cidade de New Glarus, Wisconsin (população: dois mil), também conhecida como ‘Pequena Suíça da América’.

Amy e eu viemos para cá, para a terra pastoral da produção de laticínios a cerca de 40 quilômetros a sudoeste de Madison, para uma escapulida com cara europeia: visitar um vilarejo do interior; caminhar e pedalar por toda parte; nos banquetearmos com pães, linguiças e queijos feitos à maneira do Velho Mundo; e beber cerveja excepcional.

Os imigrantes suíços originais vieram para Wisconsin também à procura de comida. Em meados do século 19, o distrito de Glarus, na região central da Suíça, estava sofrendo um período de fome. O governo tinha uma solução: como não podia alimentar todo mundo, ele enviaria alguns para o Novo Mundo. Em 1845, dois batedores suíços, Nicholas Duerst e Fridolin Streiff, procuraram e finalmente encontraram rica terra arável e florestas abundantes no Território de Wisconsin, onde compraram 485 hectares.

No ano seguinte, 118 imigrantes chegaram, e em uma década, New Glarus era uma próspera cidade da fronteira. A Guerra da Crimeia provocou uma alta do preço do trigo e os colonos desfrutaram de prosperidade, abundância de alimento e dinheiro suficiente para enviar US$ 1.250 de volta à Suíça em 1861, quando um incêndio destruiu a cidade de Glarus. Ondas sucessivas de habitantes de Glarus emigraram para a colônia e continuaram chegando mesmo ao longo do século 20.

Hoje, as raízes suíças ainda são profundas em New Glarus. O centro - um pequeno distrito de restaurantes suíços, lojas de comidas caseiras e lojas de presentes europeus - está repleto de construções ao estilo chalé. As ruas têm nomes como Bahnhoff Strasse and Rüti Strasse, e em uma esquina se encontra uma escultura de pedra de São Fridolino - o santo padroeiro de Glarus - um presente para a cidade dos moradores de Glarus, Suíça, em 1995.

Além do centro, há uma dose ocasional de comercialismo voltado aos turistas, como o Swissland Miniature Golf.

“Sim, é meio kitsch agora, mas é real; as pessoas aqui têm fortes raízes culturais”, disse Dan Carey, um mestre-cervejeiro que aprendeu em Munique e escolheu New Glarus quando ele e sua esposa, Deborah, procuravam um lugar para abrir uma cervejaria em 1993.

A New Glarus Brewing foi nossa primeira parada após o check-in no Chalet Landhaus, um hotel com tema suíço vintage anos 80, decorado com sinos de vaca e relógios cuco. O hotel fica bem ao lado da Sugar River State Trail, com um desvio que leva até a cervejaria no alto da colina. Após um passeio de bicicleta de dez minutos de distância, que termina em um íngreme e sinuoso acesso de veículos, nós estávamos diante de um castelo de cerveja, um complexo enorme com telhados pontudos, uma torre de tijolos e uma fonte.

Canecos de cerveja lotavam as prateleiras na loja de presentes, mas a New Glarus Brewing não faz cópias de cervejas alemãs. “Eu comecei fazendo cervejas alemãs”, disse Carey, “Mas por que deveria fazer uma pilsner tradicional quando já existe a Spaten?”

Em vez disso, ele desenvolveu seu próprio estilo, criando a cerveja Spotted Cow -uma “farmhouse ale” (cerveja camponesa) com um resíduo de levedo em cada garrafa - que se tornou a mais vendida da cervejaria.

Turistas de cerveja da Virgínia, Taxas e Nova Jersey fazem fila no balcão da loja de presentes para comprar uma rodada de três amostras de degustação. Minha esposa e eu provamos uma cerveja Belgian Red (frutuosa e espumante) e uma Golden Ale (uma pale ale belga híbrida) e passeamos ao lado de enormes caldeiras de cobre reluzentes, tanques de fermentação com dois andares de altura e redes complexas de canos de aço brilhantes. A sensação era um pouco de termos entrado na fábrica de cerveja de Willy Wonka.

Depois nós pegamos duas lagers Two Women (uma lager turva) para desfrutar no terraço do beer garden, com vista para a cidade. Abaixo, os carrilhões na centenária Schweizerisch Reformierte Kircherang tocavam “America the Beautiful” enquanto o sol do fim de tarde descia mais próximo dos pastos de vacas que se estendiam no horizonte.

Na manhã seguinte, eu caminhei duas quadras até o centro para pegar os ingredientes de nosso piquenique. Convenientemente, uma loja de queijos, uma loja de linguiças e uma padaria são todas vizinhas uma da outra.

Na Maple Leaf Cheese and Chocolate Haus, eu me vi diante de mais de 100 queijos artesanais, quase todos feitos por produtores de queijo locais. Green County, onde New Glarus fica localizada, alega ter a maior concentração de produtores de queijo do país. De fato, foi o queijo que salvou New Glarus nos anos 1860, quando ocorreu o colapso do mercado de trigo.

Um homem chamado Nicholas Gerber (que cultivava uma longa barba escura e, apropriadamente, montava um cavalo branco) teve uma ideia para os agricultores suíços, muitos dos quais possuíam algumas poucas vacas leiteiras. Gerber lhes disse para contratarem um produtor de queijo e formar uma cooperativa, para a qual todos entregariam seu leite. O queijo era um bem relativamente durável que poderia ser enviado para os mercados no Leste. Em 1868, Gerber abriu uma fábrica de queijo Limburger. Em 1880, várias fábricas de queijo estavam em atividade, produzindo 341 mil quilos de queijo - quase tudo Limburger, mas também um pouco de queijo suíço.

  • Narayan Mahon/The New York Times

    O New Glarus Hotel, em Wisconsin, foi o primeiro hotel da cidade, construído em 1853, mas hoje é um restaurante que serve pratos suíços


O segredo da superioridade do queijo nesta região, naquela época como agora, é o alto conteúdo de gordura no leite produzido pelas vacas suíças, que foram originalmente importadas da Suíça. Na loja de queijo, provei as variedades Braun Swisse Käse de cheddar envelhecido e suíço envelhecido (vencedores do primeiro e terceiro lugar, respectivamente, na Sociedade Americana de Queijo) e notei imediatamente o quanto permaneceram cremosos, apesar do processo de envelhecimento. Parti com peças de ambos, mais um pedaço de butter käse, um queijo amanteigado suave.

Em seguida tive uma aula sobre linguiças suíças no Ruef’s Meat Market com Bill Ruef, um açougueiro apropriadamente grande e aparência bruta. Ruef aprendeu a fazer kalberwurst (vitela), schublig (carne bovina e de porco) e cervelas (idem) com seu pai, que veio da Suíça e comprou a loja em 1966. Eu saí de lá com duas variedades favoritas para piquenique - uma linguiça de carne de porco e bovina chamada mettwurst e três pares de landjäger, uma linguiça seca de carne curada e com a suculência do salame.

Finalmente, eu entrei na New Glarus Bakery para duas baguetes frescas (incluindo pão de centeio com chucrute) e um saco de biscoitos suíços: pão de mel pfeffernusse com cravo-da-índia e gengibre e biscoito de anis springerle.

Com a cesta de piquenique cheia, pedalamos pela Sugar River State Trail uns três quilômetros ao sul da cidade, chegando à Badger State Trail para seguir na direção norte, até uma mata de nogueiras e carvalhos. Essas trilhas são velhos leitos ferroviários, de modo que são nivelados. Seguíamos na direção de um vestígio dos tempos da ferrovia, um túnel de pedra, escuro como a noite em seu interior. Estávamos na metade dele, seguindo com a luz do farol da minha bicicleta, quando minha esposa avistou algo. Algo listrado. “Gambá!” ela gritou. Nós voltamos e decidimos almoçar mais cedo, no abrigo para piquenique pelo qual passamos minutos antes.

De volta a New Glarus, nós entramos na Puempel’s Olde Tavern no meio da tarde, com algumas horas para matar antes do jantar. Puempel’s, que data de 1893, era escura como o túnel da ferrovia. À medida que minha visão se ajustava, murais amarelados apareceram na parede - retratos da história da terra natal, como a prisão do patriota tirolês Andreas Hofer pelos soldados de Napoleão, pintados há quase 100 anos por um artista itinerante.

Em uma mesa de madeira com um aviso dizendo Stamm Tisch (mesa principal) estavam sentados três velhos jogando cartas. “Kom hit!” (Venha cá!) gritou um, um sujeito grande, estufado em sua camisa como uma linguiça. O trio notou que tinha espectadores e puxou duas cadeiras.

Eles estavam jogando Jass, o jogo de cartas nacional da Suíça. “Jogo Jass aqui desde 1948”, disse Herman Pfund, um senhor magro de 93 anos usando suspensórios vermelhos. Todos os três velhos aprenderam o jogo com seus pais, que aprenderam com os pais deles. Nós assistimos algumas poucas mãos e então eles nos colocaram no jogo. Apenas 36 cartas são usadas, do seis ao ás. Eu perguntei o motivo para Pfund, e ele respondeu com um sorriso seco: “Porque os suíços não jogam com o maço todo”.

Com minha segunda cerveja, meus novos amigos me encorajaram a provar o prato local favorito para acompanhar jogos de cartas - um sanduíche de braunschweiger e Limburger com cebolas cruas em pão de centeio. O fígado e a cebola quebravam o sabor forte do Limburger, me permitindo desfrutar de suas qualidades como um queijo notavelmente suave e cremoso.

Da mesma forma, nossa tarde não planejada no Puempel’s nos proporcionou o verdadeiro sabor suíço desta cidade. Há um pouco de kitsch, é claro. E as caminhadas ao entardecer, além do raio de duas quadras do centro, nos levavam de volta à América rural. Mas há algo especial, algo duradouro, a respeito de New Glarus. Como jogos de cartas e receitas de linguiça ensinados pelos pais suíços. Cento e sessenta e três anos depois, o orgulho dos moradores de Glarus ainda é forte.

  • Narayan Mahon/The New York Times

    Degustação de produtos na área externa do New Glarus Brewing, em Wisconsin


Para chegar lá

De Madison, tome a US 151 no sentido sul até a Winsonsin 69 no sentido sul, então siga em frente até New Glarus (aproximadamente 45 quilômetros no total).

Eventos

New Glarus realiza vários eventos que celebram a herança suíça da cidade, como a Oktoberfest, ao som de polca e rock e com uma tenda de cerveja servindo as variedades produzidas ali. Informação sobre todos os eventos pode ser encontrada em swisstown.com.

Onde comer

O New Glarus Hotel (100 Sixth Avenue; 608-527-5244; newglarushotel.com) foi o primeiro hotel da cidade, construído em 1853, mas hoje é um restaurante que serve pratos suíços. Uma cervejaria com palco recebe apresentações de música nos fins de semana, frequentemente bandas de polca. Jantar para dois sai por cerca de US$ 50.

Glarner Stube (518 First Street; 608-527-2216; glarnerstube.com) serve os melhores pratos suíços na cidade em um salão de jantar centenário. O kalberwurst (do Ruef’s Meat Market) é delicioso, servido tostado em manteiga e coberto com um molho de creme de cebola. Comece pelo fondue tradicional e, para beber, peça um dos oito chopes de New Glarus. Um jantar suíço tradicional para dois, com fondue como entrada e acompanhamentos, custa aproximadamente US$ 75.

A Puempel’s Olde Tavern (18 Sixth Avenue; 608-527-2045; puempels.com) serve pratos de queijo e sanduíches básicos de uma pequena mesa de cozinha ao lado do bar. Se tiver coragem, peça o favorito local - braunschweiger e queijo Limburger com cebolas cruas em um pão de centeio por US$ 5.